Aécio escapará do mensalão tucano?

O Supremo Tribunal Federal decide nesta semana se o ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) será julgado pelo plenário da Corte por seu envolvimento no chamado mensalão tucano – que a mídia “privada” insiste em rotular de mensalão mineiro. Segundo o Estadão, “apesar do processo estar praticamente pronto para julgamento, há chances de a ação ser transferida à Justiça de Minas Gerais, porque Azeredo renunciou ao mandato de deputado federal em fevereiro”. Esta é a torcida da mídia amiga. Com isso, o processo seria remetido à primeira instância, com sério risco de sua prescrição, e Aécio Neves ficaria livre da dor de cabeça em pleno ano de sucessão presidencial.

O “implacável” Joaquim Barbosa, presidente do STF, até já poderia ter decidido pelo julgamento do caso – mais antigo do que o “mensalão petista” –, mas preferiu repassar o “pepino” para os outros dez ministros da casa. Isto apesar das provas contundentes contra o ex-governador mineiro, que tornam desnecessário até o uso da esdruxula tese do “domínio do fato”. Em documento enviado ao STF, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou elementos que confirmam a participação de Eduardo Azeredo no desvio de dinheiro público e sugeriu ao tribunal uma pena de 22 anos de cadeia. Temendo a prisão e rifado pelo PSDB, o atual deputado mineiro renunciou ao mandato!

A renúncia e a protelação do STF servem também salvar os tucanos de maiores danos políticos, principalmente num ano eleitoral. Em entrevista concedida à Folha, em setembro de 2007, o próprio Eduardo Azeredo garantiu que o esquema do Caixa-2 montado em Minas Gerais ajudou na campanha pela reeleição de FHC, em 1998. Naquele mesmo ano, Aécio Neves foi eleito, numa campanha milionária, o deputado mais votado do PSDB no estado e no país, com 185 mil votos. Como a mídia amiga parece que se esqueceu da confissão bombástica, vale reproduzir a entrevista feita pela repórter Andreza Matais:

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Folha: A Polícia Federal diz que houve caixa dois na sua campanha…

Eduardo Azeredo: Tivemos problemas na prestação de contas da campanha, que não era minha só, mas de partidos coligados, que envolvia outros cargos, até mesmo de presidente da República.

Que “problemas”?

Essas prestações de contas no passado eram mais uma formalidade, é hipocrisia negar isso, não existia rigor. O que se conclui é que no caso de Minas, a minha [prestação] foi a mais alta naquele ano, foi ela que se aproximou mais da realidade. E se concluiu que houve recursos a mais que não chegaram a ser formalizados.

O sr. acha que sua campanha custou quanto na verdade?

Os R$ 8,5 milhões que informamos e alguma coisa a mais que teve do empréstimo que eu não autorizei. Mas nunca perto dos R$ 100 milhões que estão falando.

Qual foi a participação do Walfrido [Mares Guia, já beneficiado com a prescrição do caso] na campanha do sr.?

Ele não foi coordenador [da campanha], o coordenador foi o ex-deputado Carlos Eloy, mas é evidente que o Walfrido participou da campanha ao meu lado ativamente.

De que forma? Na parte política ou na captação de recursos?

Participou da campanha como um todo.

A PF achou papéis em que o ministro fez anotações de valores arrecadados. Ele tem conhecimento dos valores não contabilizados?  

Acho que ele é quem deve explicar. Cabe a mim dizer que ele participou da campanha, mas não era coordenador.

Mas o senhor disse que ele participou de toda a campanha, o que me faz concluir que também da parte de arrecadação de dinheiro.

É evidente que ele tinha relações com pessoas que podiam apoiar a campanha.

Com relação ao empréstimo que o ministro Walfrido disse que pagou em seu nome por dívidas de campanha. O sr. pediu para ele?  

Como não tinha e não tenho até hoje posses que me garantam tirar empréstimo bancário maior, o Walfrido é que tirou o empréstimo, com meu aval para quitar a dívida.

O sr. vai pagar o ministro?  

Não. É uma dívida que foi quitada porque ele é meu amigo, continua sendo e tem condições de poder arcar com uma dívida dessas.

Com relação ao PSDB, o governador José Serra não quis comentar sobre o senhor.

Sempre tive apoio do partido e tenho total confiança de que terei o apoio necessário no momento necessário. Serra me deu não só solidariedade, mas apoio também.

O dinheiro da sua campanha financiou a de FHC em Minas?  

Sim, parte dos custos foram bancados pela minha campanha. Fernando Henrique não foi a Minas na campanha por causa do Itamar Franco, que era meu adversário, mas tinha comitês bancados pela minha campanha.

Por que o senhor acha que esse assunto voltou à tona agora?  

O PT colocou esse assunto no seu congresso porque não está satisfeito com a presença de um ministro [Walfrido] que não seja do seu partido e como compensação para o desgaste que o partido sofreu pela aceitação do STF de abertura do processo do mensalão.

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Diante das evidências do envolvimento de vários caciques tucanos no esquema de Caixa-2 de Minas Gerais, há dúvidas sobre qual será o comportamento do STF nesta semana. Alguns ministros temem que a decisão de remeter o caso à primeira instância desgaste ainda mais a imagem do Supremo. Ficaria comprovada a sua seletividade e parcialidade. “Dois mensalões”, dois pesos e duas medidas. Caso decida julgar agora o escândalo, com transmissão ao vivo na véspera da campanha eleitoral, a tendência é que voe pena de tucanos para todos os cantos. O efeito para Aécio Neves, o cambaleante presidenciável do PSDB, será pior do que o do bafômetro nas badaladas noitadas cariocas.

A mídia amiga já detectou o problema. Em matéria de 10 de março, a Folha alertou que o julgamento será explorado nas eleições e deverá causar forte ressaca ao mineiro. Segundo a reportagem, a missão de desgaste ficaria “a cargo de um exército na internet e da infantaria do PT no Congresso. ‘Mais que tucano, Aécio é mineiro, e como mineiro suas relações com o caso vão ser esmiuçadas’, diz o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR). A oposição ao tucano em Minas desembarcou no final do mês passado na capital federal munida de documentos e pedidos de investigação. ‘O mensalão está na testa do Aécio, só não vê quem não quer’, diz o deputado estadual Rogério Correa (PT-MG)”.

Entre os documentos já disponíveis está uma lista em que Aécio Neves aparece como beneficiário de R$ 110 mil do Caixa-2 que abasteceu a campanha de Eduardo Azeredo em 1998. O texto é atribuído ao então tesoureiro da campanha tucana, Cláudio Mourão, que nega sua autoria. O PSDB garante que a lista é falsa, mas a Polícia Federal e a Procuradoria reconheceram a autenticidade da assinatura do ex-tesoureiro e afirma não haver indícios de montagem. Outro ponto que será explorado na campanha são os contratos firmados pelo ex-governador Aécio Neves com as agências de Marcos Valério. Em 2004 e 2005, a SMP&B e a DNA receberam R$ 27,2 milhões em contratos de publicidade.


Altamiro Borges é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.

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