Os fantasmas de Bretton Woods estão de volta

No decorrer dos últimos anos, FMI e Banco Mundial caíram no ostracismo e pareciam dois fantasmas remanescentes dos acordos de Bretton Wodds condenados à irrelevância. E não era para menos. Afinal, as duas instituições supostamente multilaterais, mas dominadas na realidade pelas potências imperialistas e transformadas em instrumentos da banca internacional, deixaram um rastro de destruição e retrocesso social nas recorrentes intervenções que fizeram no então chamado Terceiro Mundo a pretexto de contornar crises financeiras.

O economista estadunidense Josefh Stigritz, em seu livro “A globalização e seus malefícios” denunciou os efeitos perversos das receitas que foram impostas a vários países, inclusive no Brasil e na América Latina e especialmente na Ásia, por ocasião da “crise asiática” de 1997. O Fundo aportou por aqui no início dos anos 1980, quando eclodiu a crise da dívida externa e seus conselhos, acatados de forma acrítica pela ditadura militar e, mais tarde, pelo governo neoliberal de FHC, nos custaram cerca de 25 anos de desenvolvimento nacional. Compreende-se aí a razão da palavra-de-ordem mais popular reiterada nas manifestações sociais ocorridas no período: Fora FMI!

Dois mostrengos

Do ponto de vista da classe trabalhadora e dos povos o ostracismo era um destino justo para o FMI, que sempre teve seu principal dirigente indicado pelas potências européias, e o Banco Mundial, cujo presidente sempre foi norte-americano. Mas, eis que o G-20, reunido em Londres na quinta-feira (2), resolveu ressuscitar os dois monstrengos moribundos, neles injetando centenas de bilhões de dólares. Ao FMI foram prometidos 750 bilhões para “socorrer” países em apuros no leste europeu e na América Latina. Felizmente, o Brasil acumulou um volume confortável de reservas e, pelo menos por ora, não precisa recorrer a tais recursos.

Dizem que agora, que temos o G-20 e uma influência maior das “economias emergentes” no mundo, as coisas serão diferentes. FMI e Banco Mundial serão reformados, segundo as promessas correntes. Abandonarão as receitas recessivas e não zelarão apenas pelos interesses das potências imperialistas e seus bancos, como fizeram até agora. É o que veremos.

Agonia

Creio que não devemos depositar nossas esperanças na reforma da ordem imperialista remanescente de Bretton Woods, que já não faz sentido na atualidade  e deu fartas provas de que está esgotada. A atual crise parece ser a prova dos nove neste sentido. Tudo que se quer conseguir com o fortalecimento dos dois monstrengos é prolongar a agonia da atual ordem imperialista mundial, fundada como se sabe na cadente hegemonia dos EUA e num padrão monetário (supremacia do dólar) em franca decomposição.

O que se impõe, o que é necessário para fazer frente à crise e corresponde aos interesses dos povos é a substituição, e não a reforma, da atual (des)ordem econômica mundial. E isto deve começar pelo fim da hegemonia do dólar e sua imediata substituição por um padrão monetário supranacional, solução que já foi proposta pela China, cuja emergência como grande potência econômica e condição de maior credora do Tio Sam não podem mais ser ignoradas, e também pela rebelde Rússia. A sugestão de Pequim e Moscou representaria um passo no sentido da superação dos colossais desequilíbrios que perturbam o comércio internacional e o fluxo de capitais estrangeiros, mas é rejeitada a priori pelos EUA, que sequer admitem debater o assunto.
Naturalmente, o G-20 passou ao largo do tema para fazer prevalecer, perante a opinião pública mundial, uma falsa imagem de unidade de propósitos de um grupo que, nos bastidores, vem sendo consumido pela discórdia. Enquanto isto, a crise prossegue. Em março o desemprego nos Estados Unidos alcançou o seu mais alto nível desde novembro de 1983, saltando para 8,5%, 663 mil postos de trabalho foram destruídos e o número de assalariados que vivem à base do seguro-desemprego subiu para 5,7 milhões. A classe trabalhadora não deve se iludir com as promessas dos que hoje governam o mundo e as intervenções trilionárias dos Estados capitalistas, que têm revelado notória impotência diante da crise e tendem a agravar os desequilíbrios que caracterizam a atual ordem imperialista (emanados do parasitismo que assola a economia norte-americana) e (embora isto não pareça óbvio) estão na base da depressão econômica exportada pelos EUA.

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