O desafio de recuperar o crescimento

O mercado continua revisando para baixo as projeções de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Não é fácil colocar o transatlântico da economia para funcionar, especialmente em um quadro de ladeira (ainda que moderadamente) abaixo.

A atividade econômica é o que os físicos denominam de realidade complexa, na qual inúmeros fatores interagem, influenciando-se mutuamente. Por exemplo, mais estímulo ao consumo pode melhorar o PIB, gerando mais emprego e renda, que por sua vez gera mais consumo. Ou não.

A política econômica tem influência sobre alguns desses fatores, não sobre todos. Mas sua implementação depende da maneira como o organismo econômico, como um todo, reage aos estímulos.

O ciclo do desenvolvimento é assim:

1. Mercado interno + mercado externo (exportações) = Mercado total potencial. O mercado interno é composto por demanda pública (obras de infraestrutura e compras públicas) e privada (consumo das empresas e das famílias).

2. Esses dois mercados são disputados por produtos brasileiros e importados. Quanto maior a parcela do mercado apropriado pela produção brasileira, maior ocupação da capacidade instalada das fábricas.

3. Batendo num determinado nível de capacidade instalada, havendo confiança na manutenção do crescimento, as empresas investem em novas máquinas, aumentam o patamar de produção, gerando novos empregos e mais arrecadação.

Quais os nós da política econômica?

A redução do crescimento do PIB – ora em curso – afeta de duas maneiras a dinâmica do desenvolvimento: reduz o ritmo de crescimento da renda; reduz a arrecadação fiscal. Por outro lado, a renda dos consumidores ainda está carregada pela primeira onda de crediário.

Depois da explosão inicial do consumo, a segunda onda de crediário tem alcance mais restrito, especialmente em um quadro de não aumento de renda. A redução dos juros abre margem para uma reestruturação do endividamento da primeira leva, é verdade, e atrai novos consumidores. Falta mensurar o resultado final, se será suficiente para manter índices de crescimento de consumo mais turbinados.

Do lado fiscal, a queda na receita reduz a margem de investimentos e de compras públicas. A Fazenda tem a ferramenta da redução do superávit primário para manter o fluxo de investimentos. Mas aparentemente não quer utilizar.

De qualquer modo, o problema maior dos investimentos públicos hoje em dia é a carência de projetos e o emaranhado burocrático. Mantido o atual nível de disponibilidade de recursos, o investimento público deve aumentar pelo simples aprendizado.

Mas a redução do ritmo de crescimento do consumo privado gerou um aumento na capacidade instalada, postergando decisões de investimento do setor privado. Além disso, empresas costumam ampliar a capacidade em momentos de alta; na queda, desmobilizam, acentuando o movimento de desaquecimento da economia.

A rigor, apenas os seguintes pontos permitirão recuperação da economia mais rapidamente:

1. Uma safra agrícola melhor, com recuperação dos preços internacionais.

2. Uma recuperação da economia mundial.


Luis Nassif é jornalista. Texto publicado originalmente em seu blog.

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