O dragão chinês

De 22 a 31 de julho eu tive a oportunidade de conhecer a China. Participei de uma delegação de dez brasileiros do PT, PSB e PCdoB. Convidados pelo Partido Comunista Chinês, tivemos a oportunidade de transitar pelas relíquias histórias até as mais avançadas áreas de ciência e tecnologia. Foi um banho de cultura e política de um país com cinco mil anos ininterruptos de história.

Os brasileiros tivemos a oportunidade de conhecer o Ninho dos Pássaros e o Cubo d’Água, respectivamente o estádio e o centro aquático onde se realizaram as Olimpíadas de Pequim. Conhecemos também a Cidade Proibida, a Grande Muralha, Museu de Bambu (com inscrições em mandarim) e a casa natal deMao Zedong. Acompanhamos exposições no Centro de Desenvolvimento de Arroz Híbrido e no Centro de Planejamento Urbano de Shangai, visitamos empresas de alta tecnologia, porto, torre de TV e um espetáculo de acrobacia.

Para além dessas visitas, todas monitoradas por especialistas de cada uma das áreas, participamos também de reuniões com lideranças partidárias e acadêmicas sobre as relações da China com a América Latina e o Brasil, sobre o PCCh e principalmente sobre a política de reforma e abertura. Tivemos também a oportundiade, cada um dos partidos, de reuniões bilaterais com o PCCh e de expor nossos pontos de vista sobre a realidade brasileira.

A surpresa chinesa

Quando se chega à China, o impacto é imediato. Aeroportos bem maiores e modernos do que os brasileiros, estradas, vias elevadas, trens-balas, metrô em um sofisticado sistema viário, ampla arborização nas cidades, edifícios modernos e futuristas ao lado de patrimônios históricos preservados.

Tudo isso é resultado de uma cultura milenar, da constituição da Nova China (a partir da Revolução de 1949) e, atualmente, de três décadas de crescimento do PIB em média 10% ao ano, iniciado em 1978 com a chamada política de reforma e abertura. Para os chineses, o desenvolvimento das forças produtivas é uma obsessão e garantia de duas prioridades estratégicas: independência e prosperidade.

Para a liderança chinesa, antes existia igualdade com pouca renda, hoje reconhecem a existência da desigualdade (social e regional), porém com uma renda bem maior. Esse é um dos desafios postos para a China, ao lado da pressão sobre o meio ambiente (o país consome metade do cimento e do aço produzidos no mundo) e dos complexos problemas teóricos e práticos para se alcançar um consenso sobre o ritmo e a qualidade dos próximos passos da reforma e abertura.

A China e a crise

Com a crise econômica mundial, a China procura inverter suas prioridades, enfatizando o mercado interno e o consumo doméstico em relação aos investimentos com vistas à exportação. O binômio paz e desenvolvimeno continua a presidir a ação daquele país. Teorizam que, ao contrário do que previra Marx, as revoluções socialistas surgiram nos países atrasados, não nos países capitalistas altamente desenvolvidos. Por isso, consideram que a questão do desenvolvimento das forças produtivas é essencial. Um grande objetivo imediato é transferir 300 milhões de chineses do campo para as cidades, para avançar a urbanização no país!

Dez dias são poucos para conhecer a história milenar desse país. Também não é problema simples ter uma opinião de conjunto sobre o modelo chinês, que procura demarcar com o antigo modelo de planejamento centralizado soviético e construi o socialismo em conformidade com as peculariedades chinesas. Com base na visão teórica de que há mercado no socialismo da mesma forma que há planejamento no capitalismo, os chineses adotam aquilo que chamam de economia socialista de mercado, uma busca de equilíbrio entre o forte desenvolvimento das forças de mercado com o controle estatal dos setores estratégicos da economia.

Independentemente do juízo de valor que façamos desse rumo, uma coisa é incontestável. O extraordinário crescimento do dragão chinês é uma realidade irrefutável, que levou o país a ser a segunda economia mundial, a maior potência industrial e protagonista de um crescimento continuado provavelmente sem precedentes na história moderna do mundo.

 



Nivaldo Santana é vice-presidente da CTB.

 

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