Educação e resistência

Historicamente no Brasil, os setores mais conservadores ou de viés liberal, negligenciaram intencionalmente a Educação. Escassearam recursos, atacaram direitos dos educadores, enfim, fizeram esforços no sentido de que a Educação brasileira penasse. Que tivesse grandes dificuldades em alcançar um patamar sólido e que servisse aos interesses maiores do país, do seu desenvolvimento e do crescimento intelectual do povo.

Apesar da sabotagem constante, a Educação brasileira resistiu. Não só pela força de sua intelectualidade: Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Demerval Saviani, Jaqueline Moll e outros tantos. Mas principalmente pelo esforço dos educadores em cada escola do país. Desde o professor que tira do próprio bolso para comprar os materiais necessários para sua aula até o diretor de escola que dedica 24 horas do seu dia para o funcionamento da escola.

Por mais que a Educação fosse atacada por estes setores, ela teimou em resistir. Educadores fizeram grandes esforços por todo o país para que o processo de construção do conhecimento continuasse, apesar dos pesares.

Remando contra a maré a Educação brasileira foi marcada, acima de tudo, pela resistência. Os setores progressistas sempre estiveram à frente dessa resistência porque conscientizar o povo é sua primeira e mais necessária missão.

No entanto, os setores de viés nem um pouco progressistas sempre temeram a força que a Educação e os educadores tem no Brasil. Os números, estatísticas e os próprios fatos nos mostram que durante a ditadura militar os mais perseguidos foram professores e estudantes. No período democrático que se seguiu não foi diferente. Greves de professores sempre foram tratadas como caso de polícia. Movimento de estudantes idem.

Mas após os recentes eventos ocorridos em nosso país, principalmente a partir de 2013, veio a escalada fascista. E os setores conservadores e liberais viram aí uma oportunidade de travar uma luta contra os setores progressistas dentro da Educação brasileira.

Explorando o mais baixo falso moralismo, o senso comum e principalmente a incompreensão dos processos educacionais por parte de setores da população, lançou-se o infame projeto chamado “Escola Sem Partido”.O próprio nome já é uma tentativa rasteira de atrelar os princípios básicos de uma Educação humanista como se fosse pilares ideológicos dos partidos de esquerda. Assim, toda a pauta civilizatória da Educação, notadamente os Direitos Humanos, passaram a ser rechaçados pelo dito “brasileiro médio” por acreditar tratar-se de “comunismo” e outras tantas incompreensões que traz consigo.

O respeito às diferenças de gênero, igualdade entre mulheres e homens, educação sexual (importantíssima – quem está na sala de aula vê a quantidade de adolescentes grávidas nas escolas) viraram a chamada “ideologia de gênero”. Tentar esclarecer sobre a violência contra pessoas LGBT no país é, de acordo com tais mentes distorcidas, querer que os estudantes se tornem gays ou lésbicas. Abordar as diferenças de gênero se tornaram, dia a dia, uma tarefa hercúlea para lidar com preconceitos de alunos e pais. Até mesmo a interferência de setores religiosos passou a ser uma constante.

Fatos históricos até então trabalhados com tranquilidade em sala de aula passaram a tornar-se polêmicos, chegando ao cúmulo do tal “nazismo de esquerda”.
O ensino da Biologia se viu em constante luta para poder abordar a teoria darwinista da Evolução. O criacionismo opôs-se às teorias científicas de origem da vida com força. E na Geografia surgiu a abjeta “Terra plana”.

Quantos educadores Brasil à fora penaram por querer ensinar ciência? Quantas e quantos foram perseguidos por insistirem?

Finalmente, os setores conservadores e liberais disputam o centro ideológico da Educação. Livros didáticos tem menos valor que fake news produzidas em massa nas redes sociais. O professor passa seus dias a apagar incêndios na guerra do conhecimento contra o obscurantismo.

Nós educadores temos travados essa luta diariamente. Mas para vencê-la precisamos fazer aquilo que sempre foi a nossa força. Mas que nos últimos tempos tem sido a nossa fraqueza. Precisamos de união. Mais do que nunca é preciso que forjemos uma aliança pela Educação Livre em todo o país. Uma frente de defesa do conhecimento. Em cada escola. Em cada universidade.

Existem inúmeras iniciativas no país para combater o obscurantismo intelectual. Precisamos unificar todas essas frentes e criar uma única. Que atue política, jurídica e pedagogicamente em todo o país. Que coloque o debate de ideias como principal cenário de desmistificação de toda a carga que hoje pesa sobre a Educação.

No momento estamos na defensiva. E estamos perdendo terreno a olhos vistos. Se não passarmos à ofensiva, sofreremos uma derrota que jogará a Educação brasileira nas trevas. Educadores, uni-vos!

Cléber Custódio Duarte é  professor do ensino médio em Igrejinha, no Rio Grande do Sul

Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.

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