Por Umberto Martins
Em entrevista a jornalistas da CBN na terça-feira (2), o deputado federal Ricardo Barros, líder do governo Bolsonaro na Câmara Federal, afirmou que a prisão de Lula por determinação do ex-juiz Sergio Moro, no âmbito da Operação Lava Jato, em abril de 2018, foi um artifício armado para impedir a participação do líder petista nas eleições presidenciais.
“Nunca teve prisão em segunda instância no Brasil. Só teve para prender o Lula e tirá-lo da eleição. Foi um casuísmo”, comentou o parlamentar, que não poupou críticas ao que chamou de “quadrilha da Lava-Jato”.
“Não vamos permitir que as conversas do Intercept da Lava-Jato, que foram autenticadas pelo ministro Lewandowski, desapareçam. São crimes cometidos pela quadrilha da Lava-Jato”, asseverou.
Bolsonaro e EUA
Apesar de ser líder do governo da extrema direita, doutor em negacionismo e fake news, o deputado está dizendo a verdade. Só que, por conveniência política, não falou tudo. Esqueceu-se de dois detalhes fundamentais.
O primeiro detalhe é que a condenação sem provas e a execução da pena após julgamento em segunda instância, sem o trânsito em julgado previsto na Constituição, foi feita sob medida para garantir a eleição de Jair Bolsonaro. A ilegalidade foi eludida e festejada pela mídia burguesa.
Lembremos que Moro, o herói da Lava Jato e algoz de Lula, foi recompensado por Jair Bolsonaro com o Ministério da Justiça.
O segundo detalhe é que a operação levada a cabo pela República de Curitiba pavimentou o caminho do golpe de 2016, foi instruída pelos EUA, e fartamente municiada pelos serviços de inteligência do imperialismo. No frigir dos ovos, Tio Sam foi o maior beneficiário dos prejuízos econômicos e políticos causados pela “quadrilha da Lava Jato” e pelos golpistas.
Ganhou bilhões de dólares com acordos absurdos e abusivos celebrados com a Petrobras após o golpe de 2016. Desta grana, a força tarefa da Lava Jato em Curitiba, coordenada pelo procurador Deltan Dallganol (um expert em power point), tentou abocanhar R$ 2,5 bilhões, mas a apropriação indébita foi frustrada pelo ministro Alexandre Morais, do STF.
Engenharia nacional
As multinacionais estadunidenses lucraram muito também com a destruição da Odebrecht e outras grandes empreiteiras, responsáveis pelo desenvolvimento da engenharia nacional, um feito da Lava Jato que resultou, direta ou indiretamente, no desemprego de centenas de milhares, senão milhões de trabalhadores e trabalhadoras.
O enfraquecimento e a progressiva privatização da Petrobras é outra obra que está em curso e vai ao encontro dos propósitos imperialistas. Mas provavelmente o lucro maior dos EUA – e propósito que orientou a ação de suas embaixadas nos golpes não só do Brasil como também em Honduras (2009), Paraguai (2012) e Bolívia (2019) – foi a danosa mudança da diplomacia do Itamaraty, totalmente a serviço da Casa Branca.
Esses são os detalhes (implícitos nos famosos colóquios entre os procuradores e o ex-juiz revelados pelo jornalista Glenn Edward Greenwald) convenientemente olvidados pelo líder de Bolsonaro na Câmara Federal. O diabo mora nos detalhes, conforme diz o ditado.
A Lava Jato foi uma operação ilegal conduzida por uma nefasta “quadrilha”, como notou com muita propriedade o deputado Ricardo Barros durante a entrevista à rádio CBN.
Mídia burguesa
Desmascará-la neste reino da fake news não é tarefa fácil.
Na empreitada golpista de 2016, Moro e Dallagnol foram alçados à condição de heróis da luta contra a corrupção pela mídia burguesa (TV Globo à frente).
Ainda hoje, esta mídia persiste na narrativa falaciosa sobre os enganosos méritos da operação e negligenciam os impactos objetivos da Lava Jato na economia (indústria e PIB) e na política interna (eleição de Bolsonaro) e externa (sujeição ao imperialismo), as ilegalidades e abusos cometidos, as conversas comprometedoras entre Moro e Dallagnol, as ligações perigosas com os EUA.
Promoveram e promovem, sobre o tema, um jornalismo meia boca, parcial, adequado à ideologia política das famílias que monopolizam os meios de comunicação no Brasil. Um fake news requintado.
Inferno astral
Apesar da blindagem midiática, a máscara de mocinho e herói criada para o bandido e testa de ferro Sergio Moro está caindo, seja por efeito das suas “rugas” com Jair Bolsonaro (uma prova de que quando dois ladrões brigam algo de bom acontece, como diz o ditado) ou das revelações da chamada Vaza-Jato. De acordo com a revista CartaCapital “o lavajatismo perdeu forças e, nos últimos dias, minguou para apenas 7% das interações na rede quando a pauta é o ex-magistrado”. A força tarefa da Lava Jato já não existe.
Sergio Moro, que virou sócio de uma multinacional dos EUA, pode estar ingressando no inferno astral. O Supremo Tribunal Federal (STF) está em vias de julgar um habeas corpus em que o ex-presidente Lula pede a suspeição do ex-juiz. O resultado pode ser mais uma pedra sobre a sepultura de sua reputação, mas o mal que ele cometeu à nação e ao povo brasileiro merece castigo maior.