A mulher negra e o mercado de trabalho

Publicado 09/03/2017
Historicamente, as mulheres não negras – incluindo as feministas – demonstram certa relutância em reconhecer as lutas das mulheres negras trabalhadoras. É raro se envolverem além da fala na luta, que consiste em melhorar as condições do serviço e reconhecer que existe um racismo estruturante que ainda divide mulher negra e não-negra.
Os dados evidenciam, no entanto, a situação das mulheres negras e a importância de se travar esse debate: Mulheres não negras ganham, em média, 59,5% do que ganham homens brancos, enquanto as mulheres negras ganham 65% dos homens do mesmo grupo racial e apenas 30% do rendimento médio de homens não negros. A Secretária Nacional de Promoção à Iguadade Racial da CTB, Mônica Custódio, comenta sobre esse abismo:
“O preconceito e o racismo estão cada vez mais explícitos no mercado de trabalho. Foi divulgado, há menos de um mês, que o desemprego e a precarização do trabalho recai com muito mais força sobre os homens e mulheres negras. E, em dose maior, sobre as mulheres negras. No ano de 2015, foi divulgado por institutos oficiais, dados que apontam que o abismo salarial entre homens e mulheres, negros e não negras, ultrapassa os 40%.”
Ao observamos o número médio de horas trabalhadas durante a semana, podemos notar que as empregadas domésticas possuem uma jornada de trabalho intensa. Mais de 43% trabalham 40 horas ou mais por semana; jornada, esta, que vem diminuindo desde 1996, quando 52% encontravam-se nessa situação. A situação, porém, é ainda mais grave para as mulheres negras, cuja parcela que trabalha mais de 40 horas semanais atinge 47,3%, em 2003. Precisamos debater também as desigualdades na distribuição de negros e não negros segundo os décimos e centésimos de renda. É interessante notar que, em 2003: ¾ Entre os 10% mais pobres da população, 64,6% eram negras; ¾ Entre os 10% mais ricos da população, o percentual de negros cai para 22,3%; ¾ E entre os 1% mais ricos da população, apenas 11,5% eram indivíduos negros.
A dirigente da UNEGRO, Claudia Vitalino, fala sobre essa questão:
“Tais distorções contribuem para uma posição de desigualdade e subordinação das mulheres em relação aos homens, produzem doenças e mortes relacionadas à violência física e simbólica de gênero e fortalecem a visão normativa e excludente das identidades sexuais nas sociedades. Há uma profunda desigualdade de poder entre os homens e as mulheres, historicamente construída. Na América Latina – e no caso específico do Brasil –, as desigualdades de tratamento e de oportunidades entre os homens e as mulheres são agravadas pelas práticas excludentes apoiadas na visão racista e etnocêntrica. Ou seja, há um contingente populacional significativo no país sujeito a agressões, nos últimos anos, as mulheres brasileiras vêm realizando numerosas conquistas: desde a ampliação da sua presença no mercado de trabalho até a ocupação – embora de forma ainda humilhações e outros tipos de violências cotidianas baseadas no gênero, na raça ou na etnia. Muito lenta e gradualmente os espaços de poder.”
Apesar de ser inegável o esforço dos movimentos sociais, antirracista, antissexista e pluriétnica, por conta da discriminação combinada de gênero, raça e etnia e, ainda, da prevalência de uma visão eurocêntrica na mídia, as mulheres negras e indígenas estão entre as mais afetadas na escala das desigualdades que persistem no Brasil
O padrão cultural sexista, racista e etnocêntrico cria mecanismos que as exclui até mesmo das mais recentes conquistas das mulheres brasileiras. As negras e indígenas estão invisíveis, por exemplo, nas profissões consideradas de prestígio porque foram discriminadas ou não foram estimuladas a seguirem essas carreiras, seja por não corresponderem ao padrão estético eurocêntrico que prevalece. Cada grupo exibe suas singularidades no enfrentamento à discriminação de gênero, raça e etnia no mercado de trabalho.
Da CTB-RJ