Juventude, um ato de rebeldia

A maioria da população na América Latina é jovem. O impulso demográfico vivido nesse período é o maior como nunca visto antes. Essa é a grande janela de oportunidades. A juventude como protagonista e sujeito de direito e como motor do desenvolvimento econômico e social. É preciso acumular forças para enfrentar e superar a crise política e econômica que o mundo atravessa.

A população da América Latina e Caribe, dos 635 milhões que vivem atualmente na região, 52% pertence à faixa etária entre 0 e 29 anos. Crianças entre 0 e 15 anos, totalizam 164 milhões ou 26,1% do total e os jovens, entre 15 e 29 anos chegou a 162 milhões, representando 25,6% do total. O Brasil possui 50 milhões de jovens. O aumento da população nessa faixa etária começou no início da década de 2010 e terá seu auge em 2020.

Existem 1,8 bilhão de jovens no mundo, sendo que 87% deles vivem nos países em desenvolvimento. Uma força trabalhadora que poderia fazer a diferença sob o ponto de vista da economia em um período de bônus demográfico.

Fenômeno social entre os jovens os chamados “nem-nem”

A lacuna entre os empregos precários e a educação pouco eficaz levou a um fenômeno social entre os jovens: os nem-nem. Um grupo da população que não estuda e também não trabalha. Na América Latina, 21,8 milhões de pessoas entre 15 e 24 anos estão nessa situação, segundo a OIT. E em vez de diminuir, esse grupo continua crescendo. Os jovens se refugiam no vazio, e a conta recairá sobre o desenvolvimento da região. Cada vez que a taxa de nem-nem aumenta 1%, registra-se uma redução de 7% nos salários médios dos jovens, segundo um estudo do Banco Mundial. O Brasil tem quase um quarto do total de jovens brasileiros nessa situação. De 2014 para 2015, o percentual aumentou de 20% para 22,5% de jovens que não estudam nem trabalham, segundo o IBGE.

O perfil do chamado “nem-nem” mostra que ele tem geralmente escolaridade menor em relação aos outros jovens e 44,8% deles vivem em famílias com renda de um quarto do salário mínimo por pessoa, na condição de filho. Quanto à localização, a maior parte dos representantes dessa “geração” está concentrada no Nordeste do País. E em questão de gênero, cerca de 70% dos nem-nem são mulheres.

Nem-nem-nem

Pode ser feito um recorte do que pode ser chamado “nem-nem-nem”, que além de não trabalhar e não estudar, não procura emprego, ou seja, são inativos. A proporção desse “nem nem nem” é maior que a do “nem nem” entre os jovens de 15 a 29 anos, são 14,4% contra 8,1%.

Apesar de uma parcela desse grupo não estar fora do mercado de trabalho por escolha própria, a maioria deles não procura emprego e agrega um “nem” a mais ao apelido pouco honroso.
São os chamados “nem-nem-nem”, que em números absolutos representam 7,334 milhões de jovens brasileiros que nem estudam, nem trabalham e nem procuram emprego. O grupo dos nem-nem-nens não faz parte da população economicamente ativa do País (PEA), mas é capaz de interferir nas taxas de desemprego. Se deixam de procurar trabalho, não pressionam a taxa de desemprego. Os quase 10 milhões de nem-nem-nens no Brasil possuem diferentes perfis. Dentre eles, há quem tenha decidido parar os estudos e o trabalho, para dar um respiro, viver um período sabático e repensar a vida profissional. É uma questão social muito forte, muito mais do que comodismo.

As estatísticas revelam que de cada 10 jovens com trabalho, 6 o desempenham sem as garantias de Seguro Social ou estabilidade para o futuro.

Geração canguru

A chamada “geração canguru” encontra na família uma maneira de sobreviver à marginalização dos níveis sociais. A proporção de pessoas de 25 a 34 anos que estavam na condição de filho no arranjo familiar passou de 21,7%, em 2005, para 25,3%, em 2015 (IBGE, 2015).

