Que a morte de Tiradentes não tenha sido em vão

Uma conspiração golpista ocorre no Brasil já à luz do dia, com transmissão ao vivo por emissoras de televisão. Atacam a presidenta Dilma Rousseff e seu governo pelas maneiras mais torpes e ninguém faz nada.

Pior. O Supremo Tribunal Federal protela decisão sobre pedido de cassação de Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, que tem contra si dezenas de acusações de recebimento de propina.

Cunha visivelmente manobra o regimento da Câmara, usando seu cargo, para bloquear as investigações que recaem sobre si e familiares. Além das inúmeras denúncias de chantagem, pressão e ameaças a deputados que tentam se libertar de seu jugo.

E a Suprema Corte parece se apequenar diante de tamanho pouco caso com a coisa pública. Os juízes do STF também se calam perante o encaminhamento do ministro Marco Aurélio Mello para que Cunha dê andamento ao pedido de impeachment do vice-presidente Michel “vaza” Temer.

Mas parece que os ministros preferem o conforto da boca fechada e não correr riscos ao enfrentar a mídia golpista. Talvez medo de serem difamados como o são Lula, Dilma, os partidos de esquerda e progressistas e os movimentos sociais constantemente. Exceção a Marco Aurélio Mello, que tem sido voz dissonante na defesa da Constituição.

A situação ficou ainda pior, quando o Supremo permitiu que a Comissão Especial sobre o pedido de impeachment produzisse um relatório infame e no dia 11 de abril esse relatório fosse aprovado, sem nenhuma prova de crime contra Dilma.

Mas a situação ficou mais degradante quando o STF se calou nas constantes manobras de Eduardo Cunha – imperador da Câmara. Com cerceamento de defesa, acusações de ameaças a deputados e desobediência a critérios imparciais para a condução do processo.

Como verdadeiro imperador, Cunha fez o que quis e como quis. E silêncio absoluto do STF. Pasmem. Com o circo armado, no domingo (17) a falta de compostura, de respeito à Constituição, ao país e à inteligência, os deputados desfilaram uma enormidade de sandices e envergonharam o Brasil no mundo inteiro. Viramos chacota.

E o STF nada. 367 traidores da pátria, da justiça e do povo brasileiro falaram absurdos. Inclusive com homenagens trágicas a notório torturador da época da ditadura. Não dá para segurar a indignação perante a deputados tão fáceis de serem manipulados pelo imperador.

Mas a luta continua. Não pode parar nunca. O povo brasileiro é de luta, a juventude está nas ruas de braço dado com a classe trabalhadora e a feliz companhia de artistas e intelectuais comprometidos com a Nação e com o combate às desigualdades.

Pior ainda, O STF adiou a votação sobre a liminar dada pelo também ministro Gilmar Mendes, impedindo o ex-presidente Lula de assumir a Casa Civil e, assim ajudar a presidenta Dilma a construir – aí sim – uma ponte para um futuro com Dilma na Presidência e avanços na jovem democracia brasileira.

Uma ponte alicerçada na conjunção das forças populares, na classe trabalhadora, na liberdade, na soberania nacional e no respeito aos semelhantes, contra todas as formas de discriminação e usurpação. Uma ponte calcada na justiça e na igualdade de direitos.

Espera-se agora que o Senado Federal possa resgatar a nossa dignidade e mostar ao mundo que o Brasil não é uma “república de bananas”. Espera-seque a morte de grandes herois nacionais com Joaquim José da Silva Xavier – Tiradentes -, enforcado pela corte portuguesa em 21 de abril de 1792, por ser o único representante popular da Inconfidência Mineira. Que a morte de Tiradentes não tenha sido em vão.

Marcos Aurélio Ruy é jornalista do Portal CTB.

 Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.

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