A política externa do governo Lula e o desenvolvimento nacional

O presidente Lula já deu início a uma completa reversão da política externa brasileira. Começou reintegrando o Brasil à Celac (Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos) e anunciando o propósito de reinaugurar o projeto de integração democrática e soberana dos países que compõem a comunidade, que exclui dos seus quadros apenas os Estados Unidos e o Canadá, ou seja, as duas potências imperialistas com histórico de ingerência militar, bem como econômica e política nos países mais pobres.

Desde o golpe de Estado desfechado pela direita em 2016, que afastou Dilma Rousseff da Presidência para nela instalar o usurpador golpista Michel Temer, a política externa brasileira sofreu uma inflexão com o Itamaraty dando as costas para a América Latina e o Caribe para mais uma vez ficar de joelhos e descalço perante os EUA e União Europeia.

Jair Bolsonaro aprofundou esta orientação. Chegou ao ponto de bater continências à bandeira dos EUA em Washington, instalou na chefia das Relações Exteriores um trumpista fanático e negacionista chamado Ernesto Araújo, que submeteu a política externa do país à ideologia neofascista e comprou briga gratuita com a China, Venezuela e Argentina.

Retrocessos

Bolsonaro retirou o Brasil não só da Celac, como também da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). Contribuiu significativamente para enfraquecer o Mercosul, ofendeu a China e esnobou o Brics. Finalmente, o chefe da extrema direita conseguiu a proeza de ficar incompatibilizado com um grande número de chefes de Estado e nações, isolar o Itamaraty e transformar o Brasil num pária internacional com sua política de destruição do meio ambiente e nações indígenas.

Tudo isto está sendo rapidamente revertido pelo presidente Lula, que tem pressa em restabelecer o generoso e promissor projeto de integração regional dos povos e nações da região, lançado na época em que Hugo Chávez liderava a Venezuela.

A recente viagem do presidente à Argentina foi mais um passo largo neste direção, marcado pela reintegração do Brasil à Celac, a normalização das relações com o governo de Nicolás Maduro na Venezuela, que indicou como embaixador no Brasil um diplomata que Bolsonaro declarou persona non grata.

Com tudo isto, o golpista Juan Gaidó, um lacaio do imperialismo desprezado pelos venezuelanos que se autoproclamou presidente com o apoio e a assessoria dos EUA, fica ainda mais isolado e desmoralizado.

No dia 11 de junho de 2022 internauta gravou o momento em que o golpista Guaidó, testa de ferro de Washington, foi hostilizado e expulso aos empurrões de um restaurante na cidade de Cojedes, na Venezuela

Diplomacia e desemprego

As relações internacionais estão entrelaçadas com o desenvolvimento nacional. A diplomacia pode favorecer ou prejudicar o desenvolvimento nacional. A política externa inaugurada pelo golpista Temer, levada ao extremo pelo fascista Jair Bolsonaro, foi um dos fatores que levaram a economia brasileira ao fundo do poço, com taxas de desemprego recordes e o retorno do Brasil ao Mapa da Fome da ONU.

As iniciativas de integração da América Latina e Caribe, o fortalecimento do Mercosul e dos laços econômicos, culturais e políticos dos povos, da Unasul e da Celac interagem com o projeto de reindustrialização do Brasil, anunciado pelo governo. O restabelecimento das boas relações dentro do Brics e a ampliação do bloco são duas outras mudanças que devem ser implementadas pelo governo.

A integração econômica e política, à margem dos EUA e de sua geopolítica imperialista, é o caminho para o desenvolvimento econômico e social do Brasil e dos demais países da Celac, com base em complementariedades produtivas e diferentes potenciais e vocações produtivas. É também essencial para manter a paz, a segurança regional e a democracia.

“O Brasil não pode crescer sozinho, tem que crescer junto com todos da América do Sul”, afirmou Lula. “Nada deve nos separar, já que tudo nos aproxima. Nosso passado colonial. A presença intolerável da escravidão que marcou nossas sociedades profundamente desiguais. As tentações autoritárias que até hoje desafiam nossa democracia. Mas também a imensa riqueza cultural dos nossos povos indígenas e da diáspora africana. A diversidade de raças, origens e credos. A história compartilhada de resistência e de luta por autonomia. Tudo isso nos faz sentir parte de algo maior e alimenta nossa busca por um futuro comum de paz, justiça social e de respeito na diversidade.”

“A integração com o resto do mundo será feita em melhores termos se estivermos bem integrados em nossa região”, defendeu, para em seguida reafirmar: “Julgamos essenciais o desenvolvimento e o aprofundamento dos diálogos com sócios extrarregionais, como a União Europeia, a China, a Índia, a Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático) e, muito especialmente, a União Africana.”

Conforme notou o presidente argentino, Alberto Fernández, “Lula é um ator central para garantir a unidade e a integração regional de nossos povos”.

O governo brasileiro também decidiu retirar o Brasil do chamado Consenso de Genebra, um bloco reacionário criado em 2020 sob liderança de Jair Bolsonaro, com uma agenda de destruição e restrições de políticas de saúde sexual e reprodutiva.

Umberto Martins