Por Adilson Araújo, presidente da CTB
Ao participar na segunda-feira (27) de um evento promovido em Brasília pela International Chamber of Commerce (ICC Brasil), o ministro Paulo Guedes disse que tem um plano para impor ao Brasil nos próximos anos. Este pode ser resumido em duas iniciativas: a privatização da Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal aliado à sonhada capitalização da Previdência, que seria o fim da Previdência Social Pública.
“Qual é o plano para os próximos 10 anos? Continuar com as privatizações. Petrobras, BB, todo mundo entrando na fila; e isso sendo transformado em dividendos sociais”, afirmou o ministro. Ele ainda se vangloria. “Privatizamos R$ 240 bilhões em 2 anos e meio”. No caso brasileiro a privatização em geral é sinônimo de desnacionalização, ou seja, de entrega do patrimônio público brasileiro ao capital brasileiro.
Collor, FHC, Temer e Bolsonaro
Este entreguismo é a essência do projeto neoliberal que, orientado pelo Consenso de Washington, embriaga a burguesia nacional (ou o que dela resta) e vem sendo testado em nosso país desde os governos Collor e FHC. Foi interrompido durante as gestões de Lula e Dilma, mas retornou com força total na carona do golpe de Estado liderado por Michel Temer em 2016.
Tivemos, desde então, uma reforma trabalhista que desfigurou a CLT, criou a modalidade do contrato de trabalho intermitente, precarizou ainda mais as relações entre capital e trabalho e extinguiu a principal fonte de financiamento dos sindicatos, a Contribuição Sindical compulsória criada em 1937.
O governo do golpista Temer também nos impôs a terceirização irrestrita e a EC 95, que instituiu o “Novo Regime Fiscal” fundado no congelamento dos investimentos públicos por 20 anos, um contrassenso em matéria de Economia Política que condena a economia brasileira à perene estagnação.
Além disto, a proposta de congelamento é irrealista. Desde que foi instituído até hoje não resultou em equilíbrio fiscal. As contas públicas continuam fechando no vermelho. Isto não impede que a EC 95 venha sendo usada como pretexto para reduzir investimentos públicos, sucatear os serviços e fundamentar a famigerada PEC 32.
Não restam dúvidas de que o governo Bolsonado, autor de uma reforma previdenciária perversa para a classe trabalhadora, procura radicalizar o processo de restauração neoliberal, sob o falso discurso de que só assim as coisas vão melhorar e a economia vai voltar a crescer. Mas o resultado objetivo deste entreguismo desbragado não autoriza otimismos.
Estagflação e fome
A economia vai de mal a pior, acossada pela estagflação, o desemprego em massa, ameaça de apagão, fuga de capitais. A perspectiva para o próximo ano pode ser considerada sombria. Todas as previsões para o PIB de 2022 disponíveis no mercado (com exceção da projeção governamental, que faz do otimismo uma profissão de fé) estão sendo revisadas para baixo.
A fome castiga cerca de 20 milhões de brasileiros e brasileiras. A miséria avança. Estima-se, a partir de dados oficiais divulgados pelo governo, que 2 milhões de famílias caíram na extrema pobreza no governo Bolsonaro – entre janeiro de 2019 e junho deste ano – somam 41,1 milhões de pessoas. Mais de 32 milhões foram condenados ao desemprego, ao desalento ou à subocupação. O número de mortes por Covid-19 aproxima-se de 600 mil.
Este o país real, muito distante das fantasias bolsonaristas difundidas também pelo seu ministro da Economia. Paulo Guedes celebrou o fato de que neste ano o governo reduziu em 10% o Imposto de Importação de bens de capital (BK) e de informática e telecomunicações (BIT). Mas considera que foi “pouco”. “Gostaria de fazer 20%, 30%, mas aí vem o meu respeito à indústria brasileira.”
Quem se beneficia com tais medidas, que prejudicam a indústria instalada no Brasil e reforçam o processo de desindustrialização da economia brasileira? Somente o capital estrangeiro, a quem nosso ministro serve com fidelidade canina.
Capitalização da Previdência
“Se você pergunta: o que você gostaria de fazer nos próximos 10 anos? Mudar o regime previdenciário para capitalização”, afirmou Guedes, reiterando uma proposta repudiada pelo movimento sindical e rejeitada pelo Congresso Nacional durante os debates e a votação da reforma da Previdência.
No Chile o regime de capitalização das aposentadorias foi imposto ao povo, há cerca de 35 anos atrás, durante a sanguinária ditadura implantada por Augusto Pinochet com apoio dos EUA após o golpe concluído com a morte do presidente socialista Salvador Allende em setembro de 1973.
Quem se aposentou pelo sistema de capitalização recebe hoje um benefício cujo valor não chega à metade do salário mínimo vigente no país, o que despertou a revolta popular e foi um dos fatores desencadeantes das grandes manifestações de protesto verificadas em 2020 e da retumbante derrota da direita neoliberal nas recentes eleições para a Constituinte.
O canto de sereia neoliberal entoado por Paulo Guedes só convence bolsonaristas incautos. Até o mercado financeiro está se cansando de suas bravatas e mentiras. Lembremos que ele disse que, um ano atrás, ele se vangloriava com a ilusão de que a economia estava ensaiando uma “retomada em V”, o que em economês significa uma recuperação rápida e vigorosa. Evidentemente, não é o que vemos hoje.
Fora Bolsonaro
Guedes agora deu também para delirar em público falando em plano para os próximos 10 anos. O destino mais que provável do desastroso governo Bolsonaro é o olho da rua. Se escapar da cassação do mandato ou do impeachment, Bolsonaro será barrado nas eleições de 2022 e poderá se considerar um homem de sorte se lograr evitar a cadeia.
Os ventos progressistas que varreram o pinochetismo no Chile está soprando também por aqui e vai arrastar para a lata de lixo da história o patético Posto Ipiranga de Bolsonaro e seu desastroso projeto de restauração neoliberal.
Sábado é dia de manifestações. Soará forte nas ruas o clamor do povo: Fora Bolsonaro!
Se inscreva no nosso canal no YouTube /TVClassista