Pesquisa do Datafolha divulgada nesta quarta-feira (17) ajuda a explicar a troca de meia dúzia por seis no Ministério da Saúde. O levantamento realizado nos dias 15 e 16 de março indica que a rejeição da população à conduta do presidente diante da crise sanitária bateu um novo recorde, subindo a 54%. Na pesquisa anterior eram 48%.
No mesmo dia em que a pesquisa foi publicada um outro número sinistro foi noticiado pelos meios de comunicação. O Brasil bateu também um novo recorde de mortes diárias pela Covid-19: foram registrados 2.798 óbitos em 24 horas.
Mudanças tardias e tímidas
A verdade dos fatos fala mais alto do que os argumentos falaciosos do líder da extrema direita e sua milícia sobre a doença. As mudanças no Ministério da Saúde e no comportamento do governo em relação à vacinação e ao uso de máscaras, ditadas pelos resultados das pesquisas e pelo fator Lula, são tardias, tímidas e insuficientes.
O sistema de saúde já entrou em colapso na maioria dos estados e as cenas trágicas presenciadas no Amazonas já não compõem uma realidade isolada e tendem a se repetir em maior escala.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) afirmou que o país passa pelo “maior colapso sanitário e hospitalar da história”. Segundo a instituição, 24 estados e o Distrito Federal estão com taxas de ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) do Sistema Único de Saúde (SUS) iguais ou superiores a 80%.
Com 90% de ocupação nas UTIs pela primeira vez na pandemia, São Paulo registrou uma morte pela doença a cada dois minutos em 24 horas na terça-feira (16). O Rio Grande do Sul também vive um colapso nas unidades de saúde e anunciou 502 óbitos em um dia.
Cresce a convicção entre os especialistas de que só um lockdown nacional, abrangendo pelo menos todas as capitais e o Distrito Federal, pode deter o avanço do vírus, reduzir as pressões sobre os hospitais e as UTIs e evitar um caos maior, no qual consta a perspectiva de recolhimento de corpos nas ruas, a exemplo do que ocorreu no Equador.
Negacionismo e cara de pau
Entretanto, Jair Bolsonaro continua combatendo o isolamento social e já expressou temores de que um lockdown pode liquidar com suas pretensões de reeleição. Já os bolsonaristas continuam entoando o mesmo cantochão negacionista.
O líder do governo na Câmara Federal, deputado Ricardo Barros (PP-PR), um engenheiro que já chefiou o Ministério da Saúde, teve o descaramento de afirmar nesta quarta (17) que a situação do país na pandemia “é até confortável”. Enquanto a cara de pau desfila sem pudor pelo Palácio do Planalto, a vacinação patina e cresce o ritmo da matança de brasileiros e brasileiras e da superlotação de hospitais e cemitérios.
Umberto Martins