Lúcia Stumpf: Assembleia de 31 de maio definirá projeto dos movimentos sociais para o Brasil

Em linhas gerais, quais são suas expectativas para a Assembleia Nacional dos Movimentos Sociais do dia 31 de maio?
A ideia é reunir três mil pessoas, vindas de todos os estados do país. Essa Assembleia vem sendo construída desde janeiro deste ano — iniciamos essa mobilização nos Fóruns Sociais Mundiais, que aconteceram em Porto Alegre e Salvador. Desde lá realizamos assembleias preparatórias, baseadas na primeira versão do documento (clique aqui para ler), que passou a circular pelo país. No total, 15 plenárias estaduais já o discutiram, com modificações e propostas de alterações. Agora, no dia 31, esperamos concluir esse debate, com a aprovação de um projeto, mas não só isso: também queremos estabelecer uma agenda comum dos movimentos sociais, de mobilizações e pressão, para que essas reivindicações colocadas no papel de fato sejam atendidas pelo próximo governo.

Como vem sendo articulada a participação dos movimentos sociais na Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, em 1º de junho?
Nós havíamos marcado nossa Assembleia inicialmente para o dia 29 de maio, antes mesmo da confirmação da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora. No momento em que o Fórum das Centrais confirmou a Conclat, a CMS toma então a decisão de adiar por dois dias sua Assembleia para poder se aproximar da Conclat, entendendo que ambas são iniciativas muito semelhantes, que têm essa mesma ideia de somar a força dos movimentos sociais pelas conquistas de mais direitos para o povo e de um país mais soberano e desenvolvido.

Três das cinco centrais sindicais que organizam a Conclat (CTB, CUT e CGTB) fazem parte da CMS e também estarão presentes na nossa Assembleia. E também estamos fazendo um grande esforço no sentido de que os três mil participantes da nossa Assembleia possam ficar na cidade para o 1º de junho, pois a gente não tem dúvida de que será um evento muito mais amplo do que algo apenas dos trabalhadores sindicalizados, mas sim um fórum que pretende aprovar algo para o conjunto dos trabalhadores brasileiros. Acho que dessa unidade será possível nascer muitas manifestações conjuntas.

Você falou que já ocorreram 15 plenárias estaduais para a Assembleia. Como tem sido feito esse processo?
A principal meta dos estados é que se debata esse documento tirado dos Fóruns Sociais Mundiais, propondo, em cima dele, alterações e supressões que serão analisadas no dia 31 de maio. Não existe eleição de delegados para a Assembleia — ela é livre e aberta, nem tem pré-inscrição, quem quiser participar está convidado. Essas plenárias, portanto, estão servindo para que tenhamos um documento ainda mais completo. Elas aconteceram onde nós já temos a organização da CMS mais enraizada e pretendemos que outras cinco ainda aconteçam até o dia 31.

O documento que será finalizado em 31 de maio terá que formato, pelo que tem se discutido? Será algo mais amplo do que o de janeiro?
Será um documento que se propõe a ser um Projeto Nacional e Popular dos Movimentos Sociais. Será um documento com propostas bem objetivas para serem implementadas pelo próximo governo. Ele já foi aprovado nos dois Fóruns Sociais Mundiais e as plenárias estaduais estão fazendo novos acréscimos. Nós iremos finalizá-lo no dia 31, com uma estrutura bem parecida com o de janeiro. E esse projeto deve servir para construirmos as grandes pautas unitárias com as outras iniciativas que o movimento social tem hoje no país. A ideia é somar forças e fazer com que todas essas iniciativas se congreguem em agendas unitárias de mobilização, em grandes passeatas comuns e capazes de interferir no processo eleitoral.

Essa interferência no processo eleitoral vai se traduzir em algum momento em apoio a algum candidato ou a CMS se manterá neutra?
Uma grande parte das entidades que compõem a CMS, como a UNE e a Conam, pretende não apoiar nenhuma candidatura oficialmente, por sua amplitude. Para respeitar essas entidades, a CMS não vai tomar partido no processo eleitoral. Mas isso não significa que não temos lado nesse processo, pois o que consta nesse Projeto Nacional e Popular é um projeto de Brasil muito específico — e nós sabemos as diferenças dos projetos apresentados pelos candidatos.

