Quem constrói o mundo?

Cada vez mais crianças são obrigadas a ingressar no mercado de trabalho para poderem comer. Centenas de lideranças trabalhistas são assassinadas por paramilitares ligados aos empresários e ao governo. O desemprego se generaliza e os poucos que ainda o tem devem aceitar políticas de austeridade e redução de direitos sociais. Inúmeras batalhas são travadas contra as medidas arbitrárias de muitos países que beneficiam as multinacionais. Mulheres ainda ganham mesmo que os homens.

O mundo passa por uma singular transição devido aos avanços tecnológicos e à descentralização dos centros produtivos – e a hegemonia do capital financeiro que afetaram significativamente as formas organizativas e de lutas da classe trabalhadora.

Essa situação – que desembocou na crise econômica que abalou as economias e desestabilizou o mercado de trabalho, principalmente na Europa – tem gerado certas anomalias no próprio movimento dos trabalhadores: muitos sindicatos, antes protagonistas nas principais disputas políticas no mundo, passaram a se institucionalizar, o que provocou o surgimento do chamado sindicalismo de resultado, despolitizado, burocrático, apoiando o neoliberalismo e se limitando a campanhas salariais e a impostos sindicais.

Esses sindicatos – amplamente apoiados por empresários e políticos conservadores -, aliado a grande desregulamentação das históricas conquistas dos trabalhadores, eclipsou uma significativa parcela do movimento dos trabalhadores, conduzindo a uma crise que representatividade. Porém, é tempo de luta.
É necessário o fortalecimento de um sindicalismo classista, que se apóie nos trabalhadores, que construam soluções coletivas e recupere o protagonismo que os trabalhadores sempre tiveram na luta pela transformação social. Mais que isso: a luta deve ser internacionalizada.

Com os visíveis estreitamentos das fronteiras entre os países, provocados pelo desenvolvimento tecnológico e a proliferação de empresas transnacionais, é possível criar um movimento sindical unificado que, além de travar disputas regionais, também some forças para reivindicar melhorias em um plano mundial, afinal, se, por exemplos, os 180 mil metalúrgicos do Grupo Fiat decidirem exigir salários mais justos, parando suas 178 fábricas, com certeza chegaram a resultados mais sólidos.

Porém a luta é estrutural e, em todos os países, na maioria das vezes, se convergem em único ponto: a flexibilização das relações trabalhistas. Quer o desemprego na Europa, a precarização dos direitos trabalhistas na Ásia ou a luta contra o Projeto de Lei 4330 – que escancara a precarização no Brasil – a causa vem dessa saída do capitalismo para enfrentar suas contínuas crises, que começou nos anos 1970, com o fim do Estado de bem-estar social, e se aprofundou nos anos 1980/90.

Esse sindicalismo classista pode consolidar um passo adiante para a conquista de direitos sociais, mostrando que trabalhadores de todo o mundo, a cada dia, a cada luta, estão se unindo para construir um mundo mais justo. É possível, afinal, como uma vez questionou o dramaturgo Bertolt Brecht [1898-1956], “Quem construiu Tebas, a cidade das sete portas?/Nos livros estão nomes de reis/os reis carregaram as pedras?”. Sim, não são os empresários nem o capital especulativo que constroem nossa sociedade. Somos nós, os trabalhadores.


Marcelino Rocha é presidente da CTB-MG e da Federação Intersindical dos Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal).

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.