As mortes no estádio do Corinthians

Por muitos dias a notícia da triste morte dos operários que trabalhavam nas obras do estádio do Corinthians irá repercutir. A cobertura midiática em uma tragédia como essa é compreensível por conta dos fatores envolvidos (futebol, Copa do Mundo, polêmica em torno de sua construção), mas também evidencia o pouco caso com que normalmente nossa imprensa retrata esse tipo de acidente.

Estudo do Ministério da Previdência mostra que mais de um trabalhador morre por dia em acidentes ligados ao setor da construção civil. O dado mais recente disponível, de 2010, mostra que naquele ano 438 operários faleceram no ambiente de trabalho. Contudo, o próprio governo federal considera que esses números são subestimados, já que os dados só se referem aos trabalhadores com carteira assinada.

Esse é um problema histórico do Brasil, mas que se tornou ainda mais grave nos últimos anos, com o “boom” imobiliário visto em todas as regiões do país. Na Bahia, o Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil (Sintracom-BA), filiado à CTB, informa que em 2013 já ocorreram 75 acidentes, sendo que cinco deles foram fatais. A entidade reforça a impressão do governo federal, ao dizer que muitos dos casos são resolvidos ou abafados pela própria empresa, para evitar maior repercussão

Ainda não estão confirmadas as identidades dos operários mortos nas obras da Arena Corinthians, mas especula-se que um deles era de uma empresa terceirizada. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, os trabalhadores terceirizados são os que mais sofrem com o risco de acidentes no país. Não por acaso, é na construção civil que essa combinação se mostra a cada ano mais danosa, por conta dos riscos envolvidos e pela política inadequada de grande parte das empreiteiras. Um dado ilustra com clareza esse cenário: a cada dez acidentes, oito envolvem trabalhadores terceirizados.

Se as empresas não possuem a conscientização necessária para oferecer segurança a seus funcionários – e tampouco para diminuir seus lucros astronômicos –, cabe ao poder público fiscalizá-las com rigor. No entanto, em todo o país a quantidade de auditores capacitados é ínfima perto da demanda. Esse quadro não é novo e raramente é discutido pela sociedade. Em geral, apenas alguns setores do governo e de entidade sindicais travam esse debate, que avança a passos lentos.

Enquanto isso, esse descaso se traduz, ano a ano, em centenas de trabalhadores e trabalhadoras soterrados, atingidos por descargas elétricas mortais e quedas de alturas elevadas. Falta de segurança no trabalho nunca se dá por obra do acaso. Cabe às empresas e também ao governo (na condição de grande empreendedor de obras, como as hidrelétricas e o Minha Casa, Minha Vida) a responsabilidade para enfrentar de modo constante essas constantes tragédias, e não somente quando tais problemas despertam a atenção da mídia.


Fernando Damasceno é jornalista, membro da equipe do Portal CTB.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.