Notas iniciais sobre a política e a construção da resistência

A vitória de Jair Bolsonaro não deve ser vista como absoluta. Como se diz no sertão: é no trepidar da carruagem que as abóboras encontram seu lugar! Então, vejamos:

1) A frustração da massa que vota em Bolsonaro por conta da promessa de combater a violência, é certa como dois mais dois é igual a quatro. Isso deverá fazer o presidente, com seus métodos e postura, ser questionado (ele não parece ter nervos para isso);

2) As medidas econômicas de seu governo, sob desculpa de alcançar o “equilíbrio fiscal” empurrarão milhares para o desemprego, fome e miséria. Legiões de pedintes nas ruas não passam despercebidas aos olhos da classe média e elite higienistas (a disputa pelos espaços da cidade ganhará nova e mais cruel dimensão);

3) A forte presença de militares nos cargos do governo federal trará para à gestão pública civil práticas do quartel, caracterizadas por não permitirem contestações ou desobediência. A questão é que isso não se impõe de maneira mecânica ou sem reação jurídica ou política. Portanto, será tumultuada a gestão em alguns setores;

4) As mudanças na política educacional trarão enorme desconforto à população que perceberá o sucateamento e, provavelmente, o fim da gratuidade do ensino público. O Brasil não está preparado para aceitar isso sem forte contestação;

5) A Reforma da Previdência é item antipático para a população, a Greve Geral de abril de 2018 mostrou isso. Aprovar a mesma será motivo de grande desgaste aos envolvidos;

6) Mesmo tendo eleito grande bancada no Congresso, Bolsonaro deverá ter grandes dificuldades para negociar com a diversidade de interesses e, já dizem, lhe falta essa habilidade;

7) Se não vai ser fácil governar, o novo presidente deverá expor sua imagem e opiniões ao público do Brasil e do mundo. Vai se revelar aos seus eleitores despreparado, truculento e, principalmente, incompetente para dar cabo dos graves problemas da nação (tudo que ele evitou não indo aos debates);

8) O Movimento Social, especialmente o Sindical com sua realidade agravada pelos efeitos da reforma trabalhista, precisará se reinventar para avançar num item que reclama à muito tempo mas não consegue alcançar que é a construção da ampla unidade do povo. Essa noção de ampla unidade está muito além da composição institucional de cartas unificadas e atos conjuntos entre as entidades sindicais, ou estudantis e etc. É fundamental virar uma corrente de opinião, uma ideia força que faça o trabalhador e a trabalhadora fora do alcance das entidades (é a maioria) se sentirem nela representados e, assim, seu difusor.

9) O setor produtivo nacional será fortemente atingido pela ofensiva de corporações e conglomerados econômicos estrangeiros que estão a espreita para acelerar a compra de tudo que puderem por aqui. Empresas nacionais de grande e médio porte serão engolidas em pequeno espaço de tempo, tornando o governo central ainda mais incapaz de intervir com medidas que visem à construção de uma política econômica de caráter nacional. Diferente do que acham os eleitores Bolsonaro, a defesa da pátria deve ser primeira bandeira dos movimentos. O verde e amarelo, em seu significado superior, deve ser resgatado imediatamente pelos homens e mulheres que, de fato, são nacionalistas e pensam numa nação forte, soberana e democrática.

É verdadeiro afirmar que a democracia e o país estão sobre a mais feroz ameaça de todas, mas os elementos acima são somente alguns entre tantos outros que ilustram ou dão substância à ideia de que são muitas as fragilidades do governo que se iniciará ano que vem. Some a isso uma estrondosa votação de Haddad e Manuela D´Avila e é possível perceber solo fértil para forjar resistência que deverá se valer de tudo e de todos com inteligência, temperança, muita coragem e amor ao Brasil e seu povo.

Professor Elton Arruda é presidente da CTB-Piauí 

Título original: Brevíssimas notas iniciais sobre a política e a construção da resistência 

Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.

 

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