As eleições de 2014 e a unidade popular

O Brasil e a CTB passaram por dura prova de fogo nas Eleições 2014. A mais jovem das centrais sindicais – surgida da união de comunistas, socialistas, marítimos e rurais – teve de fazer valer em situação excepcional a sua pluralidade e democracia interna, em busca de uma justa posição política da classe trabalhadora num momento de encruzilhada para o país.

O já complexo quadro de divisão na esquerda, no início, e a posterior morte trágica de Eduardo Campos – ainda não explicada – tornaram o processo eleitoral imprevisível e animaram as forças neoliberais para a ofensiva, com claro e gravíssimo risco de retrocesso. Acompanhamos o combate leal e difícil travado pelos verdadeiros socialistas no interior do PSB. E a maioria da CTB, que apoiou Dilma, não cessou de buscar ampliar a unidade das forças de esquerda, democráticas e patrióticas, o que se tornou possível no segundo turno. Esse percurso acidentado teve de aliar engajamento na batalha eleitoral e respeito à pluralidade e a democracia dos trabalhadores(as).

Vencemos a mais dura batalha eleitoral desde 1989, barrando o retrocesso neoliberal em um momento decisivo para a afirmação de um projeto soberano, democrático e popular. Todavia, exatamente por isso, abriu-se cruenta disputa em torno do conteúdo do um novo ciclo, que – como corretamente analisa Tarso Genro – encerra o iniciado com a Carta aos Brasileiros. Para mim, para além da economia, ela ilustrou outros “limites” da mudança iniciada com a eleição de Lula.

São os acordos:

– com o mercado financeiro e a sua política macroeconômica neoliberal (Juros SELIC altíssimos a remunerar os títulos da dívida pública e onerar o crédito; superávit primário a abocanhar recursos dos serviços públicos, também para a dívida pública; o regime de metas de inflação sob visão monetarista, com a retirada de recursos da economia real, passados à esfera especulativa);

– da democracia sem participação popular, com eleições empresarialmente financiadas, personalizadas e tuteladas pela imprensa;

– do poder dos veículos de comunicação atuais, num mercado monopolizado, construído pela Ditadura e reforçado na Nova República e nos anos neoliberais, à base de concessões clientelistas a políticos e negócios espúrios e nada transparentes com o Estado.

O resultado da batalha adveio em grande parte do corajoso discurso da Presidenta Dilma e da resposta que recebeu do povo e da militância, que se expressou concretamente numa corrente, majoritária, que se identifica com a mudança. Deve-se valorizar como a Presidenta denunciou as manipulações midiáticas, a “ética” seletiva da oposição, envolvida ela própria em inúmeros escândalos ontem, hoje e sempre. Dilma investiu contra a ganância dos banqueiros, fez o elogio da mobilização e da participação popular e pugnou pela defesa dos direitos, empregos e salários da classe trabalhadora e da educação, pela vida e o emprego para a juventude. Essa conjunto de respostas ganha importância porque consciente. Poderia a Presidenta eleger a conciliação como saída, e não o fez.

Diante dos graves episódios de corrupção na Petrobrás, reforçou-se a mobilização de todos os recursos do sistema político e econômico dominante, que recrudesceu sua mobilização, passando a assumir-se como uma camada da sociedade civil, de direita, com discurso raivoso que bebe na história de outras mobilizações golpistas, marcadas pelo conservadorismo, o ódio e pela apropriação hipócrita da legítima bandeira da luta contra a corrupção. Ora, quem é responsável pela estruturação do financiamento eleitoral empresarial tenta passar-se por ético, ao mesmo tempo que defende a manutenção das bases da corrupção!

A direita assume-se e há balões de ensaio para fazer que sua expressão ainda difusa, cristalize-se, como vemos nos fundamentalistas, no discurso do ódio, no “humor” covarde e antipopular, no discurso da imprensa das oligarquias e suas expressões eleitorais. Essa parcela aspira por protagonismo político, estreou como parte das mobilizações de junho de 2013, e segue um percurso formativo sob a batuta da imprensa golpista e do imperialismo, que assumem a sua condução.

Isto se relaciona a uma característica histórica e etária da geração de novos trabalhadores e estudantes, parcela majoritária da população economicamente ativa. Não vivenciaram a construção de momentos decisivos da história recente, não tiveram chance se organizar com uma perspectiva humanista, foram nutridos com as mentiras incessantemente propagadas pela imprensa golpista e sua tentacular propriedade cruzada, que também divide a intenet. O grande refluxo havido com o fim do socialismo europeu, o neoliberalismo (com ditadura ou democracia liberal) se expressou na subjetividade do individualismo, a imensa solidão em meio ao mundo hostil sob o capitalismo. Não se pode cobrar saberem lições que não lhes ensinamos. Disputar ideologicamente essa geração é inescapável: trabalhadores(as) e jovens, nossa base social, os maiores interessados no avanço do Projeto Nacional de Desenvolvimento com valorização do trabalho.

O terceiro turno em curso se ressente da disparidade de meios, da tibieza no seio da esquerda e da ausência de uma maior unidade e mobilização, fatores que foram enfrentados no quadro das condições da eleição, com protagonismo da Presidenta que, reeleita, tem sua própria missão, compor um governo viável, num quadro de crise econômica, maioria mambembe no Congresso e sob o fogo cruzado em torno dos acontecimentos da Petrobrás. O bombardeio midiático, a tentativa de mobilizar as bases eleitorais em torno das posições de direita, o golpismo descarado expõem a importância da unidade dos trabalhadores(as) para dar efetivo combate às posições de extrema direita, fascistas, homofóbicas, machistas, racistas, antipopulares, sem o que os setores que flutuam acabam por se vincular à onda conservadora que se quer gestar, com claro sentido golpista. É preciso expor as entranhas pútridas dessa direita golpista, sabuja e gringa, dar-lhe combate, e unir as forças do povo, da democracia e da defesa do Brasil. E o povo continua tendo lado, em apoio à Presidenta Dilma.Não podemos ser ingênuos quando a imprensa golpista explora as fragilidades na composição do governo e diante do cenário econômico para dividir o campo popular. Não é hora de vacilações, mas de reforço da liderança da Presidenta Dilma.

Foi maiúscula a vitória da reeleição da Presidenta Dilma. É preciso aquilatar corretamente a importância do protagonismo da CTB e da CUT para o período em curso, e já, para a batalha inaugural da posse no dia 1º de janeiro, em Brasília. Será o primeiro reencontro da imensa onda que a reelegeu, e também o palco da sanha desestabilizadora. É um confronto com data marcada. Trabalhadores, trabalhadoras, a juventude são chamados a um gesto de profundo impacto, a defesa das mudanças, da democracia e da vitória, e a preparação de uma Unidade Popular superior, para garantir a retomada da iniciativa política, dar combate à direita e avançar para a agenda de reformas que aprofundarão as mudanças no Brasil, colocando respostas concretas aos postulados que relacionamos acima, e que compõem os limites objetivos à mudança no Brasil. Só a Unidade Popular pode defender o mandato da Presidenta, responder à direita e unificar o povo para um novo ciclo de mudanças que desmonte as estruturas do rentismo, do monopólio da mídia e do sistema político, obstáculos poderosíssimos e ainda intocados nos primeiros 12 anos de mudança, alvos para a agenda reformista que una o povo contra esses terríveis inimigos do Brasil e de seu povo.

Paulo Vinícius é dirigente Nacional da CTB,  sociólogo e bancário (artigo originalmente publicado no Portal Vermelho)


Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.