Lições da greve na Coteminas

Sábado, dia 31 de maio, às 20 horas. O segundo turno de trabalho da indústria têxtil do grupo Coteminas encerrava a jornada de oito horas, da maneira como vinha ocorrendo ao longo dos últimos trinta e dois anos. Uma massa de jovens trabalhadores, homens e mulheres, faziam nesse ritual cotidiano, a transferência da produção e as máquinas de tear para o terceiro turno.  Esses deveriam iniciar uma cansativa jornada de trabalho, que atravessaria a madrugada de sábado para domingo na fabricação de tecidos para cama, mesa e banho.

Os trabalhadores, que deveriam embarcar nos ônibus rumo as suas residências, ficaram de pé, em frente à industria, em apoio e solidariedade ao terceiro turno, que recusava entrar na fábrica e iniciar a jornada de trabalho. Naquele momento, estava se iniciando a primeira greve dos trabalhadores da indústria têxtil do grupo Coteminas de Montes Claros, em mais de três décadas de funcionamento. De forma espontânea os trabalhadores cruzaram os braços e exigiram respeito e dignidade.

Comando de greve

O grupo Coteminas, um dos maiores do ramo têxtil do Brasil, havia anunciado o fim da jornada 5×2 e o início da jornada 6×1, o fim da cesta básica e o corte de parte da PLR de 60,00 reais paga aos trabalhadores. A proposta apresentada pela empresa ganha contorno surreal quando verificamos o salário pago aos trabalhadores de apenas 600,00 reais mês em média, possivelmente um dos menores do Brasil.

A atitude unilateral e arrogante da empresa decorre da sua própria postura e da atitude do sindicato dos trabalhadores da indústria têxtil de Montes Claros, dirigido há 25 anos pelo mesmo presidente, transformando a entidade sindical em parceira e voz dos interesses da direção da empresa.

Contudo, mesmo com a ausência do sindicato, alguns trabalhadores da base, que lutam há mais de um ano na justiça para que ocorram eleições democráticas para a direção do sindicato, assumiu o comando de greve.

Durante quatro dias, a produção parou totalmente. A empresa de forma arrogante, característica enraizada em toda a sua trajetória, imediatamente contratou uma centena de bate paus, convocou a polícia militar e a tropa de choque, demitiu três centenas de trabalhadores, abriu edital de convocação para contratação em substituição aos grevistas e despejou toda sua fúria contra uma massa de trabalhadores sem qualquer proteção do Estado, do sindicato e da justiça.

Alegria nos olhos

Já no quarto dia de greve, a situação era revertida em favor da empresa. A resistência de quatro dias na porta da empresa ameaçava a unidade grevista. A empresa se negava a negociar com o comando de greve, a direção do sindicato mantinha-se alheia ao processo, o Ministério do Trabalho afirmava que o problema não estava na sua alçada. Porém, com a resistência dos trabalhadores, o apoio do Vereador Lipa Xavier, do Sindicato dos Professores e dos Vigilantes, com a presença de dirigentes da CTB e de alguns militantes, a greve resistia à pressão. 

Na manhã do quinto dia, estacionavam no pátio da empresa grandes carretas, repletas de cestas básicas, que seriam entregues aos trabalhadores na saída do segundo turno, que a esta altura do movimento já funcionava de forma precária. Os trabalhadores ficaram parados por vários minutos em frente ao portão principal, como se estivessem carregando um troféu, com suas cestas básicas em mãos.

Dos ônibus, os trabalhadores um a um, mostravam alegria nos olhos e manifestavam espontaneamente sua satisfação aos líderes do movimento. O carro de som anunciava a primeira vitória da greve. Em todo o período grevista, uma centena de diretores e gerentes da empresa acompanharam o movimento dos trabalhadores, atônitos e sem entender de onde vinha tanta força e abnegação. 

Vitória parcial

Na madrugada do quinto dia, o comando de greve resolveu entrar com duas ações: no Ministério Publico Trabalho e outra na Justiça do Trabalho, e ainda organizar duas dezenas de trabalhadores para ocupar a sede do sindicato. Na manhã do dia seguinte, a sede do Sindicato já estava ocupada e as ações que deveriam ser encaminhadas pelo sindicato, foram representadas pelo Sindicato dos Professores e imediatamente despachadas pela Justiça do Trabalho, que exigia a reintegração de todos os trabalhadores demitidos e a suspensão das medidas arbitrárias da empresa.

Hoje é dia 09 de junho, segunda-feira. A cesta básica que era passada aos trabalhadores no meio da quinzena, fora entregue em seu início. Os trabalhadores demitidos serão reincorporados pela justiça nesta tarde. O sindicato continua ocupado pelos trabalhadores, o turno de 5×1 mantido e o pagamento da PLR será pago aos trabalhadores.

Entretanto, a vitória é parcial. A empresa, que foi financiada pelo dinheiro da Sudene, demitiu há dois meses 400 trabalhadores e prepara mais uma nova leva de demissões em massa. Alguns operários desconfiam, inclusive, que este ataque aos direitos dos trabalhadores tinha como objetivo precipitar a demissão voluntária dos próprios trabalhadores.

As lições da Coteminas:

1 – Não subestime nunca a capacidade de luta dos trabalhadores.

2 – Lideranças surgem e são forjadas no calor da luta e da resistência.

3 – É urgente uma atitude para democratizar a estrutura sindical brasileira.

4 – O Ministério do Trabalho no Governo Lula precisa melhorar muito para ser considerado mesmo do trabalho.

5 – A solidariedade de classe é necessária em qualquer circunstância e maior ainda no momento da luta.

6 – Somente a luta pode fazer avançar a consciência e os direitos dos trabalhadores.

7 – É preciso cultivar o princípio da solidariedade entre os sindicatos classistas.

8 – Minha homenagem ao líder da greve: o operário Loro.

*Da direção plena da CTB

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