Movimentos Sociais e central sindical em tempos conservadores

2016 encerra um ciclo de manifestações conservadoras. Afirmo que em junho de 2013 ocorreu o pretexto para a eclosão de movimentos sociais conservadores. Iniciando um ciclo de ocupação de ruas por setores atrasados e reacionários. Esse ciclo tem como desfecho o afastamento, a se concretizar, e com a deposição definitiva da Presidenta Dilma. A votação final do processo de impedimento está marcada para agosto de 2016.

A onda conservadora é um conjunto de movimentos sociais que foram às ruas no período acima descrito propondo uma pauta conservadora. Tem repercussão nos diversos setores da sociedade, tanto na sociedade civil como nas instituições governamentais.

A partir de pesquisas de opinião coletadas por institutos com esse fim, verificamos que o perfil dos participantes das maiores manifestações ocorridas em março, abril e novembro de 2015 era de pessoas com renda entre 2 a 10 salários mínimos. E que o grau de instrução desses participantes era nível superior completo e incompleto. Esse perfil nos dá indícios que nos permitem caracterizá-los como participantes pertencentes à classe média.

O conceito de classe média é bastante controverso. No meio acadêmico se usa, para efeito de pesquisa, o conceito de pessoas pertencentes a uma faixa salarial que vai de 2 a 10 salários mínimos e com mais de 15 anos de estudo. Porém há outros autores que consideram classe média a classe trabalhadora com maiores remuneração e escolaridade, sem interfase com subdivisões de classe. Para nós, classe média é classe trabalhadora.

Movimentos sociais de caráter conservador não é novidade no Brasil. Eles ocorreram com muita ênfase no período que antecedeu o golpe militar de 31 de março de 1964. E mesmo antes já haviam se levantado nas ruas.Na década de 1930, os integralistas, conhecidos como os camisas verdes, ocuparam as ruas. Houve confronto físico com os comunistas, resultando inclusive com mortes.

Os movimentos sociais conservadores vão às ruas, justamente, contra uma proposta de alternância, ou possibilidade de alternância, de políticas públicas de Estado. Foi assim em 1937 e 1964 e assim está sendo encaminhado em 2016. Esses setores conservadores tiveram, há pouco tempo, derrotas políticas. Uma foi o fim da ditadura militar em 1985 e outra as quatro últimas vitórias eleitorais do projeto popular e democrático encabeçado pelo PT. tendo à frente Lula da Silva e Dilma Rousseff.

A pauta conservadora inclui a denúncia contra a corrupção. Esse tema foi amplamente trabalhado pela mídia tradicional. Assim como em 1964 esse tema é hoje extremamente divulgado criando a sensação de “maior corrupção da história do país”. Um tema que, se contarmos com dois meses de governo golpista do interino Temer, praticamente desapareceu das manifestações dos setores conservadores. Aliás os atores conservadores desapareceram das ruas. Desde o início da votação do impedimento da Presidenta Dilma, em 17 de abril último passado, esses setores não apareceram mais às ruas! E não pararam as denúncias de corrupção de parlamentares, empresários e membros dos executivos nacional, estaduais e municipais envolvendo muitos partidos políticos.

A condução dos setores conservadores em ocupar as ruas sob o pretexto de denúncia de corrupção e, a não continuidade dessas manifestações, mesmos com o crescimento de denúncias de novos escândalos envolvendo os membros do governo interino, nos leva à conclusão de que as verdadeiras intensões desses setores era derrotar um projeto popular e progressista.

A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil denunciou, desde os primeiros momentos dessa ofensiva conservadora, os interesses golpistas das organizações que chamavam atos “contra a corrupção”. Como central sindical que defende os interesses dos trabalhadores mobilizamos as bases dos trabalhadores e realizamos atos e manifestações pela manutenção da democracia e em defesa dos direitos sociais dos trabalhadores.

Algumas organizações populares não aderiram logo de início nessa pauta de denúncia. Passamos os anos de 2014, 2015 e 2016 com essa agenda e somente em meados do ano de 2015 conseguimos alguma unidade de propostas e de ação para enfrentarmos o golpe e denunciarmos a onda conservadora.

Os atos convocados pelos movimentos sociais, quer pela frente Brasil Popular ou Frente Povo Sem Medo em fins do ano de 2015 e início de 2016 foram amplos, massivos e contaram com com a adesão dos movimentos sociais progressistas

Porém o processo de impedimento foi aberto e com ele a onda conservadora ganhou adeptos na sociedade e na classe trabalhadora.

Resta, agora, aos movimentos sociais populares a resistência, a mobilização popular em defesa da democracia e denunciar o caráter golpista do governo interino. A CTB tem um papel importante nossa nova configuração política. Corremos o risco de perder direitos sociais e trabalhistas importantes conquistados com o suor e luta de muitos de nossos lutadores do passado. Os dois marcos legais desses direitos sociais e trabalhistas são a Constituição Federal de 1988 e a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT de 1943.

Devemos, como movimentos sociais comprometidos com o avanço dos direitos sociais e da democracia, lutar e ampliar mais ainda nossa aliança com setores médios, juristas, formadores de opinião, e democratas em geral para não retrocedermos quanto aos direitos civilizatórios conquistados até o momento.

Carlos Rogério de Carvalho Nunes, secretário de Políticas Sociais da CTB Nacional

 

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