Conforme assinalou o filósofo alemão Friederich Engels “todas as lutas históricas, quer se desenvolvam no terreno político, no religioso, no filosófico ou noutro terreno ideológico qualquer, não são, na realidade, mais do que a expressão mais ou menos clara de lutas de classes sociais”. Esta substância que dá cor e vida às batalhas políticas nem sempre aparece sobre a superfície dos fatos e geralmente é obscurecida nas representações ideológicas. Mas em conjunturas de polarização política e social, como a que presenciamos atualmente, os interesses e o comportamento das classes sociais, bem como as contradições a elas subjacentes, se manifestam com mais agressividade e se tornam aparentes.
É o que se deduz da conduta do patronato bolsonarista neste segundo turno. O Ministério Público do Trabalho recebeu mais de 200 denúncias de assédio eleitoral nas empresas durante a campanha deste segundo turno até quinta-feira (13). São crimes – crimes comuns e crimes eleitorais, conforme notou o presidente do TSE, Alexandre Moraes – em que o patrão coage o empregado a votar em Jair Bolsonaro, ameaçando de demissão quem deseja votar em Lula.
É uma versão do chamado voto de cabresto, da época do coronelismo, adaptada ao século 21. As pesquisas indicam uma forte preferência por Lula no seio da classe trabalhadora brasileira, especialmente entre os que têm renda familiar mensal até dois salários mínimos, onde o líder petista conta com 60% das intenções de voto contra 31% do chefe do neofascismo brasileiro, segundo a última pesquisa Ipespe. Jair Bolsonaro, por seu turno, ganha com folga na classe dos capitalistas e na alta classe média.
De acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada sexta-feira (14), Lula cresceu de 54% para 58% dos votos entre quem ganha até dois salários em relação à última pesquisa. Nesse grupo, apesar de todos os esforços e medidas eleitoreiras, Bolsonaro caiu de 37% para 36% no período de uma semana.
Já entre os eleitores que ganham mais de 10 salários, Bolsonaro subiu de 43% para 53% dos votos, crescimento significativo de dez pontos. Ao mesmo tempo, Lula caiu de 52% para 39% nesse eleitorado, onde também encontramos o ninho majoritário dos fascistas brasileiros.
Conforme notou o economista Eduardo Moreira, a leitura das pesquisas sugere que está em curso uma “luta de classes escancarada“.
Seja por consciência ou instinto de classe os trabalhadores e, principalmente, as trabalhadoras brasileiras revelam ampla preferência por Lula. É uma sábia opção que pode e deve moldar o resultado do segundo turno.
O patronato bolsonarista teme a eleição de Lula porque o líder petista está comprometido com a defesa da Pauta da Classe Trabalhadora, elaborada pelas centrais sindicais, e promete resgatar a política de valorização do salário mínimo, rever a reforma trabalhista, garantir direitos para quem trabalha nas plataformas, isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil, proteger e fortalecer as empresas públicas, valorizar os serviços públicos, os servidores, aposentados, pensionistas e promover uma política econômica orientada para o desenvolvimento nacional com melhor distribuição da renda e a redução substancial do desemprego.
Jair Bolsonaro, por seu turno, tem a preferência do patronato porque promete acabar com os direitos trabalhistas e arrochar os salários. Seu governo acabou com a política de valorização do salário mínimo, que desde 2019 acumula uma queda de 4%.
São dois projetos antagônicos para o povo trabalhador que estão em jogo neste segundo turno. O líder da extrema direita procura virar o jogo apelando à demagogia, aos fake news, ao fanatismo religioso e à manipulação do dinheiro público, aparelhando a máquina governamental para servir aos seus propósitos eleitorais. Mas a campanha eleitoral, acirrada, também favorece a elevação da consciência de classe na população mais pobre.