As mulheres no movimento sindical docente

A organização docente no Brasil se iniciou por volta dos anos de 1920, se ampliou a partir de 1970 com a criação das associações de professoras primárias, na maioria dos estados da federação e se consolidou com a promulgação da Constituição de 1988, que estendeu o direito de sindicalização aos servidores públicos.

A industrialização do Brasil exigiu a abertura de escolas primárias nas cidades pequenas e médias e a contratação de professores para atender a demanda. Como os salários não despertavam o interesse dos homens, que nessa fase já tinham a opção da indústria, a ocupação se deu pelas mulheres.

O recrutamento de mulheres para o magistério, em grande medida gozava de uma concepção que envolvia afeto, cuidado e voluntarismo, transformando o ato de ensinar num ato de amor, em que dele participavam somente pessoas vocacionadas, como destaca Guacira Louro (2011, p. 451): “o magistério era visto como uma extensão da maternidade, o destino primordial da mulher. Cada aluno ou aluna era representado como um filho ou filha espiritual e a docência como uma atividade de amor e doação a qual acorreriam aquelas jovens que tivesse vocação”. Desse modo o retorno econômico era secundário.

Essa concepção do magistério como vocação – em contraposição à profissionalização – é considerada um dos elementos que dificultou ou retardou a organização sindical docente no Brasil. Entretanto, a presença das mulheres no sindicalismo docente durante o associativismo, fase embrionária do sindicalismo, se revestia de relevante destaque, porém, na etapa seguinte, da consolidação do sindicalismo, foi reduzida e subordinada à presença masculina, que assumiu maior protagonismo no sindicalismo docente.

Mesmo sendo o magistério uma categoria profissional majoritariamente feminina, apesar de os sindicatos de trabalhadores em educação desde 1989 terem incorporado os funcionários de escola, a maior parcela desses profissionais também são mulheres, que atuam nas cozinhas, secretarias e bibliotecas, limpeza e apoio das escolas. A cultura patriarcal se faz sentir na condução dos rumos da entidade.

Os dados da Revista “Mátria” (CNTE, 2013, p. 51) demonstram que a partir da criação da CPB, em 1979, até os dias atuais, somente uma mulher chegou à presidência da Confederação – o que evidencia a segregação da figura feminina aos cargos de menor poder político. Segundo as pesquisas, a presença das mulheres na direção da CNTE oscilou de 23% na gestão de (1993/1995) a 67% na gestão de (2005 a 2008). O centro do poder (presidencia, secretaria de finanças e secretaria geral), foi ocupado pelas mulheres na gestão (1997 a 1999) quando estas atigiram 33% dos cargos e nas seguintes  (2002/2005 e 2005/2008)  atingem 67% , duas gestões presididas pela primeira e única mulher a ocupou tal cargo.

Ainda de acordo com a revista, as mulheres sindicalistas, para ganharem autoridade e notoriedade como dirigentes, precisam provar a todo o momento sua capacidade política, enquanto que para os homens não há tanta exigência. Como a sociedade é machista e patriarcal, as mulheres estão mais vulneráveis ao assedio moral e sexual, que também ocorre no meio sindical, onde os próprios companheiros do movimento as desrespeitam e reforçam o estereótipo que desqualifica a moral, a seriedade e honra da mulher.

Essas e outras publicações relacionadas ao sindicalismo docente dão conta de que as mulheres são mais suscetíveis ao desenvolvimento de campanhas, seja de adesão de filiados como de incorporação às temáticas que envolvem a diversidade de gênero, raça, etnia e orientação sexual ou de saúde e sexualidade, e procuram envolver o conjunto da direção nessas atividades que estão pra além da categoria e dialogam com o conjunto da sociedade.

Outra especificidade das mulheres no sindicalismo são as campanhas salariais, manifestações públicas e até mesmo nas greves. A maneira como lidam com tais questões expressa sua sensibilidade e preocupação com o conjunto da sociedade. As professoras se preocupam em dialogar com os pais e alunos em período de conflito, não se envergonham de realizar atividades que envolvam a mística ou o lúdico. Uma prática recorrente nas manifestações e/ou greves são os panelaços e apitaços, paródias e enterros simbólicos, à representações teatrais, concursos de poesias, etc.

Enfim, parafraseando Elizabeth Souza-Lobo, “a classe operária (trabalhadora, grifos meus) tem dois sexos, e existe um jeito masculino e um jeito feminino de fazer sindicalismo”.


Raimunda Gomes, a Doquinha, é professora e secretária de Imprensa e Comunicação da CTB.

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