Quimeras de Paulo Guedes não resistem aos fatos

Jair Bolsonaro já disse e reiterou que não entende nada de economia e parece se orgulhar da própria ignorância, que o fez ceder com fé cega o comando da política econômica ao rentista e banqueiro Paulo Guedes, um fiel representante do mercado ou, em outras palavras, do capital financeiro.

O superministro não demonstra maior preocupação com o desemprego em massa, a degradação dos serviços públicos, a penúria da Ciência ou da Educação, problemas agravados ou provocados pela política de restauração neoliberal do governo Michel Temer, que conforme o próprio reconheceu recentemente veio à luz através de um golpe de Estado.

Restauração neoliberal

Como Bolsonaro, Guedes não dá a mínima para os problemas do povo. Tratou de radicalizar a orientação desastrosa proveniente do golpe, com o indisfarçável propósito de saciar a ganância do capital, impondo novos sacrifícios à classe trabalhadora, em particular a malfadada reforma da Previdência; mantendo o draconiano regime fiscal à custa de novos e dolorosos cortes nos orçamentos da Educação, Saúde, infraestrutura e outras áreas sob responsabilidade do governo.

Mas, como é comum entre os embusteiros, promove-se a maldade com a promessa de redenção futura, acenando no caso com a quimera da recuperação e do crescimento. Foi assim com Temer (quem já não se lembra de que a reforma trabalhista iria resolver o problema do desemprego?). Não poderia ser diferente com a dupla da extrema direita.

Foi quimera que o rentista Guedes vendeu à opinião pública quando sugeriu, cinco dias atrás, que a economia brasileira estaria em plena recuperação, ingressando no que seria um novo ciclo de crescimento.

“Estamos com o crescimento subindo, a inflação descendo e retomando provavelmente agora um longo ciclo de crescimento. Num momento em que o mundo sincronizadamente desacelera, entrando em uma clínica de reabilitação após um período de excessos, o Brasil está saindo da clínica de reabilitação”, afirmou Guedes durante a abertura do Fórum de Investimentos Brasil 2019, em São Paulo.

No pântano da estagnação

Seria bom se não fosse quimera, ou quem sabe mais uma mentira, mais um Fake News, principal especialidade do governo neofascista. Todas as estatísticas sugerem o contrário do que diz o ministro, a começar pela persistência do desemprego em massa.  

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma “prévia” do PIB (Produto Interno Bruto), oscilou 0,07% em agosto em relação a julho, quando a economia brasileira recuou -0,16% sobre junho. Ou seja, é mais um sinal de que continuamos afogados no pântano da estagnação.

Na comparação com o mesmo mês de 2018, a atividade econômica medida pelo BC recuou 0,73% na série sem ajustes. Foi o pior agosto desde 2017. No ano, o índice registra um tímido avanço de 0,66%, muito distante das promessas de Jair Bolsonaro e seu guru econômico, que chegaram a falar em crescimento de 2,3% do PIB em 2019.

Política econômica

É preciso observar que a situação crítica da economia nacional não é normal nem pode ser atribuída exclusivamente a leis econômicas objetivas, que tornam inevitáveis as chamadas crises cíclicas do capital. Seria natural, na lógica que preside o processo de produção capitalista, que logo após a recessão sobreviesse um período de recuperação e forte crescimento.

Não foi o que ocorreu e a causa desta deformação do ciclo econômico, com a emergência de uma persistente estagnação, é a política de restauração neoliberal imposta após o golpe de 2016, com a contribuição nada desprezível da Operação Lava Jato, que destruiu as grandes empreiteiras e precipitou a construção civil no abismo, sacrificando milhões de empregos.

Além da reforma trabalhista, terceirização e outros retrocessos que enfraqueceram o mercado interno, destaca-se entre as muitas obras do golpe contraproducentes para a economia o draconiano regime fiscal fundado no congelamento dos gastos públicos por 20 anos à custa de cortes profundos nas despesas e investimentos públicos, que hoje estão quase zerados.

Austericício

Estudo da OIT de 2012 já alertava para o fato de que a austeridade fiscal estava agravando em vez de solucionar as crises econômicas e ampliando as vulnerabilidades dos países mais pobres onde foi imposta. Por isto, políticas de austeridade foram apelidadas pelos críticos de austericídio. Não diferem muito de um suicídio para quem as adota.

A tragédia grega é exemplar a este respeito.  Forçada pela chamada troika (FMI, BCE e UE) a realizar cortes dramáticos nos gastos e investimentos públicos, a Grécia parece ter dado adeus ao crescimento e foi condenada a pelo menos oito anos de depressão. Perdeu ¼ do PIB, retrocedendo décadas, e convive atualmente com uma taxa de desemprego de 19,2% e, distante anos-luz do equilíbrio fiscal, com uma dívida pública que equivale a 180% do PIB.  

O congelamento dos gastos e investimentos públicos não resolveu a crise fiscal. É um obstáculo ao crescimento que está condenando o Brasil e os brasileiros a uma depressão cujos custos sociais e geopolíticos são inestimáveis. Trata-se de uma política a serviço do capital financeiro, embalada no dogmatismo do Estado mínimo, que sacrifica impiedosamente os interesses do povo e da nação.

Umberto Martins