Jovem assassinado no Paraná não participava do movimento de ocupações de escolas

Colégio Santa Felicidade, de Curitiba, onde o corpo do menino foi encontrado

Educadores afirmam que a população do Paraná ficou chocada com a notícia da morte de Lucas Eduardo Araújo Mota, 16 anos, nas dependências do Colégio Santa Felicidade em Curitiba, nesta segunda-feira (24). O governador Beto Richa (PSDB) não perdeu tempo em criminalizar as ocupações.

“A ocupação de escolas no Paraná ultrapassou os limites do bom senso e não encontra amparo na razão, pois o diálogo sobre a reforma do ensino médio está aberto, como bem sabem todos os envolvidos nessa questão”, divulgou Richa em sua nota de pesar. O que fica patente é exatamente o contrário.

O fato mostra a falta de segurança pública no estado e que a polícia é despreparada para lidar democraticamente com a população.

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Ao que prontamente os movimentos sociais responderam. A APP-Sindicato dos Professores do Estado do Paraná lamentou a criminalização dos movimentos de maneira tão torpe. “Infelizmente neste momento triste, surgem tentativas de criminalização do movimento legítimo dos estudantes e vinculação do sindicato ao episódio. A APP-Sindicato repudia tais ações. Assim como a sociedade paranaense, esperamos a apuração do caso pelos órgãos competentes”.

Nesta terça-feira (25), a Polícia Militar do estado apreendeu um adolescente de 17 anos que confessou o crime. De acordo com o secretário de Segurança Pública, Wagner Mesquita os jovens consumiram droga e se desentenderam. O jovem morto tentou se refugiar na escola onde foi assassinado. O Ministério Público do Paraná passou a acompanhar as investigações.

O Ocupa Paraná divulgou nota repudiando a criminalização das ocupações de escolas contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241 e a reforma do ensino médio. “Apesar das diversas correntes de ódio que tomaram conta do estado no dia de hoje, nós do movimento Ocupa Paraná não queremos e nem vamos culpabilizar ninguém pelo acontecido. Neste momento queremos apenas prestar solidariedade à família de Lucas, família que perde um dos seus para o ódio, para a intolerância e para a violência”.

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As entidades máximas do movimento estudantil também rechaçaram a utilização política da fatalidade. “É importante destacar que as manifestações com ocupações de escolas se iniciaram em todo o país há mais de um mês contra a proposta de Medida Provisória 746 e a Proposta de Emenda Constitucional 241 e, desde o início, são pacíficas e abertas diálogo. Os estudantes se organizam, votam em assembleia, dividem-se em grupos de trabalho e mantém a ordem e a limpeza dentro das instituições”, diz trecho do texto assinado pela União Nacional dos Estudantes, União Brasileira dos Estudantes Secundaristas e Associação Nacional dos Pós-graduandos.

Os Advogados e Advogadas pela Democracia reclamaram de que foram impedidos pela Polícia Civil de acompanhar os depoimentos prestados pelos adolescentes. Depois de muita reclamação conseguiram entrar na escola onde ocorreu o crime.

A advogada Tania Mandarino conseguiu entrar na escola e conversou com 12 alunos, que relataram a ocorrência de uma briga no colégio e que o suposto agressor/assassino seria um jovem que não teria relação com o colégio e seus alunos. “Tudo indica que o ódio contra as ocupações funcionou: temos um cadáver”, diz.

“Mas a tragédia não parou o movimento, nem colocou a sociedade paranaense contra o movimento das ocupações de escolas para defender a educação pública”, diz a estudante Arizla Nathally Fernandes de Oliveira, de Quatro Barras, interior do estado.

Tanto que ocorre na quarta-feira (26), às 8h da manhã, na capital Curitiba, a Assembleia Estadual das Escolas Ocupadas para avaliar e decidir os novos rumos do movimento.

Profissionais da educação

Integrantes do núcleo Educação da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil no Paraná (CTB-PR) informam que ocorre uma reunião da comissão dirigente da greve nesta terça-feira (25).

ASSEMBLEIA DOS PROFESSORES BRUNNO COVELLO 4

“A APP-Sindicato analisa as medidas cabíveis contra o posicionamento do governador Richa, que criminaliza a greve e se recusa ao diálogo”, afirma Francisco Manoel de Assis França, conhecido como professor Kico.

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De acordo com o educador de Curitiba, a paralisação atinge cerca de 70% da categoria e a “intransigência do governo faz o movimento crescer mais rapidamente. Estamos parados contra o calote que sofremos, contra a PEC 241 e contra os desmandos do governo estadual”, diz.

Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy

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