Marx e Darwin, há 150 anos

Em 1859 apareceram dois livros que, até nossos dias, são referências para as discussões científicas, da sociedade e da natureza: Para a crítica da economia política (em junho), de Karl Marx, e A origem das espécies (24 de novembro), de Charles Darwin – autor nascido em 12 de fevereiro 1809 . O livro de Marx, que quase uma década depois teria continuidade com O Capital, não teve repercussão imediata. Mas o de Darwin foi um marco imediato nas ciências naturais e, comenta-se, teve sua primeira edição esgotada em 24 horas.

Marx escreveu Para a crítica da economia política após 15 anos de investigação científica. Era sua intenção elaborar uma grande obra econômica, que seria publicada em fascículos. O primeiro seria esta obra. No entanto, em vez dos fascículos seguintes, publicou em 1867 O Capital, onde voltou a expor as teses fundamentais deste fascículo. No prefácio da obra de 1859, Marx expôs, sucintamente, pela primeira vez, a sua teoria materialista da história, afirmando que “na produção social da sua vida os homens entram em determinadas relações, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais.

O modo de produção da vida material é que condiciona o processo da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência. Numa certa etapa do seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é apenas uma expressão jurídica delas, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham até aí movido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se em grilhões das mesmas. Ocorre então uma época de revolução social.

Uma formação social nunca decai antes de estarem desenvolvidas todas as forças produtivas para as quais é suficientemente ampla, e nunca surgem relações de produção novas e superiores antes de as condições materiais de existência das mesmas terem sido chocadas no seio da própria sociedade velha. Por isso a humanidade coloca sempre a si mesma apenas as tarefas que pode resolver, pois que, a uma consideração mais rigorosa, se achará sempre que a própria tarefa só aparece onde já existem, ou pelo menos estão no processo de se formar, as condições materiais da sua resolução. Nas suas grandes linhas, os modos de produção asiático, antigo, feudal e, modernamente, o burguês podem ser designados como épocas progressivas da formação econômica e social. As relações de produção burguesas são a última forma antagônica do processo social da produção, antagônica não no sentido de antagonismo individual, mas de um antagonismo que decorre das condições sociais da vida dos indivíduos; mas as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam, ao mesmo tempo, as condições materiais para a resolução deste antagonismo. Com esta formação social encerra-se, por isso, a pré-história da sociedade humana”.

Já o descobrimento da seleção natural, apresentado por Darwin no A origem das espécies, foi imediatamente adotado pelos estudiosos mais avançados e combatido pelo clero e demais religiosos. O site com sua obra completa na Internet expressa, não sem razão: “Provavelmente ninguém influenciou nosso conhecimento sobre a vida na Terra tanto quanto o naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882)”.

No seu Anti-Dühring, Friedrich Engels, que com Marx fundou o socialismo científico, faz uma apreciação a obra do inglês:

“Darwin trouxera de suas viagens científicas a ideia de que as espécies vegetais e animais, longe de serem permanentes, são variáveis. Para continuar, já na Inglaterra, a trabalhar essa ideia, o campo mais favorável que se lhe oferecia era o da experimentação em animais e plantas. Ora, a Inglaterra é justamente a terra clássica destas experiências. Os resultados obtidos nesse terreno em outros países, – a Alemanha, por exemplo – estão longe de atingir os que se têm conseguido na Inglaterra. De mais a mais, os grandes sucessos, neste ramo, nestes últimos cem anos, pertencem à Inglaterra, e a comprovação dos fatos oferece poucas dificuldades. Darwin descobriu, assim, que, a experimentação havia artificialmente provocado em animais e em plantas da mesma espécie diferenças maiores que as encontradas entre as espécies geralmente conhecidas como distintas. Provava-se, assim, de um lado, a variabilidade relativa das espécies e, de outro, a possibilidade da existência de antepassados comuns de seres com caracteres específicos e diferentes.

Darwin procura saber, então, se não haverá na natureza causas que, de modo geral, sem a intenção consciente do criador, produziram, nos organismos vivos, mudanças semelhantes às que o tratamento artificial provoca. Essas causas, ele as encontrou na desproporção entre o número formidável dos germes criados pela natureza e o pequeno número de organismos que chegam a se desenvolver. Mas, como cada germe tende a se desenvolver, resulta dessa desproporção necessariamente uma luta pela existência, que se manifesta não só sob uma forma direta e física, mediante batalhas, em que uns organismos morrem devorados por outros, mas também, mesmo nas plantas, sob a forma de luta pelo espaço e pela luz.

É evidente que nessa luta os indivíduos que têm maiores  possibilidades de atingir à maturidade e se perpetuar são aqueles que possuem alguma particularidade individual, por mais insignificante que seja, vantajosa na luta pela existência. Dai resulta que essas particularidades individuais tendem a transmitir-se hereditariamente e, quando se encontram em vários indivíduos da mesma espécie, tendem a acentuar-se, pela hereditariedade acumulativa; quanto aos indivíduos que não possuem tais particularidades, sucumbem mais facilmente na luta pela existência e pouco a pouco desaparecem. Dessa maneira, as espécies se transformam, pela seleção natural, pela sobrevivência dos mais aptos.”

Darwinismo e marxismo são diferentes em aspectos fundamentais, mas eles têm em comum a crença que o comportamento humano pode ser compreendido através da ciência e que a vida ocorre sob determinadas leis. Enquanto Darwin busca a compreensão biológica dos humanos, e no mesmo caminho dos outros animais, Marx pesquisa seu desenvolvimento social.

Na próximo artigo, abordarei a relação que ocorreu entre esses dois cientistas e pensadores.

Carlos Pompe é jornalista

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