Efeitos colaterais do racismo

Neste 20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra -, as constatações que apesar de estarmos no século 21, tudo muda e nada muda, se evidencia ainda mais, com a exacerbada perda de direitos.

Direitos civis arduamente defendidos, se esvaem, com um simples acordo de “família”, acordo que em primeira instância golpeou a primeira presidenta do Brasil, mas que logo depois, vimos que o golpe era contra todos, mais com maior intensidade prejudicou a vida da população negra e mais precisamente, na vida das mulheres negras.

A reforma trabalhista, que tira 200 itens de seguridade da classe trabalhadora, se constitui como um atentado à vida das mulheres. Trabalho intermitente, precarização, acordos dialogados diretamente com patrões. Neste jogo quem ganha? Sem sombras de dúvidas é o patronato, pois a falta de comida no prato, o desemprego, a falta de atendimento nos postos de saúde, o sucateamento dos serviços de administrações públicas, decaem diretamente sobre a população, mais especificamente sobre as negras.

Em 18 de novembro de 2015, marchávamos “Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver”, foram 50.000 mulheres que marcharam em defesa da vida das mulheres negras, mas também em defesa de um Brasil melhor. De lá para cá o que podemos observar é que o golpe se concretiza às custas da vida dos menos favorecidos, mas principalmente à custa do sangue do povo preto, que passou a sofrer todas as mazelas do avanço do extremismo e do fascismo. Jovens, mulheres e mães negras, violadas e violentadas, em maior número. A cor da pele é o divisor para o aumento dobrado da exploração das vidas pretas.

Morte materna, violência obstétrica, índices de pobreza, falta de moradia digna, filhos mortos por incorretas abordagens, desemprego, menor salário, menor representação nos espaços de poder e decisão, sim todos os dados mostram a opressão e o racismo sobre a mulher negra. A base da pirâmide das opressões que são históricas, que nas medidas se acentuam a cada crise e se exacerba a cada golpe.

Desigualdades: 64% das pessoas sem emprego no país são pretos ou pardos, diz IBGE. Mais de 60% das pessoas negras já sofreram racismo no ambiente de trabalho (Fonte: Último Segundo – iG ). Também são 64% dos desempregados, 66% das domésticas e 67% dos ambulantes. Hoje no Brasil a desigualdade salarial entre brancos e negros gera prejuízo de R$ 808 bilhões.

Ensino superior e remuneração, negros com curso superior ganham, em média, 29% a menos que brancos na mesma posição. Para as mulheres, essa diferença é de 27%. Mulher negra graduada no Brasil recebe 43% do salário de homem branco.

As mulheres negras são as que mais sofrem com a violência policial, casos como de Claudia, arrastada brutalmente pela polícia, ou também com a incerteza de que seus filhos sobreviverão ao alvo “suspeito padrão”, ou ainda a exemplo da ação homofóbica e racista com a morte de Luana Santos, 34 anos, espancada por PMs de São Paulo. Jovens negros de 15 a 29 anos no Brasil são 77% dos homicídios.

De 2003 a 2013, o assassinato de mulheres negras cresceu 54,2%. Sofremos, com a mortalidade materna onde somos 60% dos casos.

Dia 20 de novembro, Dia de Zumbi dos Palmares, é sem dúvida para todos nós o dia da luta e da resistência de um povo que merece a reparação histórica, mas antes de mais nada merece ser respeitado na sua diversidade e no seu grande benefício à nação que foi e é o desenvolvimento de nosso país, a contribuição que esse povo deu à nossa cultura.

Mesmo com potenciais informações desagradáveis da desigualdade, somos resistentes e resilientes, por isso, marchamos e vamos às ruas até o dia em que os índices não sejam mais de desigualdade e sim de pura superação em uma sociedade melhor.

Dandara resiste dentro de todas aquelas que lutam, que vão à luta pois a revolução será feminina e será preta. Contra o racismo, a violência e o genocídio, vidas negras importam. A União Brasileira de Mulheres reitera a sua combativa luta contra qualquer tipo de opressão contra a mulher, e reforça que contra o racismo eu me indigno.

Flávia Costa é diretora de Combate ao Racismo da União Brasileira de Mulheres.

Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.

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