Estudo da Abrasco revela o agravamento dos efeitos dos agrotóxicos na pandemia

Por Marcos Aurélio Ruy ( Foto de Mirian Fichtner)

Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco) lançou, na quinta-feira (27 de maio), o estudo Agronegócio e pandemia no Brasil: uma sindemia está agravando a pandemia de Covid-19? O estudo teve apoio da rede global sobre alimentos saudáveis, IPEN.

O documento mostra que a precariedade das condições de trabalho no campo e a utilização excessiva de agrotóxicos agravam a contaminação pela covid-19 entre as trabalhadoras e trabalhadores do campo, seus familiares e entre os moradores nas proximidades.

“Isto é porque o uso de agrotóxicos nos alimentos afeta o sistema imunológico, enquanto o consumo de ultraprocessados intensifica doenças e agravos não transmissíveis”, informam os pesquisadores.

Como se sabe, diz Maria Aires Oliveira Nascimento, secretária-adjunta da Mulher Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e dirigente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Sergipe (Fetase), “comorbidades, obesidade e diversas doenças crônicas fazem parte dos grupos de risco da covid” e “o agronegócio usa pesticidas e tem um modelo de produção que acaba por promover a comercialização de alimentos nada saudáveis, favorecendo a doença”.

Conheça o documento Agronegócio e pandemia no Brasil: uma sindemia está agravando a pandemia de Covid-19? Completo aqui.

As condições estão dadas, “principalmente no atual governo para a degradação, ao aumento da pobreza, da fome e da violência no campo”, argumenta Aires. O presidente Jair Bolsonaro já liberou o uso de mais de mil agrotóxicos em pouco mais de 2 anos de governo, boa parte deles proibidos em países do Primeiro Mundo.

“O acesso inadequado à terra pela posse precária e a produção agrária extrativista e químico-dependentes são fatores que contribuem para a degradação das terras, destruição de florestas e da biodiversidade, bem como aumento da pobreza, violência e êxodo rural”, diz o documento.

A publicação acentua ainda que a “desregulamentação nas áreas de saúde, trabalho e ambiente, ampliando as possibilidades de exposição aos agrotóxicos e má nutrição”, além do “desmonte das estruturas de fiscalização sanitária e ambiental, o desmantelamento contínuo dos serviços de saúde, incluindo prevenção e assistência” e a “carga crescente e duradoura de doenças crônicas” geram “uma interação sindêmica com a covid-19”.

Para Elgiane Lago, secretária de Saúde do Trabalhador da CTB, “o modelo de produção agrícola no país precisa ser repensado com valorização da agricultura familiar para abastecer o mercado interno e também para a exportação”.

Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da CTB e de Políticas Agrícolas da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), lembra que 45% das terras estão nas mãos de apenas 1% da população.

“Essa concentração prejudica a produção, especialmente porque o agronegócio visa somente a exportação e degrada o meio ambiente com queimadas, desmatamento e excesso de agrotóxicos na produção, assim o alimento na mesa dos brasileiros chega contaminado”.