Na segunda-feira 18 o presidente Jair Bolsonaro promoveu uma reunião com embaixadores de países estrangeiros para levantar suspeitas infundadas contra as urnas eletrônicas. Procurou dar uma dimensão internacional a um grotesco e falso discurso. Não demorou muito para que o descalabro se revelasse um verdadeiro tiro no pé.
O arroubo golpista do chefe da extrema direita brasileira escandalizou o mundo e despertou a consciência democrática na sociedade e uma onda de protestos em todo o território nacional. Até mesmo o próprio partido que cedeu a legenda ao presidente para abrigar sua candidatura à reeleição veio a público para desautorizá-lo e manifestar confiança no TSE e no sistema eleitoral.
A resposta em certa medida espontânea da sociedade parece caminhar na direção da formação de uma ampla frente política e social contra a ameaça golpista e em defesa da democracia, o que vem ao encontro do objetivo da CTB e outras entidades e organizações sociais e políticas brasileiras.
Destaca-se neste sentido a iniciativa da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) de lançar a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, um manifesto contra as recorrentes ameaças golpistas provenientes do Palácio do Planalto que até o final da tarde desta sexta-feira (29) já contava com mais de 467 mil assinaturas.
O professor Celso Campilongo, diretor da instituição, tinha a expectativa de 200 ou 300 assinaturas na largada, mas a adesão foi bem maior e não surpreende apenas pelo número de entidades e indivíduos que subscreveram o documento mas também pela representatividade e amplitude.
Pesos-pesados do meio empresarial, incluindo entidades como Fiesp e Fenaban, assinam a carta, ao lado de sindicalistas, líderes dos movimentos sociais, jornalistas, escritores, artistas e políticos. A reação do Clã Bolsonaro e da extrema direita foi tentar obstruir o site da Faculdade com ataques de hackers. Foram contabilizadas mais de 2,4 mil tentativas de derrubar o portal até a manhã desta sexta-feira (29).
Registre-se que os Estados Unidos voltaram a reiterar que não vão apoiar uma aventura golpista de Jair Bolsonaro. O fato tem relevância na medida em que Washington é o fiador em última instância dos golpes de Estado em nosso país, como em toda a América Latina. Sem as benções da Casa Branca não haveria golpe em 1964, nem em 2016.
Datafolha reitera vitória de Lula no 1º turno
Outra notícia que certamente contribuiu para azedar o humor do presidente e seu entorno neste final de semana veio com a última pesquisa Datafolha, divulgada quinta-feira (28). Ela reitera que Lula, com 47% contra 29% de Bolsonaro, pode ganhar o pleito já no primeiro turno.
Realizado nos dias 27 e 28 de julho em 183 cidades brasileiras, com 2.556 pessoas, o levantamento já contabiliza parcialmente os efeitos do falso e efêmero pacote de bondades anunciado pelo governo, incluindo a queda no preço da gasolina. Vê-se que ainda não foi o suficiente para levar a eleição para o segundo turno, mas só na próxima rodada da pesquisa Datafolha será possível avaliar os impactos da PEC Eleitoral.
Umberto Martins
