Eleições municipais, em busca de uma nova agenda sindical

O movimento sindical brasileiro vive novo momento organizativo em sua longa trajetória e reaparece como ator social no cenário político desde que as forças populares e progressistas chegaram ao planalto central. Com o reconhecimento legal das centrais sindicais durante o governo Lula, o movimento sindical vem reorientando suas formas de atuação e sua agenda de lutas.

O primeiro passo neste sentido foi a constituição do Fórum das Centrais, espaço informal que reúne as principais centrais brasileiras para discutir ações unitárias e calendários comuns em relação a determinadas bandeiras. Como resultado concreto desta aproximação, se deu a realização da 2ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) em 2010, quando foi aprovada uma agenda unitária contendo as principais reivindicações dos trabalhadores. Esta agenda tem servido de parâmetro para ações conjuntas entre o movimento sindical e destes com outros movimentos sociais como movimento estudantil, movimento de bairros, de mulheres, raciais, etc.

Deste novo espaço de articulação vingou também a realização de Primeiros de Maio unitários em diversos estados do país. Ao longo dos últimos anos, as festas do Dia do Trabalhador têm mobilizado verdadeiras multidões em torno das centrais sindicais, que a cada edição consagram um determinado tema de sua agenda de luta como mote comemorativo.

No início de 2012, o Fórum das Centrais – juntamente com setores do empresariado produtivo nacional – lançou o movimento “Grito de Alerta”, exigindo mudanças concretas na política macroeconômica brasileira para evitar os danos nefastos da desindustrialização na economia nacional que atingiria os empregos e a renda. Ou seja, pela primeira vez na história recente, o movimento sindical colocou efetivamente a política econômica como pauta sindical, transformando-a em agenda sindical. Esta iniciativa mobilizou milhares de trabalhadores em diversas capitais do país, ganhou o noticiário da grande imprensa e o debate no seio da classe trabalhadora. Como consequência, o governo federal alterou a política de juros, levando o Banco Central a reduzir a taxa de furos Selic sucessivamente desde então, e logo depois foi a vez da queda do spread bancário patrocinado pelos bancos públicos – ação seguida pelos bancos privados, desencadeando um barateamento do preço do dinheiro.

Este grau de amadurecimento da representação política da classe trabalhadora, expressa na unidade das centrais, deve incidir sobre as eleições municipais em curso, para politizar o debate. Nestes termos, o movimento sindical é chamado a incorporar nova pauta sindical para apresentar para a sociedade e transformá-la em agenda sindical, mobilizando expressivos contingentes de trabalhadores e trabalhadoras em torno de propostas para o plano local, afinal demandas relacionadas com a educação, saúde, saneamento, habitação, mobilidade urbana, segurança pública estão umbilicalmente ligados ao nosso dia a dia.

Se no tocante à desindustrialização o movimento teve clareza para destacar a importância do emprego especializado da indústria de transformação e sua remuneração para o desenvolvimento nacional, faz-se necessário agora apontar que as questões municipais são inerentes ao mundo do trabalho e, portanto, devem fazer parte da pauta sindical.

A maior parte das cidades é organizada em função do local de trabalho como prolongamento deste. A sua estrutura é pensada em função da proximidade da fábrica ou da grande empresa. Grosso modo, os bairros se dividem em bairros populares – onde vivem os trabalhadores – e os bairros sofisticados – onde geralmente reside a média administração. A valorização do espaço urbano empurra constantemente os populares para as bordas da cidade, ou seja, para a periferia.

Desta lógica derivam todos os problemas do espaço urbano: os espaços públicos e equipamentos coletivos, como praças e parques, são instalados nos bairros centrais, da mesma forma que as escolas, bibliotecas, museus. A mobilidade urbana também é pensada privilegiando os espaços mais valorizados com avenidas asfaltadas e diversas opções de transporte. Contraditoriamente, os bairros mais afastados são os que possuem as piores opções de transporte e com a pior qualidade. O mesmo pode ser elencado para a saúde, com suas clinicas e hospitais instalados nos bairros de melhor poder aquisitivo.

Poderíamos apresentar ainda questões relacionadas com saneamento, segurança, e tantos outros para justificar a relação da pauta municipal com a luta dos trabalhadores. Porém, penso que para abrir o debate seja o suficiente. Creio que o mais importante, neste momento, é colocar estas questões na ordem do dia, na agenda sindical, e partir para mobilizar os verdadeiros interessados na resolução dessas demandas para que neste processo eleitoral escolham candidatos a prefeitos e vereadores comprometidos com uma plataforma eleitoral de cunho classista.


Eduardo Navarro é secretário de Imprensa e Comunicação da CTB.

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