Greve: governo agora corre atrás do prejuízo

Há hoje um consenso no Palácio do Planalto de que o governo federal demorou demais para se dar conta do tamanho da encrenca da greve do funcionalismo, que se alastrou por todo o País e já atinge mais de 30 categorias de servidores públicos.

A ordem agora é correr atrás do prejuízo e voltar a negociar com as lideranças sindicais, depois das ameaças feitas pelo governo de cortar o ponto e contratar substitutos para os grevistas.

A decisão de deixar o assunto por conta de burocratas do segundo escalão do Ministério do Planejamento revelou-se furada e agora o governo busca novos interlocutores para retomar o diálogo.

O principal deles é José Lopez Feijóo, 62 anos, assessor da secretaria-geral da Presidência, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e ex-vice-presidente da CUT, até passar para o outro lado do balcão e entrar para o governo no ano passado na equipe do ministro Gilberto Carvalho.

Espanhol nascido na cidade de Entranbosrrios, sindicalista da turma de Lula em São Bernardo do Campo, onde começou na comissão de fábrica da Ford no início dos anos 80, muito próximo do ex-presidente e com livre trânsito entre as centrais sindicais, Feijóo terá a tarefa de preparar o espírito da companheirada para o reajuste parcial que deverá ser anunciado pelo governo até o final da próxima semana, bem abaixo das reivindicações do funcionalismo e sem atingir todas as categorias.

Nos oito anos de governo Lula, também tivemos greves de servidores públicos, mas não na dimensão que atingiu o movimento neste ano, desencadeado em áreas dominadas, especialmente na educação, por sindicatos ligados ao PSTU e ao PSOL, partidos radicais formados por dissidentes do PT. Com receio de perder o bonde, sindicatos ligados à CUT também aderiram à paralisação, o que deixou a presidente Dilma particularmente contrariada.

Desta vez, inverteu-se o processo nas negociações. Com Lula, quando chegava a época das campanhas salariais do funcionalismo, primeiro era mobilizado o então secretário-geral Luiz Dulci, um discreto professor mineiro, que auscultava as centrais e procurava conciliar as reivindicações sindicais com os limites impostos pela área econômica, antes que estourassem as greves.

Neste ano, Gilberto Carvalho, o substituto de Dulci no cargo, só entrou em campo na última quarta-feira, quando o clima já era beligerante e os dois lados se recusavam a ceder. Por isso mesmo, o ministro queimou seu filme — acabou sendo xingado e vaiado num encontro da CUT, o braço sindical do PT, uma cena inimaginável no governo anterior.

O impasse tem data para terminar: 31 de agosto, prazo final para o governo enviar a Lei de Diretrizes Orçamentárias ao Congresso Nacional, indicando qual a verba prevista para o reajuste dos servidores públicos.

Até lá, o baixinho Lopez Feijóo, com sua fala mansa, vai ter que encontrar uma fórmula mágica para acalmar seus colegas sindicalistas, sem estourar o cofre do governo. Não vai ser fácil.

Afinal, se fosse atender a todas as reivindicações dos servidores em greve, o governo teria que dobrar a folha de pagamento do funcionalismo público federal, que já passa de R$ 100 bilhões por ano, numa conjuntura que exige corte de gastos para enfrentar as consequências da crise econômica mundial.


Ricardo Kotscho é jornalista. Texto publicado originalmente em seu blog.

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