Por Rene Vicente, presidente interino da CTB
Quando a União Soviética foi dissolvida, em 1991, e a Rússia, liderada por Bóris Yeltsin, aprofundou e radicalizou o processo de restauração do sistema capitalista no país, levando de roldão todo o leste europeu socialista pelo mesmo caminho, muitos imaginaram e vaticinaram que Cuba iria seguir o mesmo caminho contrarrevolucionário.
Mas isto não ocorreu. Ao lado da China, do Vietnam e da Coréia do Norte, a heroica Ilha Socialista não se deixou arrastar pelo canto de sereia capitalista e neoliberal que anunciava o fim da história e a perpetuação do liberalismo burguês, reiterando a ideia de que não existe alternativa ao capitalismo.
Cuba seguiu sob o sólido comando do Partido Comunista, que por seu turno não abriu mão de seus princípios, objetivos e símbolos, manteve a bandeira com a foice e o martelo, que traduz a identidade classista com a classe trabalhadora do campo e da cidade, bem como a solidariedade internacionalista e a denúncia, sempre enérgica, do imperialismo e seus múltiplos crimes. Rejeitou e condenou o neoliberalismo.
Não me parece exagerado dizer que a liderança de Fidel Castro foi fundamental para a manutenção do espírito revolucionário, dos objetivos socialistas e da soberania cubana, a resistência à forte pressão e as reiteradas derrotas impostas ao imperialismo e à contrarrevolução.
Réveillon de 1959
O comandante já ficou consagrado na história como o maior líder revolucionário latino-americano do século 20. Ao lado de Che Guevara, Raúl Castro e Camilo Cienfuegos, dirigiu a revolução que sacudiu Havana no réveillon de 1959, derrubou o ditador Fulgêncio Batista – que tinha transformado a ilha numa espécie de boate e cassino de bilionários e mafiosos estadunidenses -, conquistou a soberania e resgatou a dignidade do povo cubano.
É bom lembrar que a revolução teve, de início, um caráter eminentemente democrático e nacional, afastando o país da órbita e do domínio imperialista hegemonizado pelos EUA. Mas na medida em que o processo revolucionário avançou, confiscando terras para promover a reforma agrária e expropriando multinacionais estadunidenses, o regime se defrontou com a reação intolerante e furiosa de Washington.
Diante disto, e contando então com a solidariedade da União Soviética, em 1961, três anos após a conquista do poder, o comandante Fidel Castro e demais autoridades cubanas decidiram proclamar o objetivo socialista da revolução.
Bloqueio econômico
Em represália, no ano seguinte, o presidente dos EUA, John F. Kennedy, estabeleceu o odioso bloqueio econômico à ilha, que completa neste mês 62 anos e foi intensificado recentemente, contrariando as recorrentes resoluções aprovadas anualmente nas Assembleias Gerais ONU exigindo o fim do bloqueio, que cria grandes obstáculos e impõe graves prejuízos à economia cubana, com impactos negativos inclusive na saúde.
A revolução não percorreu um caminho de flores e a coerência e defesa dos princípios revolucionários após a queda da União Soviética cobraram um preço alto e os sacrifícios sociais do Período Especial em Tempo de Paz. Mas Cuba resistiu como ainda resiste à estratégia de guerra híbrida que os imperialistas de Washington movem contra a ilha rebelde.
Universalização do acesso à saúde e educação
Não obstante as dificuldades econômicas, derivadas em larga medida do bloqueio imperialista, a ilha socialista garante condições dignas de vida ao conjunto da sua população, universalizou o acesso ao sistema público de saúde e exibe índices invejáveis nesta área e em educação, comparáveis apenas aos dos países mais ricos e desenvolvidos. Não há analfabetos, pessoas passando fome ou morando nas ruas em Cuba.
A fantasia do fim da história evaporou e a dura realidade expôs as contradições insanáveis que dilaceram o capitalismo dos nossos dias, capitalismo que Lênin, o chefe genial da revolução soviética, definiu como imperialismo, um sistema global dominado por oligopólios.
Conforme declarou o atual presidente russo, Vladmir Putin, o fim da União Soviética foi a maior tragédia geopolítica do século 20. O povo pagou um preço muito alto pela restauração radical do capitalismo capitaneada por políticos, economistas e empresários norte-americanos. Entre 1992 a 1998, o PIB da Rússia encolheu pela metade e a expectativa de vida recuou de 69 para 64 anos.
Decadência dos EUA
Ao mesmo tempo, a ordem capitalista mundial hegemonizada pelos EUA, alicerçada nos acordos celebrados em Bretton Woods, iniciava um processo de lenta decomposição. Corroída pelo consumo parasitário refletido no déficit comercial, que produziu uma acelerada desindustrialização do país, a economia estadunidense padece um crônico e já histórico processo de decadência, o que naturalmente compromete e coloca em xeque o status quo geopolítico e desperta a necessidade de uma nova ordem mundial.
Ao longo das décadas decorridas desde a tragédia soviética, a lei do desenvolvimento desigual das nações, que orienta o desenvolvimento histórico em nossa época, favoreceu a China, cuja economia cresceu durante décadas a uma taxa média situada em torno de 10% ao ano, já superou a dos EUA em muitos aspectos fundamentais e se tornou a principal parceira comercial dos países da América Latina e de quase todo o mundo. A realidade está desenhando um novo panorama econômico e político no século 21.
A próspera potência asiática, que como Cuba não arriou a bandeira comunista e nem abriu mão da liderança do Partido Comunista no desenvolvimento nacional, é vista pelos imperialistas de Washington como a mais séria ameaça à hegemonia que, na contramão da realidade econômica, eles querem manter a qualquer preço. Conter a ascensão chinesa é a obsessão que agora orienta a política externa dos EUA.
Fascismo e guerra
A verdade inscrita nos fatos históricos nos mostra que, embora tenha criado falsas esperanças de paz perpétua, o fim da guerra fria foi acompanhado de uma agressividade crescente dos EUA e da OTAN, que avançou perigosamente para o leste europeu, estimulou as chamadas “revoluções coloridas”, esteve por trás do golpe na Ucrânia e do conflito deste país, hoje sob o comando da extrema direita, com a Rússia. As tensões geopolíticas aumentou consideravelmente ao longo dos últimos anos.
Hoje é notório que o capitalismo neoliberal arde em crises, em sintonia com o esgotamento da ordem imperialista internacional, destrói a Natureza e conduz a humanidade a um caminho que pode desembocar na barbárie fascista e na guerra nuclear. Trata-se de um sistema que já nada de bom pode oferecer à sociedade. Superá-lo tornou-se uma necessidade histórica inadiável, uma questão de vida ou morte para a espécie humana e o próprio planeta Terra.
Socialismo é uma necessidade histórica
Não há solução para os impasses da humanidade nos marcos do sistema capitalista, o que nos remete a palavras proferidas pelo comandante em 1976 que ainda mantêm notável atualidade. “O passado era da colônia e do imperialismo; o futuro é da humanidade, é dos povos, é da Revolução. E os fatos vão demonstrando isso neste hemisfério e em todas as partes.”
A trajetória épica de Fidel Castro, ao lado do povo cubano e dos outros líderes do regime socialista, é um exemplo que ilumina e alimenta o espírito revolucionário e a luta pela soberania, os direitos laborais e a justiça social não só no continente americano como em todo o mundo.