“Getúlio – 1930-1945: Do governo provisório à ditadura do Estado Novo”

No segundo volume, o presidente Vargas, como chefe do governo provisório, tinha sob seu comando um país economicamente arrasado, devido à crise mundial e a seus rebatimentos internos, como a queda brutal dos preços do café, reduzidas reservas cambiais e alta dívida externa. No campo social, o país estava muito atrasado. Havia pouco menos de 41 anos, havia saído do regime escravista e com um ex-presidente deposto que berrava que a “questão social era um caso de polícia”.

Motivado economicamente pela falência do mercado cafeeiro, pela crise mundial, o empresariado paulista reage ao governo provisório de Getúlio Vargas. Sob a égide do conservador jornal O Estado de S. Paulo, de propriedade de Júlio Mesquita Filho, a sociedade paulista contesta a legitimidadedo governo Vargas. O propalado movimento constitucionalista de 9 de julho de 1932 representa verdadeiramente uma desforra das velhas oligarquias cafeeiras apeadas do poder em 1930.

Em meio à Constituinte de 1934 e à eleição indireta do presidente Vargas, surge, em janeiro de 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ALN). Um movimento popular de resistência à Lei de Segurança Nacional. A ALN teve notória participação de militares simpatizantes do Tenentismo. Em novembro de 1935, é deflagrada a insurreição comunista; levante com base apenas nos setores militares, tem os estados de Pernambuco e Rio de Janeiro como focos. Mas é o Rio Grande do Norte que registra mais adesão popular. A repressão getulista foi forte, contra os insurgentes. O governo Vargas caminha para um regime fascista e, em 1937, instaura a ditadura do Estado Novo, em que persegue, oprime, tortura e assassina milhares de democratas e comunistas.

Apesar de vários intelectuais, jornalistas e artistas serem presos, na verdade, foi uma verdadeira caça aos comunistas. Os membros do Partido Comunista foram as maiores vítimas da insanidade facista que norteou Getúlio Vargas no período. Nesse período, estoura a Segunda Guerra Mundial e o governo Vargas é favorável aos países nazifascistas.Esse movimento ideológico também se processa no governo estadonovista de Vargas. O presidente soube barganhar ora com um ora com outro país envolvido na guerra, para trazer investimentos ao Brasil. Ao fim, sai um acordo com os norte-americanos que prevê, entre várias cláusulas, expressivo aporte financeiro para a construção de uma usina siderúrgica brasileira.

O fim do Estado Novo estava chegando. Vem a vitória das forças aliadas tendo como lideranças vitoriosas a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e os Estados Unidos da América (EUA). O presidente Vargas inclina-se às aspirações trabalhistas e se distancia de setores ultraconservadores que já não apoiavam mais o Estado Novo. Como tentativa de permanecer no poder, Getúlio Vargas incentiva e participa de manifestações populares e trabalhistas.

Essas manifestações tinham apoio popular devido à legislação de proteção ao trabalho: a CLT. O movimento é batizado como “queremos Getúlio”, ou queremismo. O ambiente internacional de democracia, com o fim da Segunda Guerra Mundial, atinge o governo Vargas. Dois grandes partidos são inicialmente formados: o Partido Social Democrático (PSD), que congrega os principais interventores do período do Estado Novo; e a União Democrática Nacional (UDN), uma frente antigetulista. Em seguida, o próprio Getúlio Vargas incentiva a criação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), formado por lideranças sindicais.

A deposição de Getúlio Vargas em 1945, é, na verdade, um golpe branco. Todo o ministério de Vargas, sob pressão dos militares, pressiona o presidente à renúncia, o que ocorre de fato.


 

Rogério de Carvalho Nunes é coordenador adjunto do Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho (CES), secretário de Políticas Sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), assistente social e mestre em Serviço Social/PUC-SP

** 2ª parte. O texto “Getúlio: biografia de um grande e polêmico presidente” está divido em 3 partes, conforme triologia lançada pelo biógrafo Lira Neto. Texto publicado originalmente publicado na Revista Princípios – Edição nº 135- Mar/Abr – 2015

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