Por que a mídia protege Bolsonaro?

Há um novo exemplo de descasamento entre o que os leitores dos jornais julgam importante e o que vai para as manchetes. Desde terça-feira, as matérias sobre o discurso provocador do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), ofendendo e ameaçando sua colega Maria do Rosário (PT-RS), estão entre as mais lidas, nos sites da Folha, Estado e Globo. No entanto, o assunto recebe, destes órgãos, destaque muito menos relevante: está ausente das capas, nas edições impressas. Nas páginas iniciais dos respectivos sites, ou não comparece (Folha), ou tem espaço secundário (Globo e Estado). Por que?

Como membro do PP, Bolsonaro integra a base do governo. Em condições normais, a brutalidade de seu ato se somaria ao antipetismo dos jornais para explorar um novo problema que surgiu diante de Dilma. Por que, então, minimizar seu ato? Será desejo de preservar uma liderança de extrema direita, de mantê-lo como peça importante no cenário político conturbado que surgirá a partir de 2015?

O gesto do deputado parece ter sido cuidadosamente calculado. A fala odiosa rendeu-lhe enorme destaque – e foi feita na véspera da data em que a Comissão Nacional da Verdade apresentaria seu relatório final sobre os crimes da ditadura. Bolsonaro despontou como óbvio contraponto, num momento em que grupos pedem “intervenção militar”.

Mas o suposto valentão sabia estar protegido pelo regimento da Câmara. O pedido de cassação protocolado ontem por PT, PCdoB, PSOL e PSB terá de ser analisado, em primeiro lugar, pela Comissão de Ética da casa – que só o fará a partir de 2015, quando o noticiário estará coalhado de outros fatos. Em termos práticos, o deputado bateu e correu. Para manter a pressão sobre ele, não bastarão as petições no Avaaz e sites do gênero. Seria possível pensar em algo como um “escracho” ambulante?

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Antonio Martins é editor do site Outras Palavras.

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