‘Desigualdade de gênero no campo brasileiro é muito gritante’, diz secretária da CTB sobre relatório da FAO

Em comentário aos dados mundiais divulgados nesta quinta-feira (13) pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que mostraram que as trabalhadoras rurais recebem 20% menos do que os homens, a secretária de Política Agrícola e Agrária da CTB, Vânia Marques Pinto, acrescentou que a desigualdade de gênero também atinge severamente o campo brasileiro.

De acordo com o estudo, as mulheres exercem atividades laborais em condições piores e recebem menos – US$ 0,82 para cada US$ 1 pago aos profissionais do gênero masculino. O documento destaca que ignorar as especificidades do universo feminino, que inclui duplas ou triplas jornadas, com o cuidado da casa, da família e estudos, gera impactos. Exemplo disso é o nível de produtividade, que é 24% mais baixo entre as mulheres, já que elas não têm à mão ferramentas de trabalho adequadas às suas necessidades.

“Esses dados da FAO só reafirmam o que nós, enquanto entidade sindical de representação da categoria, já vínhamos dizendo. As mulheres são as que menos acessam a terra, a política de reforma agrária, o crédito e também as demais políticas públicas, como a assistência técnica e extensão rural, o seguro e os mercados institucionais. Até mesmo quando se tem uma política específica, como é o caso do Pronaf Mulher, as mulheres também não estão conseguindo acessar. A desigualdade de gênero que existe no campo brasileiro é muito gritante e isso impacta muito na vida das mulheres. Quando o Brasil volta ao mapa da fome são principalmente os lares chefiados por mulheres que são os mais afetados”, lamentou a dirigente, que também integra a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).

Na avaliação de Vânia, a solução passa por mudanças na formatação das políticas públicas pelo governo federal. “É necessário pensar em uma forma de universalização dessas políticas para que as mulheres possam acessá-las e, a partir disso, diminuir a desigualdade de gênero e fazer com que as mulheres que têm grande potencial e são protagonistas, que trabalham principalmente com os quintais produtivos, com as sementes crioulas, com a agroecologia, com a produção de alimentos saudáveis, elas possam sair desse patamar de desigualdade que enfrentamos hoje no campo brasileiro”, considerou.

Conforme o levantamento da FAO, os homens têm maior propriedade ou direitos de posse garantidos sobre terras agrícolas do que as mulheres em 40 dos 46 países que afirmam desenvolver ações de igualdade de gênero, fator considerado um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.