Luis Mir: Vacina é vacina, negócios à parte

O primado da saúde pública – universal, gratuita, equânime – é atacado sem medidas desde a década 1990. Aqui e no mundo. Ela é o anti-business por excelência na saúde.

E a “guerra comercial” que instalaram em torno das vacinas em desenvolvimento contra o coronavírus está proporcionando um festival de horrores da parte de alguns dos seus participantes. Até aqui é o maior “negócio” na área da saúde do mundo neste século. Nos primeiros três anos de vacinação em massa movimentará, no mínimo, 5 bilhões de dólares.

Até agora, as únicas duas vacinas seguras, eficazes, em reta final, são as duas chinesas (não vou repetir quais são). E uma terceira, a da Astra Zeneca, encomendada a Oxford, vai pelo bom caminho. Mas ainda atrás (bastante) dos excepcionais resultados das chinesas.

A patente da vacina de Oxford não será dela. É da Astra Zeneca. Eles são apenas os contratados para viabilizá-la.

Porque o sucesso chinês? É simples. São os maiores especialistas em coronavírus do mundo. E começaram a sua pesquisa, em janeiro de 2020, logo quando identificaram a mutação do vírus.

Eles já tinham vacinas contra o corona (para animais). Então não foi começar do zero. E sim continuar o que já faziam. E colocaram os zilhões e centenas de pesquisadores necessários, em alguns dos mais modernos laboratórios do mundo atualmente, para pesquisar.

Os chineses, ao defenderem, desde o início, que a vacina deveria ser gratuita, universal, para toda a humanidade, atraíram um ódio incontrolável dos laboratórios privados. Como assim? Enlouqueceram? Pública, gratuita, universal?

É simples. A “venda” da sua vacina para o mundo é um número desprezível em sua balança comercial. Uma merreca. Entretanto, o ganho ético e político com essa postura, vale cinco balanças comerciais anuais. Façam a conta na maquininha.

Porque os EUA compraram toda a produção da Pfizer- BioNTech? Porque querem derrotar o “vírus chinês” com uma vacina “nacional”, produzida por ele (com um coadjuvante alemão). O ritmo e os resultados não estão sendo os esperados.

Tanto é que suspenderam os pagamentos parcelados (de 2 bilhões de dólares no total) da encomenda. E só pagarão agora se a vacina for eficaz, segura. Os resultados não estão sendo os prometidos.

Torço pelas vacinas chinesas? Torço por qualquer vacina, que seja eficaz, segura, para qualquer virose, não só essa que estamos enfrentando atualmente como emergência mundial. Pode até ser uma desenvolvida, no Piauí, por uma farmácia de manipulação.

E antes de qualquer defesa ou crítica a vacina X ou a vacina Y, atenham-se a história natural das viroses. O corona está aí rodando no mundo animal, conhecido desde a década de 1960.

Meu desejo secreto? Que aproveitemos o que está acontecendo e que a distribuição e imunização gratuita da humanidade seja feita pela OMS, em cooperação estreita com todos os governos do mundo.

E que criemos um novo padrão universal de cooperação na área da saúde. Não só para vacinas, mas para outras emergências.

Terminando, fala-se que estão em pesquisa e desenvolvimento mais de 150 vacinas contra o corona mundo afora. Não passam de cinco as viáveis. E deverão ficar entre duas, no máximo três, as que poderão ser utilizadas com segurança e eficácia.