Mulheres protestam contra a violência de gênero e pedem justiça (Foto da Reuters)
Ganhou repercussão internacional a selvageria, pela qual 33 homens estupraram uma adolescente no Rio de Janeiro e, desde então, intenso debate tomou conta das redes sociais.
Imediatamente milhares de mulheres tomaram as ruas do país para gritar basta de violência de gênero e o primeiro grito que ecoou foi o fora Temer, porque o governo golpista arregimenta machistas, fundamentalistas e defensores da cultura do estupro.
A solidariedade de internautas trouxe à tona um importante e necessário debate sobre a cultura do estupro predominante na sociedade brasileira.
“O Estado tem obrigação de promover um amplo debate que envolva não somente a comunidade escolar, mas toda a sociedade para discutir a questão da cultura do estupro para que assim a civilização brasileira evolua para um ambiente de solidariedade e respeito”, diz Isis Tavares, presidenta da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil no Amazonas (CTB-AM).
A também diretora de Relações de Gênero da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) falou com exclusividade ao Portal CTB sobre o papel da educação no combate à opressão, ao machismo e à violência.
Viraliza na internet a campanha Eu Luto pelo Fim da Cultura do Estupro (Foto da internet)
Isis afirma que a escola tem um papel fundamental no debate dessa questão, mas para isso as discussões das questões de gênero devem permear toda a educação brasileira.
“A escola precisar dialogar com as crianças, respeitando as faixas etárias, para mostrar a diferença entre carinho e carícias, porque as crianças não sabem diferenciar uma coisa de outra”.
De acordo com ela, “educadores e educadoras necessitam de preparação adequada para lidar com o assunto e saber onde buscar ajuda”.
Principalmente, diz, “as secretarias de educação dos municípios e estados devem preparar quem trabalha com educação porque a violência contra as meninas é muito intensa no país”.
É preciso acabar com a cultura do estupro
Letícia Sabatella gravou um vídeo sobre o assunto. “Precisamos falar sobre violência, sobre machismo, sobre cultura do estupro”, afirma a atriz após mencionar o fato ocorrido no Rio. Ela reforça a argumentação contra a ideia de que lugar de mulher é somente em casa.
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Assista o vídeo com Letícia Sabatella
“Ela pode estar dentro de casa, na escola, na rua, numa boate. Ela pode estar usando uma roupa de criança. Uma roupa de mãe de santo, uma roupa de estudante, uma roupa de prostituta, uma roupa de festa”, não importa, “ela corre esse risco por ser mulher”, acentua.
Já o antropólogo Ritxar Bacete acredita que para se construir um mundo igualitário, os homens devem “questionar o modelo tradicional de masculinidade” e “renunciar aos privilégios que recebem do sistema patriarcal”, além de “se comprometer, junto com as mulheres, de maneira ativa, na realização de um mundo melhor para todas as pessoas, que permita melhorar as possibilidades do desenvolvimento humano”.
Quem é o estuprador?
Protesto no Rio de Janeiro denuncia a barbárie contra a adolescente (Foto da Agência Brasil)
Enquanto a doutoranda em psicologia na Universidade de Kent, Inglaterra, Arielle Scarpati afirma que a literatura sobre o tema mostra que a maioria dos estupradores são “homens normais”. Ela desmitifica essa ideia de um “monstro estuprador”.
“A gente tem essa noção de que o estuprador é um monstro, um psicopata. Mas na verdade esses homens são o que chamamos de normais, em geral tidos como pessoas boas, salvo raras exceções. Isso sempre me chamou muito a atenção”, diz.
Para ela, a cultura do estupro é tão forte no Brasil que até as vítimas têm dificuldade de reconhecer a violência. “É comum que as pessoas não entendam como violência sexual uma situação de estupro dentro do casamento, por exemplo”.
“Mas o que caracteriza o estupro é ausência de consentimento. Se a mulher está com o marido e diz não, mas ele força e o sexo acontece, isso é estupro”, reforça. E também diz que “não interessa se os dois foram para o motel, se estavam pelados. Se a mulher diz: ‘não, para’. E o homem continua, isso é estupro. Mas muitos não acreditam”.
Além de tudo isso, diz Arielle, “a vítima é submetida a outra forma de violência: é desacreditada durante todo o processo. Para fechar com chave de ouro, o agressor é absolvido”. Será mera coincidência a semelhança com os fatos?
Assista vídeo com apoio de internautas ás vítimas de estupro
Governo golpista reforça cultura do estupro
Sem mulheres no primeiro escalão, o governo golpista de Michel Temer traz uma situação muito grave, segundo Isis, a institucionalização da cultura do estupro no país. Isso porque quando “um ator réu confesso de ter estuprado uma mãe de santo é recebido no Ministério da Educação ou quando um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) liberta um médico notório estuprador, isso significa dar respaldo a essa violência inqualificável”.
Ela acredita que o golpe está tentando se consolidar para “matar dois coelhos numa cajadada só”. Querem, acentua, “barrar os avanços sociais dos últimos 13 anos”, mas também “não suportam uma mulher mandatária do país”.
A educadora amazonense acredita que essa violência está acontecendo com tanta contundência porque “as mulheres saíram do ambiente doméstico e estão nas ruas lutando por seus direitos”.
“Diversas políticas públicas vêm trazendo cada vez mais empoderamento da mulher e o patriarcado não quer abrir mão de seus privilégios. Querem somente as mulheres bem recatadas e apenas no ambiente privado”, finaliza.
Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy