Contágio

João Martins*

Pandemia é uma epidemia de grandes proporções. Ao longo da história a humanidade vivenciou muitas epidemias e algumas pandemias.  

Entre as mais notórias, consta a grande peste de Atenas ou Pelepones – em 430 a.C., durante a guerra do Peloponeso entre Atenas e Esparta – que dizimou cerca de 30 mil cidadãos de Atenas, o que equivalia a 1/3 de sua população, incluindo o grande líder Péricles. Foi causada pela bactéria salmonela, disseminando a febre tifoide.

A peste de Antonine, iniciada no ano 156 d.C, vitimou o imperador Marcus Aurelius Antoninus, e matou milhares de pessoas em Roma. Já a peste de Justiniano – em 541-542 d.C. fez cerca de 10 mil vítimas fatais em Constantinopla.

Peste negra

A famosa peste Negra, transmitida pela bactéria de pulga dos ratos – no  século XIV – 1348 – durante a guerra entre tártaros e genoveses – primeira guerra biológica (no curso da batalha os tártaros jogavam os corpos dos mortos por cima das muralhas da cidade com intuito de disseminar a epidemia) – liquidou de 30 a 50 milhões de pessoas, 1/3 da população europeia.

Também podemos incluir entre as vítimas de epidemias milhões de indígenas dos países americanos, que foram vítimas não só de assassinatos por armas de fogo, como também de doenças infecciosas, verdadeiras epidemias de sarampo, varíola, tuberculose e gripe, trazidas pelos europeus.

A chamada gripe espanhola – março de 1918 – transmitida pelo vírus influenza, H1N1, espalhou-se rapidamente por quase todo o globo atingindo cerca de um bilhão de pessoas, vitimando cerca de 20 milhões de pessoas.

A gripe de Hong Kong teve início em 1968. Cidade internacional, Hong Kong  já havia assistido à explosão da peste bubônica em 1894;  o H5N1, gripe aviária ou do frango que  infecta os primeiros humanos no final da década de 90 do século passado, matou 363 pessoas das 565 infectadas, uma  letalidade altíssima, além de causar um prejuízo econômico de 20 bilhões de dólares. Foram sacrificadas mais de 400 milhões de aves portadoras do vírus.

Em 2003 surgiu a epidemia da SARS – Sindrome Respiratória Aguda Severa, restrita à península Ibérica (Portugal, Espanha e Andorra), infectando cerca de 8 mil pessoas e matando mais de 800.

Aids

Descoberto em 1980, o vírus da Aids  infectou 40 milhões e deixou 25 milhões de mortos (a crise reduziu em 10% a contribuição de países ricos para o fundo de combate a AIDS). Já o vírus Nipah infectou 265 pessoas na Malásia,  das quais 105 morreram, cerca de 40%, o que configura uma taxa de mortalidade altíssima.

Atualmente  o surto do  coronavírus, que pertence a  mesma família do vírus da SARS, se alastra pelo mundo, tendo iniciado numa província chinesa afeta hoje vários países, embora com uma taxa de mortalidade relativamente baixa (2% dos afetados).

Esses são alguns casos de doenças contagiosas e letais transmitidas por microorganismos. Estes surgiram há bilhões de anos. Foram os primeiros seres vivos do planeta e sobreviveram às condições mais adversas na terra primitiva, criando resistências às condições físicas e químicas da época.

Globalização

Esses microorganismos vão se tornando cada vez mais multiresistentes. Mutantes, eles criam maior resistência aos antibióticos, como revela um caso ocorrido em 2011 com a Escherichia Coli e a KlebsiellaPineumonae – KPC, uma nova cepa que causa a pneumonia.

A globalização permitiu um ambiente mais propício à propagação desse tipo de doenças. Grandes metrópoles, verdadeiras megalópoles, com enormes concentrações urbanas, o altíssimo incremento das viagens continentais, facilitam o turismo de vírus e bactérias, que hoje atravessem oceanos numa velocidade jamais presenciada pela humanidade em outras épocas. Acrescente a isso o transporte coletivo de milhões de pessoas/dia. 

Contágio, um longa metragem de Steven Sodenbergh, produzido em 2011, retrata de forma mais próxima possível da ciência,  o início, a propagação e as consequências    de uma pandemia. O vírus MEV-1 (fictício), passa do morcego para o porco e daí para o ser humano, na China. Através das pessoas infectadas, turistas, homens de negócios etc., a doença, que causa encefalite e problemas respiratórios graves, se alastra pelo mundo todo, chegando às grandes metrópoles e se espalhando, atingindo a população através dos aeroportos e transportes coletivos, onde a concentração é mais significativa e o contato bem maior, facilitando a propagação do agente causador da infecção.

*João Martins, bancário aposentado e ex-deputado estadual constituinte do PCdoB/ES