Um depoimento sofrível, temperado por mentiras e flagrantes contradições

O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, recebeu do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), o privilégio de ficar calado e a garantia de que não receberia ordem de prisão durante seu depoimento à CPI da covid no Senado.

Resolveu responder as perguntas, mas interpretou a decisão do ministro do STF como um salvo conduto para faltar com a verdade e tergiversar à vontade, o que revoltou integrantes da CPI, a começar pelo presidente, vice e relator. O Senado foi palco para um show de cinismo, demagogia e arrogância.

Mentiras

O general defendeu com unhas e dentes o presidente Jair Bolsonaro e chegou a afirmar de cara limpa que o chefe do Palácio do Planalto nunca desautorizou e nem interferiu em suas decisões sobre política sanitária à frente do Ministério da Saúde.

A mentira é flagrante. Os senadores reproduziram vídeos e áudios em que Bolsonaro desautoriza um protocolo de compra de 46 milhões de doses da Coronavoc, afirmando que quem manda é ele, que não abre mão da autoridade e não quer saber de comprar a vacina da China, que menosprezou e chamou de “vachina”. O fato foi fartamente relembrado em programas de TV e nas redes sociais nesta quarta-feira.

Ele também mentiu descaradamente em relação à crise na Amazonas, afirmando que a crise de oxigênio no estado durou apenas três dias, o que despertou uma forte indignação no senador Eduardo Braga (MDB/AM). “Presidente, é preciso dizer ao povo brasileiro, sob pena de nós estarmos aqui sendo coniventes com uma informação errada, desculpe a expressão, mentirosa. Não faltou oxigênio apenas três dias no Amazonas”, afirmou ele.

De acordo com Braga, a falta do insumo hospitalar durou 20 dias, período no qual a média de mortes no estado foi de 200 pessoas por dia. O relator da CPI, Renan Calheiros, sugeriu a contratação de uma empresa para identificar online as mentiras que estão recheando alguns depoimentos, de forma a inibi-las e assessorar as investigações da comissão.

Pazuello também contradisse depoimento do presidente da Pfizer no Brasil que revelou à CPI da covid detalhes sobre o comportamento deplorável do governo Bolsonaro na negociação da vacina com o laboratório. Mentiu em relação à cloroquina e ao oxigênio doado pela Venezuela a Manaus, que continuou atribuindo à empresa White Martins .

O depoimento sofrível e mentiroso do ex-ministro não foi conclusivo. O presidente da CPI da covid, Osmar Oziz, visivelmente contrariado, suspendeu mas não encerrou o interrogatório, que deve ser retomado às 9 horas desta quinta-feira (20).

Umberto Martins