A inflação e a transferência de renda dos consumidores de combustíveis para os acionistas da Petrobras

Informações divulgadas nesta sexta-feira pelo IBGE indicam que agosto registrou mais um mês de deflação, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuando 0,36%. A queda foi menos intensa do que a registrada em julho (-0,68%) e a principal causa para o comportamento do índice segue sendo a redução dos preços dos combustíveis, adotada com o objetivo de favorecer eleitoralmente Jair Bolsonaro.

“Alguns fatores explicam a queda menor em relação a julho. Um deles é a retração menos intensa da energia elétrica (-1,27%), que havia sido de 5,78% no mês anterior, em consequência da redução das alíquotas de ICMS. Também houve aceleração de alguns grupos, como saúde e cuidados pessoais (1,31%) e vestuário (1,69%), e a queda menos forte do grupo de transportes em agosto. No mês anterior, os preços da gasolina, que é o item de maior peso no grupo, tinham caído 15,48% e, em agosto, a retração foi menor (-11,64%)”, explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.

O grupo dos transportes (-3,37%) exerceu o maior impacto negativo sobre o índice geral, contribuindo com 0,72 ponto percentual (p.p.). A queda desse grupo foi influenciada principalmente pela retração nos preços dos combustíveis (-10,82%). Em agosto, os quatro combustíveis pesquisados tiveram deflação: gás veicular (-2,12%), óleo diesel (-3,76%), etanol (-8,67%) e gasolina (-11,64%). Item com maior impacto negativo sobre o índice geral, a gasolina teve redução de R$ 0,18 por litro nas refinarias no mês passado.

Inflação e dividendos

Os dados sugerem que os combustíveis têm um peso extraordinário na determinação da febre inflacionária verificada no Brasil ao longo do governo Jair Bolsonaro. Os preços da gasolina, óleo diesel, etanol, querosene, gás veicular e de cozinha, não foram ditados por razões econômicas objetivas ou inelutáveis, mas por uma política imposta à Petrobras desde o golpe de 2016 com o supremo propósito de saciar a sede de lucros dos acionistas privados da petrolífera.

Uma política que estabelece arbitrária e desnecessariamente uma paridade internacional que na prática significa uma dolarização dos preços dos combustíveis. A artificialidade desta política ficou patente quando a direção da empresa, satisfazendo os desejos de Jair Bolsonaro, suspendeu temporariamente a dolarização e, mudando bruscamente de orientação, reduziu os preços dos combustíveis com indisfarçáveis, e ilegítimos, objetivos eleitoreiros.

A empresa acumulou lucros formidáveis extorquindo renda dos consumidores para transferir aos acionistas. Somente neste ano os acionistas da Petrobras devem embolsar R$ 136,3 bilhões. Uma autêntica orgia. Os consumidores brasileiros é quem estão bancando, ainda que não tenham consciência disto.

A alta dos preços dos combustíveis foi o instrumento de uma escandalosa transferência de rendas da sociedade para rentistas bilionários ociosos, conforme já notou o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior. A mesma inflação que rouba comida e conforto dos lares humildes aumenta na mesma medida o volume de lucros e dividendos distribuídos aos acionistas privados da Petrobras e ao governo Bolsonaro.

Umberto Martins