Reescrevendo a história (1)

Analisando alguns documentários, algumas escritas da chamada nova direita brasileira, podemos notar que existe um esforço imenso em tentar reescrever a história, em listar paradigmas que possam justificar os governos repressivos no passado recente, se referindo aos erros para que possam não ser mais repetidas, e listando justificativas que enfim os façam merecedores do perdão por todos os seus excessos.

Assistindo um documentário sobre a Ditadura Militar no Brasil, foi claramente notado que os adeptos do filósofo Olavo de Carvalho, grupo esse que atualmente exerce grande influência no governo do Brasil, eles fazem claramente uma análise de conjuntura bastante contundente, nas quais listam falhas e suas consequências, os caminhos percorridos e fatores que justificam a instalação do Governo Militar. Como estrutura histórica, muitos líderes políticos, e governos do passado estavam segundo essa lógica, transfigurados para que os brasileiros não percebessem a influência e financiamento da então União Soviética. Inclusive em alguns documentários eu pude ver a figura do Leonel Brizola sendo associada ao socialismo soviético, como a figura do Jânio Quadros também, a associação mais veemente é feita sobre o Juscelino Kubitschek de Oliveira, contudo pela construção da Nova capital em Brasília, associada ao fato da escolha como projetista o saudoso Oscar Niemeyer. Tudo isso narrado como um pacto bem fundamentado para tornar o Brasil uma célula da União Soviética.

Sobre os acontecimentos do governo João Goulart, há um esforço grandioso de tirar contexto suas falas e seus discursos, o Jango é relatado como um perigo iminente que precisava ser contido. A ameaça comunista e sindical no seu governo era tão notável que foi capaz de comover a sociedade civil e religiosa num nível nunca visto e imaginado.

A figura da guerra fria na ditadura

Sobre o fator guerra fria, realmente eles associam que todos esses acontecimentos tiveram por trás essa divisão que houvera naquele período, em que se dividiu o mundo em dois, de um lado os Estados Unidos da América e do outro lado a União Soviética. Então existe concordância nesse termo, pois a história não pôde esconder que os EUA financiaram os governos repressivos na América latina.

Todavia, vale a pena ressaltar, a notável convicção da direita brasileira nessa narrativa, não é atoa que eles estão se reinventando, fazendo contraponto, analisando a história no seu contexto e visivelmente se preparado para um novo ciclo, eu confesso que na verdade é isso que me causa arrepios.

Tudo que podemos considerar o lado mais nacionalista do Governo Militar no Brasil, o fato de nesse período ter se fortalecido a indústria brasileira, a fortificação das estatais como a Petrobras e o próprio Correios, assim como outras empresas que foram visivelmente fortalecidas durante esse período. Eles analisam toda essa prática, como o seu maior erro, pode ser natada a veemência da critica, como se os militares tivessem construído um país inchado e cheio de vícios para entregar todo o pacote aos socialistas, é assim eles definem os governos da nova república até a chegada de Jair Bolsonaro a presidência.

Revolução acadêmica e cultural

Outra constatação que os Olavistas e a nova direita fazem, é um enredo bem digno de filmes de hollywood. A narração é a seguinte, os comunistas que visavam tomar o poder através da guerrilha, ou seja, pegando em armas, ao ver o plano frustrado pela inteligência militar, tendo o guiar desse caminho ferozmente interrompido, por orientação do Comitê Central do Partido Comunista na Europa, a esquerda brasileira, nossos comunistas, mudam então a tática de guerrilha com armas, para uma nova guerrilha nos espaços intelectuais. Assim tomaram as academias, se apossaram da cultura do nosso país, ou seja, alcançaram com outras ações a sua tão sonhada revolução.

Revolução que não fora bem sucedida na busca do poder político, porém ela aconteceu no campo da cultura, no campo da gramática, no campo da academia etc. segundo essa lógica, todos os nossos intelectuais, a maioria dos professores, os métodos de ensino, os adeptos da ciência e tecnologia, nossas universidades públicas, nossos poetas e compositores, nossos maiores escritores e os nomes da MPB etc. todos eles até hoje influenciados por esta revolução comunista cultural.

Conclusão…

Quando aqueles que tomaram o poder através de um golpe, e se perpetuaram no poder por sucessões de golpes, fazem contraponto, analisam erros e acertos. É sinal que se fosse hoje, eles fariam completamente diferente, enxergo isso com temor, porém deve servir de alerta para todos os democratas brasileiros.

Moisés Poeta é diretor do Sindicato dos Correios de São Paulo