A ditadura pouco sutil da burguesia imperialista nos EUA

Quando Lula afirmou que o conceito de democracia é relativo ouviu-se um forte borburinho reacionário proveniente da mídia burguesa. Mas, o presidente brasileiro está coberto de razão. Tem toda razão também o corajoso papa Francisco quando disse que “o capitalismo é uma ditadura sutil“.

Sob o capitalismo, o sistema democrático é democrático apenas na forma, não na substância, no conteúdo real. A democracia é definida como um regime do povo para o povo, mas o que se vê no cotidiano das democracias burguesas é o exercício de uma ditadura em que prevalecem não os interesses e a vontade do povo, mas sim de uma minoria formada por grandes capitalistas, uma oligarquia burguesa que constitui a classe dominante do sistema.

Metamorfose

Em contraposição à retórica usada pelos imperialistas, esta verdade transparece nos fatos que conformam as formidáveis manifestações estudantis nos Estados Unidos contra o genocídio patrocinado pelos sionistas na Faixa de Gaza com a cumplicidade e o financiamento da Casa Branca.

Dezenas de campus universitários nos EUA foram ocupados nos protestos em defesa dos palestinos que estão sendo massacrados pelo Estado terrorista de Israel, que já matou mais de 34 mil, sendo cerca de 70% crianças e mulheres inocentes, desarmadas e indefesas.

A resposta do Estado autoproclamado “democrático” dos EUA ao movimento estudantil é uma brutal repressão, pela qual a democracia burguesa sofre uma visível metamorfose, transformando-se numa ditadura contra os que se opõem aos interesses da classe dominante, uma ditadura que no caso é muito pouco sutil.

Estima-se que até o momento “ao menos 1.900 manifestantes foram presos em campus de universidades desde 18 de abril. Segundo informações do New York Times até às 13h30 (horário de Brasília) desta 5ª feira (2), policiais atuaram em 42 instituições de ensino superior onde estudantes realizam atos pró-Palestina“.

Senhores da guerra

Apesar da máquina de desinformação manipulada pelos senhores da guerra em Washington, não restam dúvidas de que os estudantes representam o sentimento majoritário do povo estadunidense, até porque este não tem nada a ganhar, mas muito a perder, com a guerra.

De outro lado, os oligarcas que controlam o poderoso complexo industrial-militar norte-americano é quem estão lucrando horrores com a morte não só na Faixa de Gaza, como também na Ucrânia, onde os EUA travam uma guerra por procuração contra a Rússia, armando e financiando o regime neonazista de Zelensky.

Somente no ano passado os gastos dos EUA com a guerra ultrapassaram US$ 900 bilhões, reiterando a liderança daquele país imperialista na sinistra corrida armamentista mundial.

Os recursos para bancar esses lucros obscenos são subtraídos do orçamento público, em detrimento das verbas destinadas à saúde e ao bem estar social dos estadunidenses. Constituem parte substancial do colossal déficit público do país, que subiu a US$ 1,695 trilhão no ano fiscal de 2023, equivalendo a 8,8% do PIB, um desequilíbrio que perturba a economia mundial ao mesmo tempo que reflete o parasitismo e a decadência da ordem imperialista global hegemonizada por Tio Sam.

Dividendos da morte

Os fatos mostram que o que prevalece por lá não é “o governo do povo para o povo”, é a ditadura da burguesia imperialista (que colhe dividendos bilionários com a industrialização da morte) sobre a maioria do povo, que acaba pagando o pato.

Foi o que notou o jornalista Jânio de Freitas, ao comentar a violência da polícia contra os estudantes no dia 1º de Maio na universidade de Columbia.

“O que aconteceu em Columbia é a prova de como a humanidade, realmente, não tem nem como manifestar sua opinião quando se trata de um interesse de poder maior, como é o interesse dos Estados Unidos em auxiliar, alimentar a extrema-direita israelense. Se fosse uma manifestação pró-Netanyahu, pró-exército Israelense, não teria nada”, comentou.

Reivindicações dos estudantes

Indignados com o genocídio, os estudantes exigem que as suas universidades — que recebem milhões de dólares em doações por ano — desfaçam seus laços financeiros com Israel, que o governo Biden deixe de financiar Israel e que seja imposto um cessar fogo imediatamente, conforme preconiza resolução aprovada recentemente pelo Conselho de Segurança da ONU, com abstenção dos EUA.

Os protestos começaram no início de abril. Enquanto a presidente da Columbia, Minouche Shafik, testemunhava perante o Congresso sobre o antissemitismo no campus, centenas de estudantes armaram tendas no campus, na cidade de Nova York.

As prisões em massa no dia seguinte não intimidaram os jovens, que desencadearam ações em dezenas de outras faculdades nos EUA.

As aulas presenciais em Columbia foram canceladas.

Paralelos com a guerra do Vietnã

O uso e abuso da truculência e violência policial não é propriamente uma novidade nos EUA.

O massacre de operários que deu origem ao 1º de Maio, em 1886, a perseguição, repressão e assassinato de líderes do movimento negro em luta por direitos civis nas décadas de 1960 e 1970, assim como aos jovens que protestaram contra a guerra do Vietnã.

Em 1970, quatro estudantes em Ohio foram mortos, quando a Guarda Nacional abriu fogo contra manifestantes que pediam o fim da guerra no Vietnã, acontecimento que guarda um óbvio paralelo com os protestos atuais.

As mortes desencadearam uma greve estudantil em todo o país e centenas de universidades foram fechadas.

“Os estudantes estão agora protestando contra Gaza como fizeram aqueles que protestaram contra a guerra no Vietnã”, diz Ananya Roy, diretora fundadora do Instituto Luskin sobre Desigualdade e Democracia da Universidade da Califórnia em Los Angeles e professora de Planejamento Urbano, Bem-Estar Social e Geografia.

A força dos protestos daquele período — junto com o enorme custo da guerra — foi um dos fatores que ajudam a explicar a derrota dos Estados Unidos no conflito, apesar da sua esmagadora superioridade militar.

Gratidão e solidariedade de palestinos e iranianos 

Reprimida e condenada pelo governo e a classe dominante dos EUA, os protestos estudantis foram recebidos em Gaza com gratidão, esperança e entusiasmo pelos palestinos.

Nadia Al-Dibs, uma mãe que os filhos seguravam cartazes atrás dela em Deir al-Balah, disse à CNN que se sentia grata aos “corajosos estudantes” das universidades americanas pela sua solidariedade com Gaza e por apelarem a um cessar-fogo.

“As populações árabes não se importaram conosco, enquanto os estudantes das universidades americanas se solidarizaram, sentiram o sangue que escorre de nós, nossos edifícios que foram atingidos e nossos filhos cujas vidas foram destruídas… agradeço mil vezes a eles”, disse ela.

Já no Irã, a universidade de Shiraz, na província iraniana de Fars, ofereceu bolsas de estudo a estudantes de universidades dos EUA e da Europa que forem expulsos devido aos protestos contra o genocídio que ainda está em curso na Faixa de Gaza.

Foto: SPENCER-PLATT-GETTY-IMAGES

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