A CMS tem clareza e fala em seus documentos que rejeita a volta dos tucanos ao poder, rejeita a volta do neoliberalismo ao país e se posiciona desde já contrária à volta do PSDB ao governo federal.  O que a CMS vai propor a partir dessa Assembleia é a constituição de Poderes Populares de campanha, iniciativas do próprio movimento social, que se organizem não em torno de candidaturas, mas que sejam organizações nas quais o povo se encontre e tenha uma atuação baseada no projeto que será aprovado no dia 31.

A Assembleia do dia 31 contará com a participação de entidades de outros países? Como tem sido a relação entre a CMS e os movimentos sociais estrangeiros, em especial aqueles da América Latina?
A CMS se relaciona com outras entidades de fora do país a partir do Fórum Social Mundial. As assembleias em janeiro, nas quais foram aprovadas esse documento que vem sendo trabalhado nas plenárias estaduais, tiveram representação de entidades de outros continentes e principalmente da América Latina. As dez edições do FSM foram finalizadas com grandes assembleias dos movimentos sociais e existe hoje uma iniciativa que é a Assembleia Mundial dos Movimentos Sociais, que é uma organização de entidades que se encontra a cada um ou dois anos (a depender da programação de cada FSM) e organiza grandes manifestações.

Nessa Assembleia de 31 de maio optamos por não contar com a participação de delegações estrangeiras, pela pauta proposta, que pretende aprovar esse Projeto Nacional e Popular para o país, em virtude do cenário político que teremos pela frente em 2010.

Deixando de lado um pouco a Assembleia do dia 31 de maio, de forma geral, quais as principais dificuldades enfrentadas pelos movimentos sociais atualmente, no que diz respeito a tornar suas manifestações mais amplas?
Nos últimos anos, a partir da chegada do presidente Lula ao poder, o movimento social começou a encontrar outros espaços de atuação e organização, para além das manifestações públicas e das passeatas. Os movimentos sociais conquistaram durante o governo Lula algo que sempre reivindicamos: a participação direta em espaços de governo. O governo Lula tem uma série de representantes dos movimentos sociais fazendo parte de conselhos nacionais, de estruturas de governo e se organizando em torno das grandes conferências que vêm sendo organizadas.

Mas isso não significa a não-realização de grandes passeatas e mobilizações. Esse novo espaço conquistado deve ser um impulsionador das grandes lutas que são travadas nas ruas. Nós vivemos um momento de dificuldades para encontrar bandeiras que consigam dialogar com o povo — quanto mais conquistas o povo tem, menos ele sente a necessidade de se organizar e reivindicar mais direitos. O governo Lula avançou muito em diversos aspectos e temos tido, de fato, mais dificuldades para conseguir organizar grandes manifestações. Diante disso a CMS percebeu essa necessidade da unidade para conseguir voltar a ter uma agenda de grandes mobilizações.

Essa dificuldade passa também pela delicada relação com a mídia? Você acha que existe algum fato histórico que marca o início desse conflito?
Acho que isso sempre aconteceu. Ela nunca divulgou nossas grandes manifestações. A mídia tem lado no Brasil, ela representa a elite brasileira, que não quer ver o povo conquistando mais direitos e representa um setor que defende um projeto de nação
subserviente às nações desenvolvidas, exatamente o lado oposto dos movimentos sociais. Eu acho que a mídia brasileira sempre teve essa relação pouco amistosa com os movimentos sociais e hoje ela é de fato um poder muito importante, sendo decisiva até mesmo em processos eleitorais e tem até mesmo conseguido evitar uma série de avanços para a sociedade, como o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos. Isso para mim é por conta dessa opção de classe que a grande mídia tem.


Assembleia Nacional dos Movimentos Sociais

Data: 31 de maio
Local:Quadra dos Bancários de São Paulo – Rua Tabatinguera, 192, Sé

Programação

9h: Recepção com café – Abertura e orientações
10h: Mística
11h: Mesa de debate – entidades da Coordenação dos Movimentos Sociais, Assembleia Popular e Fórum das Centrais
12h30: Debates com o Plenário – lançamento da Plataforma dos Movimentos Sociais e Populares para 2010.
Almoço
15h: Considerações sobre a Plataforma
16h: Considerações finais

Fernando Damasceno – Portal CTB

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