Advogar a conciliação com Bolsonaro é como pregar no deserto

Na tarde desta terça-feira (26) o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, fez um discurso recheado de boas intenções que conclui pregando o desarmamento dos espíritos e uma espécie de reconciliação nacional, com harmonia entre os três poderes e união das forças sociais e políticas em nome do combate ao coronavírus.

Seria sensato, não fosse fato que o chefe do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro, está cansado de demonstrar que não quer saber de conciliação.

Para o presidente e seu braço direito, general Augusto Heleno, conciliação só vale como sinônimo de capitulação. Isto ficou uma vez mais comprovado hoje na deflagração de uma guerra contra os governadores com o auxílio de uma PF que aparentemente foi domada após as mudanças na direção geral e na equipe carioca da instituição.

Enquanto isto, a pandemia segue matando. O número de vítimas fatais por Covid-19 no Brasil deve passar de 125 mil no começo de agosto, de acordo com uma previsão do Instituto para Métricas de Saúde e Avaliação (IHME, na sigla em inglês), ligado à Universidade de Washington, nos Estados Unidos.

O Ministério da Saúde (MS) divulgou nesta terça-feira (26) o mais recente balanço da tragédia decorrente do novo coronavírus no Brasil. Foram registradas 24.512 mortes, um acréscimo de 1.039 registros em 24 horas, e 391.222 casos confirmados, um acréscimo de 16.324

“E daí?”, continua indagando Bolsonaro.

Leia abaixo artigo do jornalista Alex Solnik sobre a operação policial no Rio intitulado Bolsonaro nem disfarça: parabeniza o novo chefe da PF pela ação contra Witzel (extraído do 247)

Bolsonaro nem disfarçou. Deu os parabéns à PF, ou seja, à nova administração, sob comando de Alexandre Rolando de Souza, recém-nomeado por ele pela Operação Placebo contra Wilson Witzel, a quem chamou de “estrume” na já famosa reunião ministerial.

Para completar a ópera bufa, a deputada Carla Zambelli, que vem se firmando como a primeira-dama do bolsonarismo, com a debandada de Joice Hasselmann insinuou que sabia com antecedência o que iria acontecer, abrindo brecha, inclusive, para a operação ser anulada, por vazamento.

Mas, enfim, o   que aconteceu com Witzel é pedra cantada.

Na manhã de 22 de abril, Bolsonaro anunciou ao seu ministro da Justiça, Sergio Moro, via twitter que Mauricio Valeixo, chefe da Polícia Federal seria exonerado, mesmo contra a vontade de Moro, porque não lhe passava informações e ele queria alguém com quem pudesse interagir.

Dois dias depois, a 24 de abril, a exoneração de Valeixo foi publicada no Diario Oficial e a seguir Moro renunciou ao ministério.

Bolsonaro tentou nomear Alexandre Ramagem, logo seguir, mas o ministro do STF Alexandre de Moraes não deixou, razão pela qual somente no dia 4 de maio Bolsonaro nomeou o substituto de Valeixo, Alexandre Rolando de Souza, braço-direito de Ramagem na Abin, em cerimônia relâmpago no Palácio do Planalto, envolta em sombras e suspeitas.

No mesmo dia 4, o novo chefe da PF fez aquilo que Bolsonaro esperava ansiosamente: exonerou o chefe da PF no Rio, mas, para disfarçar o objetivo, o promoveu a segundo homem na hierarquia.

Ainda no dia 6, Alexandre Rolando de Souza anunciou Tácio Muzzi em lugar de Carlos Henrique de Oliveira na PF Rio, mas sua nomeação saiu somente ontem.

Levando-se em conta que Bolsonaro já havia revelado várias vezes, com aquela franqueza que lhe é peculiar, que o que esperava da PF era que protegesse seus parentes e aliados e fustigasse seus inimigos, e o informasse de investigações de seu interesse, não há como não entender que a Operação contra Witzel foi a segunda lição de casa de Alexandre Rolando de Souza, pela qual ganhou um dez do professor.