Lênin e a luta política agora

“Não houve uma única grande revolução, mesmo num quadro nacional que não tenha atravessado um duro período de derrotas” (Lênin, março de 1918). [1]

O líder e teórico russo Vladimir Lênin, fundador da primeira pátria socialista, caracterizou-se especialmente como um gigante da tática e da estratégia. Quer dizer, um mestre da (depois) denominada na academia como sendo “Ciência Política”.

Num plano de maior alcance, mereceu de Lênin uma sistemática atenção à famosa expressão do brilhante general prussiano Carl Klausewitz, “A guerra é a continuação da política por outros meios”, escrito em seu clássico “Da Guerra” e que passou a ser uma espécie de paradigma a orientar os variados roteiros de longo curso (estratégicos) do enfrentamento político.

Na mesma direção, Lênin referia-se elogiosamente à impactante formulação do alemão Karl Kautsky, bem no início do século 20, então ainda marxista: “A revolução é uma guerra; e a política é, de uma maneira geral, comparável à arte militar”. Bom perceber que tais idéias circundaram a deflagração da Primeira Grande Guerra (1914-18), e no meio dela a vitoriosa Revolução Socialista de Outubro.

Essas duas questões confluem para idéias centrais de Lênin sobre a definição da tática como categoria determinada, emanada pela correlação de forças, isto se constituindo na questão essencial da tática. O que deve ser considerado em cada quadro do desenvolvimento da luta de classes, suas fases, seus estágios. Já a estratégia, conforme Lênin deve compreender o problema crucial e de temporalidade maior (em aberta e segundo a posição do capitalismo no sistema de relações internacionais): o da conquista da hegemonia pelas classes trabalhadoras em sua luta contra as classes dominantes burguesas e pela superação do capitalismo.

A efetividade, a funcionalidade da tática política e sua capacidade de avançar na acumulação de forças frente ao inimigo ou derrotá-lo, necessariamente, deve considerar o sistema de alianças (o dos trabalhadores e o dos adversários, em cada batalha!). Alianças que dizem respeito ao papel e ao movimento das forças políticas em luta, de acordo com a expressão das classes sociais organizadas objetivamente, num determinado momento histórico. Assim, ao representar organizadamente tal ou qual classe na sociedade, esse setor se movimenta politicamente independentemente daquilo que desejaríamos! Por isso condena com veemência como sendo “qualquer coisa de extremamente ridículo”:

“renunciar a acordos e compromissos com aliados (ainda que provisórios, inconsistentes, vacilantes condicionais”).[3]

Nesse sentido, a flexibilidade do sistema de alianças se relaciona com os objetivos econômico-políticos da classe dominante hegemônica e das frações de classes que por elas são “arrastadas” em certas batalhas. A tática igualmente deve orientar-se pelos movimentos de fluxos e refluxos que são impostos pelos ritmos sempre irregulares da luta de classes. Noutras palavras, deve-se apreender que não há linearidade na marcha da luta política (e revolucionária) das classes em luta.

Novamente, o quadro da correlação de forças é quem estabelece o ritmo a ser empreendido na definição/resolução daquela fase da batalha. Trata-se de erro fatal desconhecer que:

Maquiavel prevê que, “dificilmente é derrotado aquele que sabe reconhecer as suas próprias forças e as do inimigo; Sun Tzu acrescenta que “é preciso sempre comparar cuidadosamente o seu exército com aquele a ser enfrentado para determinar em que as forças são superiores e em que são inferiores” (Luigi Bonatate, “A Guerra”). [2]

Brasil: não ceder terreno aos golpistas!

A evolução da situação política do Brasil insinua uma crise institucional. Recaindo denúncias sobre as presidências das duas casas do Congresso Nacional, a amplificação artificial da crise por denúncias contra a Petrobras é “em grande parte forjada, mentirosa, induzida, ela não corresponde aos fatos” (Leonardo Boff). Busca-se, sem qualquer dúvida, a convergência de fatores que aumentem o clima de instabilidade, de desgoverno para a ação golpista.

Defender o mandato da Presidenta Dilma Rousseff, a Petrobras e os direitos dos trabalhadores são exigências cruciais da ordem do dia da luta política do Brasil!

NOTAS

[1] Ver: IV Congresso Extraordinário dos Sovietes de toda a Rússia”, em Lênin e a revolução, de J. Salem, Edições Populare, 2008. p. 53.

[2] Estação Liberdade, 2001, p. 72.

[3] Ver: “O esquerdismo, doença infantil do comunismo”,V. Lênin, Anta Garibaldi, 2004, p.86.

Sérgio Barroso é diretor de estudos e pesquisas da Fundação Mauricio Grabois

Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.

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