Tragédia em BH e a mídia macabra

Atordoada com a pesquisa do Datafolha, que apontou a melhoria do humor dos brasileiros com o sucesso da Copa e seus reflexos positivos na candidatura de Dilma Rousseff, a mídia tucana está à procura de cadáveres. Nesta sexta-feira (4), todos os jornalões deram manchetes garrafais para a tragédia que atingiu Belo Horizonte e resultou na morte de duas pessoas. A mídia macabra evita criticar a empreiteira Cowan, responsável pela construção do viaduto que desabou; também isenta o prefeito da capital mineira, Marcio Lacerda, um aecista convicto que inclusive rompeu com seu partido (PSB) para apoiar o candidato tucano ao governo estadual. Tudo é feito para desgastar a imagem da presidenta!

Os barões da mídia até parece que combinaram suas manchetes espalhafatosas num encontro mórbido. Folha: “Obra inacabada da Copa desaba e mata 1 em BH”; O Globo: “Viaduto de obra da Copa desaba e mata 2 em BH”; Estadão: “Viaduto planejado para Copa cai e mata 2”. O tom da cobertura também é idêntico. Todos os jornais enfatizam que a construção faz parte do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), com o nítido propósito de culpar o governo federal. Evitam destacar o fato de que a execução das obras do PAC cabe aos estados e municípios. Até a lacônica explicação do prefeito Marcio Lacerda, de que a tragédia foi uma simples “falha de engenheira”, passa batido pelos jornalões.

A Cowan foi contratada pela prefeitura de Belo Horizonte para duplicar uma avenida e construir três viadutos nas proximidades do estádio do Mineirão. As obras, com um custo de R$ 171 milhões (afora os aditivos), não foram concluídas a tempo para os jogos da Copa. Além do atraso – que não é realçado pela mídia privada, que adora criticar apenas a ineficiência do setor público –, agora ocorreu o desabamento. Para o prefeito, “acidentes como esse infelizmente acontecem… Não sabemos se é falha de projeto ou de construção. Serão feitas todas as perícias, um inquérito policial será aberto e essa análise será feita com cuidado”. Lacerda também garante que a prefeitura fiscalizou a execução da obra.

Em editorial, a Folha tucana não fez qualquer crítica à empreiteira e ao prefeito amigão de Aécio Neves, o cambaleante candidato do PSDB. Num oportunismo explícito, ela preferiu tratar do “humor da Copa” e dos reflexos nas eleições. Para o jornal, a queda do viaduto “não foi, felizmente, tragédia de maiores proporções. Serve para lembrar, ainda assim, o quanto houve de irresponsabilidade e improviso, para nada dizer de corrupção, na organização do Mundial”. Ao tratar da pesquisa Datafolha, que apontou o crescimento de Dilma, a Folha escancara a sua torcida. “Não é improvável que, passada a Copa, a percepção positiva venha a ser confrontada com outras realidades e se dilua no turbilhão da campanha eleitoral”.

Como já apontou Fernando Brito, no excelente blog Tijolaço, a cobertura da triste tragédia em Belo Horizonte só confirma a “politicagem mórbida” da mídia. Ele lembra que “há menos de um mês, caiu uma viga da obra do monotrilho da Linha 17 – Ouro do Metrô paulista, próxima ao Aeroporto de Congonhas, e matou uma pessoa. O monotrilho, que fará a ligação entre o aeroporto de Congonhas e a rede de trens metropolitanos, era, como está noticiado em uma velha matéria do UOL, ‘a única obra de responsabilidade do governo do Estado de São Paulo que consta na Matriz de Responsabilidades da Copa do Mundo’”. A mídia tucana, porém, não fez qualquer escarcéu e rapidamente arquivou esta tragédia! Geraldo Alckmin, candidato à reeleição do PSDB, deve ter agradecido – sabe se lá como!

Altamiro Borges é jornalista, blogueiro e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé

Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.