Médicos lançam apelo diante da situação crítica da ocupação de leitos

Aloísio Morais

Diante do agravamento da falta de condições para atender pacientes infectados com a covid-19, médicos e enfermeiras de Belo Horizonte e do Hospital Militar de Fortaleza estão apelando para o uso das redes sociais para encaminhar suas denúncias e apelos às autoridades e à população. Belo Horizonte, que tem 87% dos leitos públicos de terapia intensiva ocupados e teve que recuar da reabertura do comércio na última segunda-feira, tem 6.413 casos de contaminação e 157 mortes pela doença. Minas Gerais tem 88% de ocupação de leitos e, ontem, registrava em 1.059 o número de mortos pelo coronavírus e 50.707 pessoas contaminadas.

Em Belo Horizonte, os profissionais da saúde divulgaram o seguinte abaixo-assinado nas redes sociais:

“Nós, coordenadores das unidades de terapia intensiva dos hospitais públicos e particulares de Belo Horizonte, queremos renovar o alerta de que o número de pacientes graves sob nossos cuidados aumentou ainda mais nesta última semana (23/6 a 30/6).

Atingimos níveis críticos de ocupação, reduzindo a disponibilidade de vagas de UTI, insumos e, sobretudo, profissionais treinados e capacitados para cuidar de pacientes tão graves.

Como já é difícil substituir profissionais que adoecem (por COVID ou estresse), é um desafio muito maior conseguir criar escalas para novas equipes de especialistas essenciais para abrir novas unidades e novos leitos.

Em alguns momentos desta semana faltaram vagas nos leitos públicos e pacientes já entubados tiveram que esperar sob cuidados emergenciais nas UPAs e salas de emergência.

É importante entender que a capacidade de aumentar o número de leitos é limitada.

Mesmo se houver ventiladores, medicamentos (que continuam em falta) e demais equipamentos em quantidade suficiente para transformar enfermarias e salas de cirurgia em UTIs, não há número suficiente de profissionais treinados para lidar com pacientes muito graves em terapia intensiva. O que podemos fazer é montar equipes misturando profissionais experientes com outros em formação, o que impacta na qualidade do atendimento.

Estamos todos trabalhando no limite da exaustão física e psicológica num cenário cada vez mais dramático. Não existe milagre e sim um trabalho duro e altamente técnico de times muito bem treinados de médicos, enfermeiros, terapeutas respiratórios e diversos outros profissionais ultra especializados.

Temos orgulho de estar fazendo nossa parte, mas é essencial que toda a sociedade ajude!

Precisamos aumentar ainda mais os cuidados de isolamento e prevenção para reduzir a velocidade da transmissão. Só assim vamos conseguir impedir que pessoas morram por falta de uma vaga de UTI com todos os equipamentos, insumos e profissionais necessários para esse cuidado.

O número de pacientes internados na UTI nesse final de junho é quatro vezes maior que no início de maio. Isso significa que o risco de se contrair COVID-19 na cidade pode ter quadruplicado nesse período.

Por isso, cuide de você, de sua família, amigos, colaboradores e colegas de trabalho aumentando o rigor nas medidas de prevenção:

 Sair de casa apenas se for estritamente essencial e inevitável.
 Manter o distanciamento de 2 metros de outras pessoas.
 Evitar qualquer local com acúmulo de pessoas, sobretudo se for ambiente fechado.
 Intensificar a frequência de higiene das mãos antes e após qualquer situação de risco.
 Usar máscaras corretamente, cobrindo o nariz e a boca e pedir que todos façam o mesmo.
 Ao primeiro sintoma suspeito (como febre, tosse, cansaço, perda de olfato) entrar em contato com o médico, procurar fazer o teste e iniciar o isolamento.

