Venezuela, retroceder jamais

Antes de falar da experiência destes poucos dias na Venezuela (a Veneza da America latina, visitada por uma comitiva da CTB entre 5 a 11 de novembro), é importante recuperar situações ocorridas no Brasil que, em certa medida e guardadas as devidas proporções, pertinentes às particularidades nacionais e à tão propalada correlação de forças, tem muito a ver com nossa realidade.

Em 2010, no Brasil, realizamos no dia 1º de Junho uma grande “festa” democrática que reuniu mais de trinta mil trabalhadores e trabalhadoras no estádio do Pacaembu, em São Paulo, incluindo dirigentes e militantes das cinco maiores centrais sindicais, com o propósito de definir um Programa ou Plataforma com eixos centrais orientados por um novo projeto nacional de desenvolvimento, fundado na valorização do trabalho, na democracia e na soberania. Foi a 2ª Conclat, concretizada 29 anos após a 1ª Conclat (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora), que ocorreu em 1981, na Praia Grande (SP).
As diferenças foram “deixadas” de lado, naquele momento. Com alegria, entusiasmo e respaldado numa plataforma progressista, a conferência foi coroada com a declaração de apoio à pré-candidatura da então ministra da Casa Cível do segundo governo Lula, Dilma Rousseff. Naquele ano tivemos uma grande vitória do povo, que elegeu Dilma em dois turnos, impondo uma nova derrota aos neoliberais liderados por Serra e FHC.

Em 2014, o menosprezo à capacidade de ataques e articulação da direita (PSDB/DEM), aliado ao oportunismo sindical, ao descolamento das bases da representação social, ao governismo exacerbado, ao esquerdismo, à ofensiva da direita e outros fatores, jogou água no moinho da candidatura tucana e neoliberal de Aécio Neves (PSDB). Dilma venceu mais uma vez, mas a divisão do movimento sindical, muito embora a maioria tenha apoiado a reeleição da presidenta, também contribuiu para o avanço da direita no pleito presidencial e, principalmente, no Congresso Nacional, onde a bancada ligada aos trabalhadores diminuiu.

Revolução Bolivariana

A derrota da Revolução Bolivariana vem sendo gestada de forma sorrateira na quadra atual da conjuntura venezuelana, por atores e setores muito conhecidos no Brasil. Já ocorreram por lá várias tentativas de golpe de estado. Nos bastidores dos movimentos antidemocráticos observa-se a ação do império estadunidense, com seus desígnios intervencionistas na América latina e Caribe, as oligarquias nacionais e internacionais, que ainda têm grande poder naquele país, a mídia capitalista, tendenciosa e contrária aos interesses populares, o desabastecimento criminoso de produtos de primeira necessidade, a inflação, a especulação e as ações terroristas desenvolvidas em certas zonas das cidades mais importantes para desestabilizar o governo de Nicolás Maduro Moros.

Desde a primeira vitória de Hugo Chaves Frias, na eleição presidencial de dezembro de 1998, o processo de avanços da revolução bolivariana se dá aos trancos e barrancos. Evoluindo para uma consciência de que o capitalismo não dará as respostas necessárias aos anseios dos povos pelo mundo, Maduro, fiel escudeiro do comandante Hugo Chaves , implementa cada vez mais medidas importantes, orientados pelos ideais de Simon Bolivar e Cháves para a democracia, a independência e a Pátria socialista. As medidas tomadas por Nicolás Maduro, líder oriundo da classe trabalhadora (metroviário), com respaldo das urnas; a realização de conferências, seminários e debates sobre os grandes temas nacionais com a participação popular e lideranças de diferentes setores; o aumento real do salário mínimo; a construção de habitações populares, incluindo bens da linha branca (fogões e geladeiras); a aprovação da Lei Orgânica do Trabalho (07/05/2012); a lei dos preços justos para garantir produtos mais acessíveis aos trabalhadores; a guerra contra o desabastecimento acompanhado de um plano de industrialização para que a Venezuela – tudo isto vem sendo feito com o propósito de transformar a Venezuela, em médio e longo prazo, não só numa potência petroleira, mas também numa economia próspera e produtiva nos setores industrial e agropecuário. Destaca-se também o combate à violência através de um plano nacional pela paz e institucionalização da “milícia obrera”, que se soma à polícia nacional como parte do sistema de proteção do povo e da Pátria.

Acredito que o processo da continuidade da revolução bolivariana demanda fortes alianças no cenário dos países que buscam a unidade e a integração na América latina e Caribe em organismos como o Mercosul (agora integrado também pela Venezuela), Alba, Unasul e Celac, bem como deve envolver setores da intelectualidade venezuelana, o povo e as organizações de massas comprometidas com o ideário de Hugo Chaves/Nicolás Maduro, com centralidade nos interesses e objetivos da classe trabalhadora, enfrentamento ostensivo ao imperialismo norte americano e a guerra econômica desencadeado pela direita reacionária e anti-nacional. A unidade, a luta e a consciência da classe trabalhadora serão elementos preponderantes no caminho rumo ao socialismo.

Marcelino da Rocha é membro da delegação cetebista na Venezuela e presidente da CTB-MG e da Fitmetal

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