É preciso mais ousadia na mobilização para o dia 30. Por João Batista Lemos

Temos apenas cinco dias para preparar as manifestações de 30 de março, o Dia de Mobilização e Luta em Defesa do Emprego e dos Direitos Sociais, convocado unitariamente por todas as centrais sindicais e as organizações mais representativas dos movimentos sociais brasileiros, e pouco mais de um mês para o 1º de Maio.

O momento exige dos sindicalistas, em particular das lideranças da CTB em todos os estados, um empenho redobrado, o que requer a superação da rotina e do espírito burocrático de “cumprir agenda” e uma agitação mais intensa nas bases. É hora de despertar a consciência dos trabalhadores e trabalhadoras no chão das fábricas e nos demais locais de trabalho para a necessidade da luta.

Pensar grande

Devemos pensar grande e procurar nos colocar à altura do desafio que emerge com a crise. Miremos os exemplos de Portugal, onde o movimento sindical conseguiu reunir mais de 200 mil em defesa do emprego, dos salários e dos direitos, no dia 13 de março; e da França, onde uma greve geral e mais de 200 passeatas promovidas no dia 19 contra o governo Sarkozy, apoiadas por mais de 70% da população, mobilizaram cerca de 3 milhões de pessoas, transmitindo ao mundo um recado claro e contundente de que a classe trabalhadora não quer arcar com o custo da depressão econômica.

A economia estadunidense destruiu quase 5 milhões de postos de trabalho desde o início da recessão em dezembro de 2007, no Japão milhares de imigrantes brasileiros (dekasseguis) perderam o emprego e moradia, na Espanha a taxa de desocupação pulou de 8% para 15% em um ano, na zona do euro o índice subiu de 7,2% para 8,2% e tende a avançar ainda mais. A China perdeu 20 milhões de vagas e a OIT (Organização Internacional do Trabalho) estima que 32 milhões vão engrossar o exército de desempregados nos chamados países emergentes ao longo deste ano, enquanto o Banco Mundial calcula que outros 53 milhões serão condenados à extrema pobreza.

Flagelo

O desemprego é um flagelo para as famílias operárias, que são induzidas a encontrar ocupação para a maioria dos seus membros em função dos baixos salários, de forma a compor uma renda capaz de custear minimamente as despesas mensais. A demissão em massa é humilhante e ofende a dignidade do trabalhador. Mas, não é uma fatalidade inevitável, pois depende da decisão dos capitalistas e, por esta razão, pode ser barrada pela luta enérgica da nossa classe.   

O Dia Nacional de Mobilização e Luta será a primeira resposta mais vigorosa e unificada da nossa classe trabalhadora à crise, ou mais precisamente às manobras patronais para descarregar o ônus da recessão exportada pelos EUA sobre as costas do povo e as iniciativas das potências capitalistas para que as nações mais pobres paguem o pato. Não devemos perder um só minuto no esforço de mobilização.

Defesa do desenvolvimento

Ao lado da luta imediata em defesa do emprego e dos direitos devemos levantar a bandeira do desenvolvimento nacional com soberania e valorização do trabalho, denunciar o capitalismo e apontar a perspectiva do socialismo com única saída definitiva para as crises. Nossa responsabilidade, enquanto dirigentes sindicais, é grande e cresce neste momento. Temos de consolidar e ampliar a unidade alcançada até agora e levar em conta os seguintes pontos:

Acentuar o caráter internacionalista do movimento, divulgando, ao lado das bandeiras unitárias das centrais, a palavra de ordem proposta pela FSM para as manifestações de 1º de abril “Em defesa dos direitos dos trabalhadores, contra exploração”, bem como o logotipo da Federação.

Crise do capitalismo

Estamos diante de uma crise geral do capitalismo, uma crise que castiga duramente a força do trabalho em todo o planeta, disseminando o flagelo do desemprego, do arrocho salarial, da flexibilização de direitos e da precarização e elege suas maiores vítimas entre os segmentos mais frágeis dos assalariados, caso dos imigrantes na Europa, Japão e EUA, e dos empregados temporários no Brasil.

Devemos procurar conferir um caráter massivo às manifestações. Muitas vezes participamos das atividades convocadas pelos sindicatos e os movimentos sociais apenas para cumprir agenda. Diante da gravidade da crise é necessário romper com a rotina e o burocratismo. Os sindicatos no Brasil, por vários motivos, estão pouco enraizados nos lugares de trabalho.

Campo

É essencial e urgente agir para mudar este quadro, intensificando o contato com as bases. É necessário garantir a sustentação material e motivar a participação da juventude trabalhadora, das mulheres e demais movimentos sociais nesta luta. As Fetags devem envolver os trabalhadores rurais nestas mobilizações, inclusive porque o campo foi fortemente afetado pela crise. A luta é de todos.

Com ousadia e combatividade é necessário promover paralisações onde for possível, atos públicos, marchas e outras formas de manifestações para chamar a atenção da sociedade e da chamada opinião para a realidade da classe trabalhadora. O desemprego é um problema de toda a sociedade e devemos, também aqui, mirar o exemplo da França, onde mais de 70% da população apoiou a greve geral e as passeatas realizadas no dia 19.

Vamos à luta! O 30 de março será um momento privilegiado para convocar um 1º de Maio massivo, unitário e de luta.


João Batista Lemos é secretário adjunto de Relações Internacionais da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)

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