Dr. Aguinaldo Bicalho Ervilha Júnior
Dra. Bianca Souza de Resende
Dr. Carlos Eduardo Ornelas
Dra. Carolina Tavares Marques de Souza
Dr. Cássio Fernando de Assis Carvalho
Dr. Danilo Castro Pires de Almeida
Dr. Eduardo Sad
Enf. Fabiano Bomfim Torres
Dr. Francisco Rezende
Dr. Frederico Rodrigues Anselmo
Dr. Gláucio de Oliveira Nangino
Dr. Guilherme Mirachi
Dr. Heigler Leite
Dr. Henrique Abreu Alvarenga
Enf. Iany G. da Silva Wiermann
Dr. José Carlos Fernandez Versiani dos Anjos
Dr. João Valle Maricio Neto
Dr. Jorge Paranhos
Enf. Lilian Goretti Viegas Henriques
Enf. Luciana Lages Ferreira
Dr. Luidy Cardoso
Dra. Marcela Rangel de Castro
Dr. Marco Aurélio Reis
Dra. Maria Aparecida Braga
Dr. Maurício Meireles Goes
Dr. Norberto de Sá Neto
Enf. Roberta Maria de Jesus
Dr. Rodrigo Santana Dutra
Dr. Rodrigo Pinheiro Lana
Dr. Rogério Sad
Dr. Saulo Oliveira Freitas
Enf. Sílvia Minelli Fernandes
Dr. Thiago Bragança Lana Silveira Ataíde 
Dr. Vandack Alencar Nobre Junior
Enf. Viviane Oliveira”

Dos médicos da UTI do HOSPITAL MILITAR de Fortaleza

“Queremos fazer um apelo cordial ao senso comum das pessoas que aceitaram o fim do confinamento como se a pandemia tivesse terminado e tivéssemos voltado à normalidade de antes do início desta crise. * Infectar-se com o coronavírus não é um resfriado comum. * Existem febres altas, dores de garganta e aperto no peito, a tal ponto que parece que a vida está indo embora e o pior é que está. * É necessária ressuscitação. * Fala-se de ventilação, mas NÃO é uma máscara de oxigênio colocada na boca e no nariz enquanto você se diverte pensando em sua vida, não! * A ventilação invasiva para o COVID-19 é a intubação feita sob anestesia geral que consiste em permanecer por pelo menos 2 a 3 semanas sem se mover, geralmente de bruços (posição prona) com um tubo até a traquéia, o que permite respirar no ritmo da máquina à qual se está conectada. Você não pode falar, comer ou fazer qualquer coisa naturalmente, porque o desconforto e a dor que você sente exigem a administração de sedativos e analgésicos para garantir a tolerância ao tubo. *

Durante o tempo em que o paciente precisar que a máquina respire, ele estará em coma induzido, ou seja, em coma artificial. * Em 20 dias com este tratamento, um paciente jovem terá uma perda de massa muscular de até 40% e a reeducação subsequente será de 6 a 12 meses, associada a trauma grave na boca ou nas cordas vocais. É por esse motivo que os idosos ou pessoas frágeis em sua saúde não perduram. Se você leu esta mensagem até agora, agradeceríamos se a compartilhasse para que todos possam levar isso a sério, agora que estão saindo novamente. Siga as instruções e lembre-se de que você precisa levar isso muito mais a sério. * Esta pandemia termina quando a vacina for encontrada, NÃO ANTES. * Obrigado por compartilhar.
 * MÉDICOS DA UTI.”

O Ceará registrava ontem 6. 284 mortes pelo coronavírus e 11.524 casos confirmados.

Cresce a ocupação de leitos

A ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para tratamento da Covid-19 voltou a subir nas últimas semanas e já supera 80% em pelo menos 13 capitais. Natal (RN) está com ocupação de 100% dos leitos da rede estadual há mais de um mês. Rio Branco (AC) vive situação semelhante, com 95% dos leitos ocupados.

Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, São Luís, Maceió, Boa Vista, Teresina, além da região metropolitana de Vitória têm índices de ocupação de UTI acima de 80%. A maior parte destas capitais viram o número de casos da Covid-19 crescer nas últimas semanas após o início da reabertura do comércio. Diante desse avanço, parte das cidades começou a recuar nas medidas de flexibilização.