Portanto garantir o investimento social necessário para esta fase da vida é tão importante para quebrar o círculo vicioso da pobreza e da desigualdade. Para tal enfatizar a educação com vistas à integração produtiva e trabalho decente, erradicar a violência juvenil e acesso universal à justiça. Dessa forma a melhoria das condições de trabalho anda de mãos dadas com uma maior cobertura educacional.

Direitos reprodutivos

A gravidez quando não desejada é um fator preponderante da vulnerabilidade dos jovens, limita suas oportunidades e lhe impõe obrigações de cuidado muito cedo. A Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) assinala que as mulheres que são mães depois dos 20 anos têm menos probabilidade de cair na pobreza. As cifras indicam que 30% das mulheres entre 15 e 24 anos estão casadas e uma alta porcentagem delas não tem acesso a anticoncepcionais. Cerca de 20% foram mães durante a adolescência, segundo o relatório das Nações Unidas sobre o Estado da população Mundial.

O relatório sobre juventude da Cepal aponta que entre os jovens que têm acesso à escola, as mulheres são maioria. Esse grupo quando tem a oportunidade de estudar tem maiores probabilidades que os homens de concluir seus estudos. Entretanto, os obstáculos para conseguir isso ainda são muitos.

É preciso consolidar as condições de pleno exercício dos direitos sexuais e reprodutivos das e dos jovens, garantindo que a gravidez seja uma decisão livres. O projeto da PEC 55 (congela por 20 anos o orçamento em educação e saúde) ignora a situação das mulheres negras quando buscam o acesso aos serviços públicos de educação e saúde.

Violência na juventude

A juventude negra é a maior vítima de homicídios em nosso país. Convivemos com o genocídio silenciado, ou seja, destruição de uma raça, o extermínio da juventude negra.
De acordo com o Mapa da Violência da Unesco de 2014 dos 56 mil homicídios por ano, 30 mil são jovens, 77% desses são negros (as).

Quando em um país os jovens crescem em um ambiente e são testemunhas de violência, têm maior probabilidade de reproduzir essas condutas.

Além de homicídios, a exposição a acidentes e suicídio nessa faixa representa 6% das mortes que ocorrem na América Latina.

A condição étnico-racial é fator de desigualdade estrutural na América Latina. Portanto, há necessidade de impulsionar uma mudança estrutural progressiva, que gere empregos de qualidade – com direitos e proteção social -, maiores níveis de produtividade e melhores remunerações do fator trabalho.

Ação sindical

Nesse sentido, ter como centro o fortalecimento da juventude da CTB pode dar relevante contribuição para superação atual da crise. Ampliar a organização e participação dos (as) jovens trabalhadores. Constituir um movimento plural e classista de jovens trabalhadores (ativos e inativos). Superar a sub-representação entre os jovens, sabido que o desenvolvimento de capacidades, o acesso a oportunidades e a exposição a riscos estão muito segmentados por níveis de renda, distribuição geográfica e racial e gênero. Deve-se atentar para a situação de desigualdade imposta à juventude trabalhadora, que a crise exacerba e que entorpecem a satisfação de suas demandas. Cabe superar os critérios setoriais, as lógicas corporativas e as burocracias consolidadas. Aumentar a capacidade de comunicar-se e difundir as ideias avançadas entre o proletariado, formando inclusive intelectuais orgânicos vinculados ao campo do trabalho. Combater individualismo exacerbado disseminado pelo neoliberalismo – de igualdade social, de defesa da moral e da ética da classe trabalhadora, e do combate à corrupção.

Replicar experiências como da Federação dos Bancários Bahia e Sergipe – FEEB-BA/SE que Caminha para o 6º Encontro anual da Juventude bancária. Onde Participam 12 sindicatos que forma uma comissão de juventude engaranhando contribuições para renovação do movimento. Nesse período já foram 28 jovens inserido nas direções dos sindicatos.

Para tal, os/as cetebistas deve assumir as lutas políticas em cursos, atuar para fortalecer a CTB, organizar-se nas empresas e também nos locais de moradia e estudo. Num coro sair às ruas na Defesa do Estado democrático de direito, por uma Frente Ampla contra o projeto neocolonizador.

Fora Temer!
Diretas Já!

Rosi Santos é membro do Coletivo de Juventude da CTB e dirigente sindical da SEEB-SE

Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.

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