Jair Bolsonaro está conduzindo o povo brasileiro para o matadouro

Por Rubens Ianelli, médico e artista plástico

Existe a história de Marielle e tanto sem se esclarecer. Tem essa coisa toda da milícia, bárbara, violenta, que vem dominando o Estado brasileiro, abençoada pelos militares vende-pátria, lambe-botas do imperialismo norte-americano, uma gente abjeta, sedenta de guerra e de morte, é a banda podre da sociedade brasileira. Pois é na mão destas pessoas que está o povo brasileiro.

O desmonte do SUS vai acontecendo pelas bordas com a suspensão de programas e de protocolos utilizados no controle de doenças no Brasil. Suspender os exames contra hepatite C ou HIV porque acabou o contrato com a empresa?

Suspender os programas de saúde mental? Por quê? Não é mais necessário? Quem avalia se estes serviços são desnecessários e em que base se apoiam para fundamentar decisões vitais que prejudicam o bem-estar e a saúde do povo brasileiro? O que se sabe é que há um troca-troca indecente, com o aparelho de Estado ocupado por militares e por gente com perfil ideológico de extrema-direita. Nem a Anvisa escapou da interferência direta do insano do Palácio do Planalto. E assim ele vai agindo e interferindo na estrutura do Estado, moldando o que pode para salvar sua família lambuzada de corrupção, que por seus desmandos vem colocando nosso país num lugar marginal entre as nações do planeta.

Tacão de ferro

Abro o jornal e a manchete estampa a imagem da primeira pessoa sendo vacinada contra a Covid-19, uma senhora inglesa idosa. Que forte imagem! Uma mulher do Reino Unido, onde tem rainha, matriarca dos impérios que os ingleses implantaram pelo mundo. Imagine se essa imagem fosse de um índio brasileiro, o primeiro a receber a vacina no mundo. Que bela inversão de valores, e mais bela em seu estrito senso, cheio dos mistérios e da sensualidade das florestas, que os colonizadores, incluindo os ingleses, temem profundamente, temem os povos livres, não suportam ver a alegria e a felicidade dos povos, querem impor seu tacão de ferro, como diria o genial Jack London.

Imagens à parte, essa história da vacina é mesmo memorável.

Estamos vivenciando um fato até certo ponto inédito, que é a união da humanidade para que uma vacina saia tão rápido assim. O fato é que se sentaram às bancadas de laboratórios batalhões de técnicos, pesquisadores, cientistas, todos trocando informações a respeito da linha de trabalho de cada centro de pesquisa, muito dinheiro sendo investido. Isso é um fato alvissareiro, parodiando o ilustre João Amazonas, porque demonstra uma vitalidade da ciência sem precedentes, e mais, voltada para a saúde mundial, isto é valoroso, é uma conquista.

Se olharmos no microcosmo encontraremos inúmeras iniciativas de solidariedade brotadas desta crise sanitária e humanitária, a exemplo do trabalho de prevenção à Covid-19 levado a cabo pelas lideranças comunitárias de Paraisópolis, em São Paulo, ou da distribuição de kits com instrumentos de trabalho e de primeira necessidade para as populações das reservas extrativistas do Alto Juruá, sob a liderança e organização dos indígenas Ashaninka, do rio Amônia, no Acre, ou o já conhecido Consórcio Nordeste. Seria repetitivo enumerar estas iniciativas positivas que pipocaram Brasil afora, que revelaram movimentos solidários em contraposição à ausência do Estado brasileiro.

O jornal diz que aumenta o número de pessoas que recusam a vacina, sobretudo a que dizem ser chinesa. Ignorância ou estupidez pura, pois a ciência trocou dados e experiências entre pesquisadores de todo o mundo durante a pandemia. Talvez seja mais prudente perceber que será preciso um leque de opções de vacinas para dar conta da nossa população de 220 milhões de almas. E temos que correr porque existe um limite na capacidade de produção de vacinas, leva tempo e os países mais ricos estão na ponta, adquirindo o máximo e o melhor para suas populações.

Ignorância e negacionismo

Agora, veja-se a presença do governo brasileiro na movimentação em torno das vacinas. A opção do governo brasileiro foi solicitar junto ao pool de fabricantes de vacinas, doses para apenas 10% da nossa população, quando este número poderia chegar até a 50%. Observem a demora para se validar uma vacina, pela agora aparelhada Anvisa, e atentem à opinião da Dra. Margareth Dalcolmo, pneumologista da Fiocruz:

“Já perdemos (o timing), estamos atrasados. O Brasil vai assistir de camarote enquanto as campanhas de vacinação começam no resto do mundo”.

E aqui perguntamos: teremos seringas, agulhas? Teremos rede de frio? O que fazer com quase sete milhões de testes para Covid-19 que estão perdendo a validade, socados nos galpões do aeroporto de Guarulhos? Estamos preparados para esta operação de guerra que é a grande imunização? Naturalmente que não, o capitão de plantão e seus generais, além de ignorantes em ciências e humanidades, apregoam abertamente o negacionismo e não têm um plano estratégico para combater a pandemia. São um fracasso, seriam temerários no comando de uma guerra. Incapazes.

A pandemia veio como um tsunami, cresceu, estabilizou, caiu e voltou a crescer com velocidade acelerada. Aí estão os dados de óbitos por dia na pequena Itália, para ilustrar um caso lamentável. Depois das férias de verão na Europa, em que o europeu não fica quieto em sua casa e sai para viajar, agora estão recebendo a conta da segunda onda depois dos devaneios das férias. O mesmo ocorreu entre nós, que bombamos nas praias nos feriadões, e tudo crescendo com velocidade incrível. A vida retornou ao quase normal rapidamente, e o oportunismo de alguns governantes durante as campanhas eleitorais também somou para rechear um pouco mais o universo dos infectados pelo coronavírus.

A única coisa que parece restar é seguir a rotina. Pego o carro e vou para o atelier, vejo pessoas correndo sem máscaras pela avenida Paulista, chego no largo Ana Rosa, que já era esquisito e disforme, agora mais estranho com aqueles tubos de concreto saindo do metrô, e sinto o movimento intenso na rua. Vou estacionar e três homens com macacão laranja estão, felizmente, a limpar os bueiros por conta das chuvas que vêm aí; um quarto homem de macacão cinza está junto, talvez seja o supervisor, todos os quatro sem máscaras.

Saio à tarde e os barzinhos da rua Brás Cubas estão lotados, 90% do povo sem máscaras, aglomerados entre mesinhas, olho no relógio do carro e marca só 16h36. Aí sigo imaginando como serão as aglomerações de final de ano e qual será o tamanho dessa conta em janeiro. E continuo pela rua, cruzando um monte de gente que parece anestesiada, zumbis do jeitinho que os genocidas de plantão gostam. Povo desempregado, aumentando a fome e a moradia na rua. Acuado pelo coronavírus, um povo que segue quieto, do jeito que o capitão gosta. Talvez, pelo menos mais uns cinquenta a sessenta mil mortos, aí estará de bom tamanho para ele e para todos os que comungam da sua ideologia, que estão a seu lado assistindo e ainda aplaudem a derrocada de um projeto de grande nação.