A luta dos sindicatos em tempos de pandemia: Rodrigo Cardoso, presidente do Sindicato dos Bancários de Ilhéus (BA)

Por Railídia Carvalho

Na opinião do presidente do Sindicato dos bancários de Ilhéus (BA), Rodrigo Cardoso, o governo brasileiro subestimou a pandemia do coronavírus e não apresentou um plano organizado e coordenado para o enfrentamento. “Só agiu sob pressão e, ainda assim, de forma ineficiente para a urgência da situação”. O dirigente, que é funcionário do Banco do Brasil, é o entrevistado do Portal CTB, que tem mapeado as ações dos sindicatos pelo Brasil e as consequências da pandemia no dia a dia dos trabalhadores. 

Os bancários são alguns dos trabalhadores e trabalhadoras de serviços essenciais que não puderam parar. “É importante mantermos nosso papel reivindicatório e de defesa dos direitos da categoria, mas, paralelamente, atuarmos na articulação com o Poder Público na construção de soluções coletivas pelo bem geral e nos colocarmos na linha-de-frente de ações solidárias para tentar atenuar o sofrimento das pessoas que mais precisam”.

Confira a entrevista na íntegra:

Portal CTB: Como você avalia a implementação das Medidas Emergenciais para o enfrentamento do coronavírus (Covid-29), manutenção do Emprego e da Renda do governo Bolsonaro?

Rodrigo Cardoso: Importantes, mais atrasadas e insuficientes.

Acaba demonstrando a ausência de um plano organizado e coordenado para enfrentar essa crise e uma certa subestimação da mesma.

Só agiu sob pressão e, ainda assim, de forma ineficiente para a urgência da situação.

Portal CTB: Quais os impactos da crise na sua categoria? Houve paralisação parcial ou total das atividades? Se não houve interrupção total, quais as medidas que estão sendo adotadas para preservar a vida, a saúde e a segurança dos trabalhadores?

Rodrigo Cardoso: A categoria bancária passa por um momento muito difícil. Boa parte do serviço é considerado essencial, e não pode parar, por exemplo o pagamento de salários, benefícios sociais e a operacionalização das próprias medidas emergenciais.

Em um primeiro momento, atendendo à reivindicação do movimento sindical, houve o afastamento das pessoas dos grupos de risco, rodízio de pessoal e contingenciamento do atendimento presencial, bem como disponibilização de EPI’s. No entanto, após a MP 927, alguns bancos tem determinado férias compulsórias para os afastados e até banco de horas “negativo”. 

Toda essa situação nos traz muita preocupação pelas aglomerações nas filas, que aumentam os riscos à saúde de bancários e clientes.

Portal CTB: O que está sendo feito para garantir emprego e salários? Como o Sindicato está atuando para garantir a negociação coletiva diante da pressão das empresas pelo acordo individual? Quantas demissões ocorreram na sua base até o momento?

Rodrigo Cardoso: No geral os bancos não tem demitido. Alguns acataram à demanda do movimento de suspender as demissões durante a pandemia. Nosso Comando Nacional tem pressionado para que os bancos não adotem as medidas previstas na MP 927, mas, como exposto acima, essa parte já está sendo implementada por alguns.

Portal CTB: O que fazer nesta conjuntura complexa? Qual o caminho?

Rodrigo Cardoso: Não há fórmula. É uma situação totalmente nova, em um cenário político totalmente adverso, mas que, paradoxalmente, tem abalado vários paradigmas e convicções neoliberais predominantes. Aumenta a importância do trabalho, do Estado, das empresas públicas, do SUS, de políticas públicas para a garantia de renda e o estímulo à economia, por exemplo.

É importante mantermos nosso papel reivindicatório e de defesa dos direitos da categoria, mas, paralelamente, atuarmos na articulação com o Poder Público na construção de soluções coletivas pelo bem geral e nos colocarmos na linha-de-frente de ações solidárias para tentar atenuar o sofrimento das pessoas que mais precisam.