Casos de feminicídio no Brasil equivalem a um estado de guerra civil, diz socióloga

O assassinato da juíza do trabalho Claudia Zerati pelo marido, o delegado Cristian Sant’Ana Lanfredi, que se matou em seguida, reacende a discussão sobre a violência contra as mulheres no Brasil.

Lanfredi estava afastado do trabalho por motivo de saúde e pelas informações da filha do casal, de apenas 6 anos, ele e Zerati haviam brigado porque o delegado recusou-se a tomar um remédio de seu tratamento.

A tragédia ocorreu  em um condomínio de um bairro de classe média alta, na capital paulista, no domingo (20). As informações dão conta de que após a briga, Manfredi levou a menina para o apartamento dos padrinhos, no mesmo prédio. Ao voltar para casa matou a companheira e se matou.

A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) e a Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 2ª Região (Amatra 2) divulgaram nota conjunta denunciando o feminicídio.

Repudiam “os gritantes números de feminicídio que ainda grassam no Brasil”, diz trecho da nota. Isso porque somente em “em 2016, contabilizávamos 4,8 assassinatos a cada 100 mil mulheres, ocupando o 5º lugar no ranking mundial de países, quanto ao feminicídio”.

Para Ivânia Pereira, secretária da Mulher Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), casos como esse “evidenciam a necessidade de políticas públicas de proteção para as mulheres”.

Ela afirma ainda que “o número de violência de gênero no país é tão assustador que há necessidade de reforçar as leis existentes para a punição dos agressores”.

Ela se refere à Lei do Feminicídio (Lei nº 13.104/2015), e a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), que, segundo Pereira, “devem ser amplamente divulgadas para toda a sociedade, juntamente com a aplicação de medidas protetivas para coibir a violência”.

Já a secretária de Formação e Cultura da CTB, Celina Arêas, defende a criação de um amplo trabalho de educação, mobilizando a sociedade.

“Cada vez nota-se mais que é fundamental debater as questões de gênero na escola e conjuntamente criando uma grande mobilização nacional em defesa da vida das mulheres”, diz.

De acordo com Arêas, “é impossível conviver com números tão exorbitantes de violência. Todos os dias ficamos sabendo de casos de espancamentos, estupros e mortes, pelo simples fato de serem mulheres. Precisamos dar um basta”.

Pereira reforça a proposta ao defender a mobilização e unidade do movimento feminista para “denunciar essa situação de guerra em que vivemos e construir modos de defesa de nossas vidas. Nenhuma a menos é a nossa palavra de ordem”.

A socióloga Lourdes Bandeira, que é pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), afirma que a situação vivida no Brasil equivale “a um estado de guerra civil permanente”.

O Mapa da Violência 2015 (Cebela/Flacso) revela que de 1980 a 2013, 106.093 brasileiras foram vítimas de assassinato. Somente em 2013, foram 4.762 assassinatos, ou seja, 13 mulheres mortas por dia.

Arêas reafirma a necessidade de mobilização das mulheres “de todas as classes sociais para combater o machismo e a cultura do estupro, tentando fazer com que os meios de comunicação participem desse projeto e não contribuam para a proliferação da violência”.

Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy

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