O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, repudiou “veementemente” a fala xenofóba do vereador de Caxias do Sul Sandro Fantinel. Em discurso no plenário da Câmara Municipal da cidade gaúcha, nesta terça-feira (28), o político bolsonarista defendeu vinícolas de Bento Gonçalves das denúncias de trabalho análogo ao de escravos em suas fazendas.
Ao considerar “exagerado e midiático” o resgate de 207 pessoas de alojamentos inadequados, a maioria procedente da Bahia, ele “aconselhou” os empresários da região a substituirem “aquela gente lá de cima” por argentinos, que, segundo ele, seriam “limpos, trabalhadores e corretos”.
O discurso rendeu a expulsão de Fantinel do Patriotas, pedidos de perda de mandato, notas oficiais de repúdio de diversos órgãos e instituições e a abertura de uma investigação civil e criminal pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS).
“Nós repudiamos veementemente o ato criminoso desse vereador. Apoiamos todas as medidas que têm sido tomadas pelas autoridades, mas não basta ele ser expulso do partido ou perder o mandato. Esse senhor tem que responder criminalmente por racismo e ser punido exemplarmente”, cobrou Adilson, que considera o episódio como fruto de uma “degradação social”.
Em entrevista ao G1, o governador gaúcho Eduardo Leite revelou que Fantinel, além do processo criminal, será alvo de uma ação por dano moral coletivo e “arcará com as consequências por uma fala absurda, abjeta, nojenta e que terá as devidas consequências no âmbito judicial”.
Para a secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da CTB, Lucimara Cruz, diante do quadro, há necessidade “urgente” de ações mais abrangentes, pois o fato vai além do trabalho correlato à escravidão. “Apesar de ter relação direta com a questão racial, abrange outras formas de opressão, como a de gênero, a xenofobia, o tráfico de pessoas e o uso de trabalho infantil. O vereador minimizou o crime de trabalho análogo à escravidão, que também envolve outras coisas, como casos de tráfico de pessoas e tráfico sexual, porque é o que acontece. As pessoas recebem ofertas mirabolantes, são enganadas e caem na situação de escravidão, de serem prissioneiros de tráfico sexual ou qualquer outro trabalho forçado”, enumerou. “A atitude desse vereador é criminosa, pois se trata de um caso de discriminação e preconceito contra os nordestinos. Um racismo embutido, pois ele ofende os baianos de uma forma bem nítida, ao dizer que eles gostam só de tocar tambor e ficar na praia”, completou a secretária adjunta Raimunda Leone.
Os trabalhadores resgatados na serra gaúcha foram contratados pela Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, que oferecia a mão de obra para as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi, Salton e produtores rurais da região. Eles relatam terem sido vítimas de extorsão, ameaças, agressões e torturas com choques elétricos e spray de pimenta.
Em nota, o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves defendeu as vinícolas filiadas, as chamou de “inocentes” e atribuiu a responsabilidade aos programas sociais oferecidos pelo governo federal. “Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade”, disse o CIC-BG.
Para Lucimara Cruz, o posicionamento da CIC-BG é condenável, pois criminaliza a pobreza e responsabiliza os explorados pela sua condição. “O papel dos programas sociais é comprovado. Já tirou o Brasil do mapa da fome. Ofereceu oportunidade a centenas de milhares de brasileiros concluírem cursos superiores e se inserirem no mercado de trabalho, em outra situação, com trabalho digno”, finalizou a secretária da CTB.